A Tempestade de Ameaças em Torno do Documentário “Órgãos do Estado”
A produção cinematográfica e a liberdade de expressão enfrentam um desafio crescente. Recentemente, um documentário canadense, intitulado “Órgãos do Estado”, se tornou o alvo de ameaças alarmantes. Em menos de dois meses, cerca de uma ameaça foi recebida a cada dois dias, direcionada a jornalistas, teatros, autoridades policiais e legisladores, tanto nos Estados Unidos quanto em Taiwan. O principal objetivo por trás dessas ameaças? Impedir a exibição de um filme que expõe a sombria prática da coleta forçada de órgãos no regime comunista da China.
O que é “Órgãos do Estado”?
Esse documentário, que já é um dos concorrentes ao Oscar 2025, conta a dolorosa história de duas famílias que buscam seus parentes desaparecidos na China. O filme revela a terrível realidade da coleta forçada de órgãos, uma prática extremamente censurada pelo governo chinês. Desde sua estreia em outubro, o documentário foi exibido em 15 cidades de Taiwan e em cidades como São Francisco e Nova Iorque.
Ameaças de Violência e Intimidação
Recentemente, uma série de ameaças, algumas acompanhadas de imagens de armas e explosivos, foram enviadas a cinemas programados para exibir o filme. Um e-mail, por exemplo, alertava uma produtora de um cinema em Taipei sobre a presença de explosivos em suas instalações, caso uma matéria sobre o documentário não fosse retirada. Outro e-mail continha uma mensagem clara: os espectadores seriam alvos se as exibições continuassem.
O Departamento de Investigação Criminal de Taiwan esteve à frente deste caso. Após investigar as ameaças, intensificou a segurança nos eventos sem encontrar evidências de que as ameaças fossem reais. A polícia classificou esse padrão de comportamento como típico de campanhas de assédio cibernético oriundas da China continental.
Reflexões do Diretor sobre a Realidade
Raymond Zhang, o diretor do filme, observou que os métodos de intimidação que sua equipe está vivendo ecoam a repressão enfrentada pelas famílias de vítimas de coleta forçada de órgãos na China. Ele declarou ao Epoch Times que as ameaças são reflexos de uma história muito mais ampla de encobrimento e controle das autoridades chinesas.
"O que aconteceu com as famílias das vítimas é semelhante ao que está acontecendo agora [nos Estados Unidos]", afirmou Zhang.
A equipe de produção planeja coletar todas as ameaças recebidas para entregá-las às autoridades competentes.
Mobilização e Resiliência
Perante a pressão, o documentário se tornou um símbolo da luta pela liberdade de expressão. Mesmo após as ameaças, cinema e legisladores locais se uniram, garantindo que as exibições continuassem e atraíssem público. Em localidades como Middletown, Nova Iorque, os cinemas precisaram adicionar assentos extras para acomodar a crescente plateia, e na cidade de Nova Iorque, a exibição foi estendida devido à grande demanda.
Em Los Angeles, um protesto significativo ocorreu na Calçada da Fama, onde ativistas puxaram cartazes e interagiram de maneira vigorosa. “Nenhum outro regime no mundo faz negócios matando pessoas por seus órgãos”, declarou um dos organizadores, reforçando a importância do filme em expor essa realidade.
A Censura que Transcende Fronteiras
A situação em torno do filme "Órgãos do Estado" não é um caso isolado. A censura e as tentativas de silenciamento que surgem das autoridades chinesas refletem um esforço contínuo para suprimir informações sobre práticas controversas, como a coleta de órgãos.
Atividades de Pressão
Os diplomatas chineses têm utilizado táticas de pressionar legislators e executivos em vários níveis, incluindo telefonemas e e-mails, tentando silenciar qualquer discussão sobre a extração forçada de órgãos. Um exemplo claro dessa pressão ocorreu em 2016, quando representantes chineses de Chicago viajaram até Minnesota para deslegitimar uma resolução que condenava a extração forçada de órgãos.
O Dilema entre Direitos Humanos e Mercado
Entretanto, o lançamento do filme não veio sem seus desafios. Um distribuidor italiano que inicialmente queria exibir "Órgãos do Estado" logo recuou, alegando que obras ligadas ao tema da perseguição ao Falun Gong sempre enfrentavam resistência das emissoras locais. Nos Estados Unidos, um distribuidor afirmou abertamente que exibir filmes relacionados a essas entidades prejudicaria seu acesso ao lucrativo mercado chinês.
A Resposta do Público e Autoridades
Em Taiwan, a reação foi de apoio. Legisladores compareceram às exibições do filme, expressando que sua presença não era apenas um ato simbólico, mas uma defesa da liberdade de expressão. O Comitê de Defesa Nacional e de Relações Exteriores de Taiwan entrou em ação, convocando uma audiência para discutir as táticas de intimidação e como planejam responder às intervenções do regime chinês.
Wang Ting-yu, presidente do comitê, destacou que permitir que o PCCh silencie “Órgãos do Estado” poderia estabelecer um precedente perigoso, afetando futuras manifestações de liberdade, incluindo eleições democráticas.
Finalizando a Discussão
À medida que as atenções internacionais se voltam para a questão crucial da extração forçada de órgãos, vários estados nos EUA já aprovaram leis que proíbem empresas de seguro de saúde de financiar transplantes ligados à China. A Lei de Proteção ao Falun Gong ainda está aguardando votação no Senado, mas já demonstra o crescente reconhecimento e ação contra essa prática.
Raymond Zhang enfatiza que seu objetivo vai além de simplesmente contar uma história: ele deseja incitar reflexão e, quem sabe, ação. Ele lembra que, após a Segunda Guerra Mundial, muitos prometeram “nunca mais” permitir atrocidades semelhantes. Agora, temos a chance de mudar a história como uma ação coletiva e consciente.
E você, o que pensa sobre essa questão? Como podemos nos unir para garantir que filmes como “Órgãos do Estado” possam ser exibidos livremente, sem medo de represálias? Afinal, a luta pela verdade e pela justiça começa com a informação e a disposição de confrontar a realidade.