Início Economia Recessão Global: Ainda Uma Realidade ou Caminhamos para um Pouso Suave?

Recessão Global: Ainda Uma Realidade ou Caminhamos para um Pouso Suave?

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No final de 2022, o consenso entre economistas era claro: o mundo enfrentaria uma recessão em 2023. A Europa, lidando com os impactos da guerra, a escassez de gás e a alta inflação, seria a primeira a sentir os efeitos, seguidos pelos Estados Unidos, onde o aumento agressivo das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed) deveria contrair o mercado imobiliário, reduzir o consumo e aumentar o desemprego.

A projeção era tão consolidada que, pela primeira vez, 65% dos economistas entrevistados pela Bloomberg previam uma recessão nos próximos 12 meses, algo inédito antes mesmo de ela se iniciar. Contudo, como é típico, o mercado global parece disposto a desafiar essas expectativas.

Os primeiros meses de 2023 contam uma história diferente. Bolsas globais registraram desempenhos notáveis: o S&P500 subiu quase 8%, o Nasdaq cerca de 14%, a Europa +11% e a Ásia +7%. Ativos mais arriscados, como Bitcoin e Ethereum, dispararam mais de 30%. Para muitos, é difícil reconciliar esses ganhos expressivos com a iminência de uma recessão.

O que explica essa recuperação?

Alguns fatores sustentam a alta dos mercados:

  1. Resiliência Econômica Global: Dados recentes mostram força surpreendente no mercado de trabalho e consumo tanto nos EUA quanto na Europa.
  2. Reabertura da China: O fim da política de Covid zero deve impulsionar não apenas a economia chinesa, mas também países que dependem de sua atividade econômica, como Brasil e Alemanha.
  3. Desaceleração da Inflação: Indicadores nos EUA sugerem um arrefecimento nos preços, e o Fed já sinalizou que pode mudar sua postura se essa tendência continuar.
  4. Queda nos Preços de Energia: A estabilização da oferta e da demanda levou a uma expressiva redução nos preços do gás natural na Europa e manteve o petróleo abaixo de US$ 90 por barril.
  5. Pessimismo Previamente Exagerado: Muitos investidores começaram o ano excessivamente pessimistas e posicionados defensivamente, o que amplificou o rali à medida que ajustaram suas carteiras para não perderem a alta.

Recessão ou Pouso Suave?

Apesar do otimismo recente, é cedo para descartar uma recessão. A economia global está em uma encruzilhada:

  • Inflação Persistente: Um mercado de trabalho ainda aquecido nos EUA pode dificultar a volta da inflação à meta de 2% do Fed, pressionando os bancos centrais a continuarem aumentando os juros.
  • Risco de Recessão: Uma deterioração repentina da economia global poderia reduzir a inflação, mas às custas de uma retração econômica significativa.
  • Cenário Ideal: O chamado “pouso suave” (soft landing), em que a inflação se alinha às metas sem necessidade de uma recessão, seria o melhor dos mundos – mas não há garantia de que esse cenário se materialize.

O Brasil no Contexto Global

Enquanto os mercados globais celebram ganhos, o Brasil ficou para trás. O índice Bovespa praticamente não registrou avanços em 2023, e o Real tem sido uma das moedas com pior desempenho em relação ao Dólar nos últimos meses, superando apenas países como Argentina, Rússia e Turquia. Paralelamente, o custo do dinheiro, medido pela curva de juros futuros, continua subindo.

Os desafios locais, como incertezas fiscais e políticas econômicas pouco alinhadas, limitam o aproveitamento das condições externas favoráveis. Enquanto o mundo busca o equilíbrio entre crescimento e inflação, o Brasil precisa resolver suas questões internas para não desperdiçar oportunidades no cenário global.

O futuro ainda é incerto, mas o caminho a ser traçado, seja no Brasil ou globalmente, dependerá da habilidade dos formuladores de políticas econômicas em lidar com os riscos e explorar as oportunidades de um mundo em transformação.

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