O Legado de Trump e o Futuro dos Acordos de Abraão
Os esforços do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, para deixar sua marca no Oriente Médio continuaram mesmo após sua saída da Casa Branca. No mês passado, em Doha, Jason Greenblatt, que foi enviado especial de Trump para a região, afirmou que "não é impossível que o Presidente Trump esteja interessado em ampliar os Acordos de Abraão". Esses acordos, estabelecidos em 2020 entre Israel e várias nações árabes, como Bahrein, Marrocos e Emirados Árabes Unidos, são considerados uma das grandes vitórias da política externa de Trump, ganhando elogios tanto de seus aliados quanto de opositores, incluindo o presidente Joe Biden.
A Evolução dos Acordos de Abraão
Biden, por sua vez, não apenas deu continuidade aos Acordos de Abraão, mas também buscou expandi-los, almejando um histórico acordo de normalização com a Arábia Saudita. O prêmio para os sauditas? Uma melhoria significativa na parceria estratégica com os EUA, semelhante à dos aliados da OTAN. Um acordo desse tipo representaria um grande avanço nas relações árabe-israelenses, podendo incentivar outros países árabes a seguir o mesmo caminho.
No entanto, essa estratégia para a paz não leva em consideração a questão palestina. Por décadas, o consenso entre os Estados árabes foi que a normalização com Israel só ocorreria após a criação de um Estado palestino independente. Assim, os acordos entre Bahrein, Marrocos e os Emirados foram uma mudança brusca, despojando os palestinos de uma parte fundamental de sua influência. A escalada de conflitos, especialmente após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, deixou claro que a questão palestina não pode ser ignorada no processo de normalização.
Desafios e Oportunidades
Apesar das dificuldades, Trump parece determinado a levar adiante a obra iniciada em seu primeiro mandato, buscando um mega-acordo EUA-Arábia Saudita-Israel. Neste cenário, a modernização de Israel e uma diminuição da importância da causa palestina ainda parecem ser prioridades para Trump. Para ele, a integração de Israel na região é mais crucial do que as reivindicações palestinas, um ponto de vista que, para muitos, é problemático. “Pensar que o conflito israelo-palestino é o início e o fim de tudo é um erro”, disse Greenblatt.
Esse ponto de vista, no entanto, é criticado por diversos especialistas e ativistas. Ao contrário do que muitos acreditam, a resolução do conflito israelo-palestino é vista como um pré-requisito para a paz e segurança na região. A crença de que a marginalização dos palestinos traria a estabilidade desejada foi desmentida por recente eventos de violência.
A Realidade dos Acordos de Abraão
Os Acordos de Abraão, apesar de serem considerados um triunfo diplomático, baseiam-se em várias suposições que podem não se concretizar. O entusiasmo inicial em torno desses acordos em 2020 parecia mais uma necessidade política em Washington e outras capitais ocidentais do que uma verdadeira estratégia para a paz no Oriente Médio.
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Pressão para a Normalização: Antes dos Acordos de Abraão, havia uma pressão significativa para que os Estados árabes normalizassem suas relações com Israel. Essa pressão, no entanto, muitas vezes ignorou as preocupações legítimas dos palestinos.
- Ouvidores Silenciosos: Sem a pressão dos vizinhos árabes, os palestinos se tornaram ainda mais vulneráveis no seu já desigual conflito com Israel. Os acordos retiraram dos palestinos uma pressão vital que poderia ter incentivado uma solução pacífica.
As Consequências da Normalização
Os Acordos de Abraão acabaram por reforçar uma situação de impunidade e maximalismo israelense, resultando em uma escalada de ocupações e conflitos. A violência contra os palestinos, a expansão de assentamentos e os ataques frequentes em Gaza aumentaram após a assinatura dos acordos.
Não só os países envolvidos nos Acordos de Abraão, como Bahrein, Marrocos e Emirados, não exerceram sua influência sobre Israel para parar a violência, mas também fortaleceram laços econômicos com Israel, em vez de interceder pelos palestinos.
O Futuro Sob o Olhar de Trump
Atualmente, a administração Trump enfrentará desafios ao tentar trazer a Arábia Saudita de volta à mesa de negociações. O clamor internacional por uma resposta à crise humanitária em Gaza e a pressão popular nas nações árabes aumentaram significativamente. O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (MBS) agora exige ações concretas em vez de meras promessas retóricas.
O cenário atual revela que, se o apoio tradicional da Arábia Saudita à causa palestina não for respeitado, o movimento em direção à normalização será ainda mais complicado. A guerra em Gaza, com suas imagens devastadoras, danificou a imagem de Israel e causou um afastamento de aliados, até mesmo em países que antes eram solidários aos Acordos de Abraão.
Um Novo Rumor de Paz?
A proposta de um cessar-fogo recente poderia ser um passo para um diálogo renovado entre Arábia Saudita e Israel, mas o preço para tal negociação agora inclui exigências claras para o reconhecimento dos direitos palestinos e um movimento efetivo rumo a um Estado palestino.
Essa dinâmica demonstra que a normalização não pode acontecer em um vácuo; deve haver um reconhecimento e um compromisso em relação à questão palestina. A atual postura dos líderes árabes em relação a Israel aponta para um afastamento da normalização enquanto as situações de injustiça continuarem a ser ignoradas.
Reflexões Finais
Os Acordos de Abraão foram uma tentativa de criar um novo paradigma no Oriente Médio, mas a realidade prova que a paz não pode ser alcançada ignorando as questões centrais do conflito. Ignorar as necessidades e direitos dos palestinos resultou em uma crescente instabilidade que afetou todos os envolvidos.
Agora, mais do que nunca, a questão palestina deve ser uma prioridade nas mesas de negociações e nas escolhas políticas das nações envolvidas. Como os acontecimentos atuais demonstram, a paz verdadeira não é apenas um papel assinado, mas um compromisso com a justiça e a dignidade para todos os povos da região. O desafio à frente para Trump, Biden e outros líderes será garantir que tais compromissos sejam respeitados e implementados de forma efetiva, criando um caminho real para a paz e a estabilidade duradoura no Oriente Médio.