A Nova Era da Consultoria Financeira: Ética, Transparência e o Interesse do Investidor
No dinâmico universo financeiro, a regulação vem desempenhando um papel vital na transformação das relações entre consultores e seus clientes. Uma pergunta se destaca nesse cenário: como assegurar que as recomendações de investimento sejam realmente feitas em benefício do investidor e não motivadas por interesses do próprio profissional?
Esse tema foi abordado na palestra “Conflitos de Interesses em Atividades Reguladas: A Fronteira entre a Consultoria de Valores Mobiliários e a Assessoria de Investimentos”, que ocorreu durante o Congresso Planejar 2025, nesta terça-feira (4). O evento reuniu autoridades da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), representantes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), e especialistas do âmbito jurídico e de certificação para um debate enriquecedor sobre a crescente importância da ética e do alinhamento de incentivos.
Remuneração e a Necessidade de Independência
De acordo com André Pássaro, superintendente de relações com o mercado da CVM, a recente evolução das normas regulatórias mudou significativamente a dinâmica entre assessores e intermediários. “As alterações têm criado um ambiente onde o assessor pode operar com múltiplos intermediários, em vez de estar atrelado a um único,” explica.
O Impacto da Flexibilidade
Essa flexibilidade trouxe consigo não apenas mais competição, mas um novo conjunto de dilemas. Pássaro destaca que a forma como os profissionais são remunerados continua a ser um terreno fértil para conflitos. Muitos escritórios estão optando por deixar o sistema de comissões atreladas a vendas e, em vez disso, seguindo para modelos de remuneração fixa. Essa transição tem como objetivo principal:
- Reduzir incentivos de curto prazo.
- Alinhar os interesses do consultor com os do cliente.
O diferencial nesse novo contexto, segundo Pássaro, é entender profundamente o cliente e construir um relacionamento duradouro, ao invés de simplesmente buscar vendas imediatas de produtos.
Ética e Boa-fé: O Compromisso de Educar e Denunciar
Durante a palestra, a procuradora federal da CVM e professora da GVLaw, Ilene Najjarian, enfatizou que a ética vai além de um simples código moral; trata-se de uma obrigação legal. A Lei 179, por exemplo, complementa a 178 e deixa claro que os profissionais devem agir com ética e boa-fé.
Visão Holística do Cliente
Para evitar conflitos de interesse, Ilene defende que o planejador financeiro deve desenvolver uma visão holística do cliente, levando em consideração aspectos como:
- Perfil de risco.
- Conhecimento sobre investimentos.
- Tolerância emocional a oscilações de mercado.
Ela destaca a importância de entender se o investidor tem “estômago” para suportar as flutuações de investimentos mais arriscados. Além disso, Ilene ressalta a relevância de controles internos, especialmente em grandes instituições financeiras que lidam com produtos complexos. A vigilância é essencial, e qualquer indício de conflito deve ser monitorado e comunicado à CVM.
Essa postura proativa não só educa o mercado, mas também é fundamental para fortalecer a confiança dos investidores.
O Papel Sólido da Anbima e a Importância da Comunicação
Tatiana Itikawa, superintendente de Representação de Mercado da Anbima, falou sobre os esforços da entidade para padronizar a forma como as informações são apresentadas aos investidores. “Estamos colaborando com a CVM em modelos de padronização de comunicação. A jornada é longa, mas é vital que tornemos as informações mais claras e acessíveis,” aponta.
Centralidade do Investidor
Tatiana enfatiza que o foco da Anbima é a centralidade do investidor, um princípio que rege diversas iniciativas de educação financeira.
- O consultor pode sim recomendar produtos próprios, desde que informe claramente que se trata da melhor opção disponível.
Ela ainda salienta que a educação financeira não deve ficar restrita ao público final, mas deve também ser estendida aos profissionais do mercado. Esses especialistas precisam estar aptos a traduzir a complexidade dos produtos em uma linguagem simples e clara.
Confiabilidade em Meio à Regulação: O Novo Desafio
A mensagem que permeou a palestra foi clara: os conflitos de interesse são inevitáveis, mas devem ser geridos com ética, transparência e foco no cliente. O futuro da consultoria financeira está se afastando de regras rigorosas e caminhando para uma construção de credibilidade, que cada profissional deve cultivar em sua relação com o investidor.
Como bem sintetizou André Pássaro: “É hora de deixarmos de lado a busca pelo resultado imediato e passarmos a olhar para o longo prazo.” Essa mudança de mentalidade é fundamental.
Confiança como Ativo
Neste cenário repleto de desafios, a ética e a confiança não são apenas valores a serem seguidos, mas sim vantagens competitivas que os profissionais do mercado devem cultivar. A confiança se tornou o ativo mais importante, essencial para construir relações duradouras e saudáveis entre consultores e investidores.
Reflexões Finais
No universo financeiro, o verdadeiro sucesso não é medido apenas por resultados imediatos, mas pelo impacto duradouro que as decisões financeiras têm na vida dos investidores. À medida que as normas evoluem e se tornaram mais rigorosas, os profissionais mais bem-sucedidos serão aqueles que não apenas compreendem a regulação, mas que também elevam a ética e a transparência a um novo patamar.
Este é um convite à reflexão: como você pode, em sua jornada financeira, agir com mais ética e responsabilidade, e ainda buscar se tornar um agente de mudança positiva no mercado?
Compartilhe suas ideias e experiências, e contribua para essa conversa vital em um tempo onde a confiança é mais necessária do que nunca.




