Avisos sobre a situação na Síria: uma análise atualizada e adaptada.
O recente colapso do governo sírio levantou preocupações sobre a possível ressurreição do ISIS, grupo que havia dominado partes significativas da Síria há cerca de dez anos.
O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, expressou seus receios logo após a desintegração do regime de Bashar al-Assad, destacando que “a história nos ensina que momentos de otimismo podem rapidamente se transformar em episódios de violência.” Ele enfatizou que o ISIS poderia tentar aproveitar esse vácuo de poder para se reerguer.
Matthew Bryza, ex-funcionário da Casa Branca e do Departamento de Estado, acredita que a capacidade do grupo de retornar à ativa está diretamente ligada à capacidade do novo governo sírio de estabelecer sua autoridade e criar uma força militar nacional que possa garantir a segurança no país.
O ISIS, que se originou de ideologias da Al-Qaeda, chegou a controlar vastas regiões da Síria e do Iraque entre 2014 e 2017. Desde a coalizão de forças lideradas pelos EUA, junto a aliados curdos, sua presença na Síria foi significativamente reduzida. Em 2019, o grupo sofreu um duro golpe com a morte de seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, durante uma operação militar americana.
A Resposta dos EUA
No dia 8 de dezembro passado, o regime sírio caiu sob um ataque rebelde apoiado pela Turquia, liderado pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que é considerado uma organização terrorista pelos EUA. Na mesma data, forças americanas realizaram uma série de ataques aéreos, alvejando líderes e campos de operação do ISIS na região central da Síria, com o objetivo de evitar que o grupo se reagrupasse.
Uma semana após esses eventos, mais ações militares foram realizadas, onde vários membros do ISIS foram eliminados. Os EUA, que mantêm cerca de 2.000 soldados na Síria, têm a missão de continuar essa luta contra o grupo terrorista, apesar das promessas anteriores de retirada feitas por Donald Trump. O atual secretário de Defesa, Lloyd Austin, reafirmou que as tropas americanas estarão prontas para permanecer no país enquanto o ISIS representar uma ameaça.
Austin destacou a relevância das forças dos EUA para proteger campos de detenção no nordeste da Síria, onde estão incomunicados milhares de antigos combatentes do ISIS e suas famílias. “Ainda temos trabalho a fazer em manter o ISIS sob controle”, afirmou ele.
Os Campos de Detenção: Um Desafio Internacional
Existem dezenas de milhares de pessoas detidas em campos geridos pelas Forças Democráticas da Síria (SDF), um grupo liderado por curdos que é apoiado por Washington. Segundo um relatório da Anistia Internacional, cerca de 56.000 indivíduos estão nesses locais, muitos deles apreendidos de forma arbitrária e sob condições desumanas.
A questão das detenções e dos campos tornou-se uma fonte de tensão nas relações entre os EUA e seus aliados. Desde a derrota territorial do ISIS, os EUA têm pressionado outros países para que repatriem seus cidadãos detidos. Em declarações recentes, pessoas como Sebastian Gorka, escolhido por Trump para coordenar ações antiterrorismo, defendem que o Reino Unido deve trazer de volta seus cidadãos que se encontram nestes campos.
“Nations that seek to be seen as serious allies of the world’s most powerful nation must reflect that commitment,” disse Gorka.
No entanto, um porta-voz do governo britânico reafirmou que a segurança nacional do Reino Unido é a prioridade máxima, o que levanta questões sobre a disposição de outros países em lidar com seus nacionais detidos.
Matthew Bryza sugere que as opções para lidar com essa situação de complexidade extrema são limitadas: “Essas pessoas podem ou permanecer nos campos indefinidamente ou ser repatriadas.” A lógica por trás da proposta de Gorka é que, se as nações defendem uma importante aliança com os EUA, devem agir de acordo.
Cabe ressaltar que, enquanto algumas nações hesitam em repatriar cidadãos, o tempo avança e o problema persiste. O ex-diplomata turco Ayhan Doganer observa que a questão das detenções é, de fato, um “problema internacional”, sinalizando que sua resolução não será simples e requererá colaboração mútua.
A Ideologia em Jogo
A nova situação na Síria é ainda mais complicada pela ascensão do HTS, que tem raízes ideológicas no próprio ISIS. A percepção ocidental sobre esse grupo se torna incerta, pois seu líder, Ahmed al-Sharaa, possui um passado ligado a Al-Qaeda e à Frente Nusra. Isso gera desconfiança sobre suas intenções reais e seus esforços contra a ideologia extremista.
“O fato de al-Sharaa ter lutado contra ISIS e Al-Qaeda é positivo, mas a dúvida sobre quão sinceros são seus interesses persistem”, analisou Bryza.
Doganer complementa a discussão ao afirmar que tanto o HTS quanto o ISIS compartilham ideologias semelhantes, o que pode dificultar a confiança ocidental em seus compromissos com o futuro da Síria.
O desafio será permitir que o HTS estabeleça um caminho claro para a moderação e demonstre um compromisso que possa conquistar a aprovação ocidental sem alienar facções mais radicais dentro de suas fileiras.
“Estamos diante de um longo e delicado processo em que o HTS precisará provar sua disposição em combater a radicalização”, conclui Doganer.
À medida que a situação na Síria evolui, a atenção do mundo não pode se desviar da importância de se entender profundamente as ramificações geopolíticas que se desenrolam na região. Como cidadãos globais, qual deve ser nossa postura em relação a esses eventos? Como podemos contribuir para soluções que promovam a paz e a segurança internacional?
Reportagem baseada em contribuições de Reuters e Associated Press.
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