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Investimentos Milionários para o Agro Sustentável no Brasil
O futuro da agropecuária brasileira está diretamente ligado ao fluxo de financiamentos dos grandes investidores. No recente Climate Implementation Summit (CIS), realizado em São Paulo no dia 8 de novembro, destacou-se a alocação de US$ 10,4 bilhões (aproximadamente R$ 55,43 bilhões) para fomentar a agropecuária sustentável no Brasil até 2027, visando transformar a gestão nas propriedades rurais.
O evento, promovido por instituições como o Instituto Clima e Sociedade (iCS), Climate Action e Converge Capital, contou com a presença de mais de 750 CEOs e líderes do setor agroindustrial, além de investidores, filantropos e representantes de governos, todos reunidos para discutir soluções verdes.
Novas Estratégias: O Papel das Soluções Baseadas na Natureza
Um dos destaques do CIS foi a apresentação da Capital para o Clima, uma aceleradora de investimentos focada em financiar Soluções Baseadas na Natureza (SbN). Essas soluções visam usar a conservação e a restauração de ecossistemas para enfrentar os desafios ambientais, sociais e econômicos que a sociedade contemporânea enfrenta.
De acordo com uma pesquisa realizada em parceria com a consultoria Deloitte, a intenção inicial de investimento era de US$ 5 bilhões (R$ 26,66 bilhões), mas a demanda superou as expectativas, dobrando esse valor. Para 2023, a expectativa é que US$ 2,7 bilhões (R$ 14,39 bilhões) sejam imediatamente investidos nesse setor, conforme indicou Anna Lucia Horta, diretora executiva da Capital para o Clima no Brasil.
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Anna Lucia Horta, diretora executiva da Capital para o Clima no Brasil
“As SbN são as mais econômicas na busca por metas de carbono. Ao plantar uma árvore, restauramos o solo e, assim, contribuímos para o meio ambiente,” afirma Anna Lucia, ressaltando a importância de dar visibilidade aos projetos nessa área.
A Disparidade no Financiamento
A pesquisa, que entrevistou 34 instituições financeiras de diversas partes do mundo, revelou um descompasso entre a oferta de capital e a demanda por projetos sustentáveis. Enquanto existem investidores dispostos a aportar recursos, apenas 32 projetos identificados pela Capital para o Clima têm capacidade para absorver até US$ 6,1 bilhões (R$ 32,54 bilhões) ao longo dos próximos anos.
Esse cenário evidencia não apenas a disponibilidade de recursos, mas também o desafio de conectar investidores a projetos adequados. As iniciativas mais promissoras incluem ações como a restauração de pastagens degradadas, bioeconomia florestal e a conservação de áreas de vegetação nativa. Juntas, essas 32 propostas já gerenciam 1,1 milhão de hectares, com a ambição de crescer para 2,7 milhões de hectares até 2028.
Anna Lucia enfatiza que a próxima fase da pesquisa irá segmentar os tipos de projetos, identificando os riscos e retornos mais atrativos para cada perfil de investidor.
O Papel do Capital Catalítico na Transformação Agrícola
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Daniel Brandão, diretor de Soluções Baseadas na Natureza da Vox Capital
O interesse por projetos de agropecuária sustentável vai além do compromisso ambiental; os investidores também buscam retornos financeiros robustos. Um exemplo disso é o Capital Catalítico para a Transição Agrícola (CCAT), gerido pela Vox Capital, que recebeu contribuições de nomes notáveis como a Fundação Gordon e Betty Moore e a Iniciativa Internacional Climática e Florestal da Noruega.
Daniel Brandão, sócio da Vox Capital, anunciou durante o evento que o CCAT já garantiu US$ 50,5 milhões (R$ 269,17 milhões) em fechamentos iniciais. A prioridade do fundo é desbloquear US$ 4 em financiamento comercial a cada US$ 1 aportado em capital catalisador.
Com um foco em investimentos de risco, o capital catalisador da Vox visa acelerar projetos que não atraíram capital convencional, apoiando a recuperação ou proteção de mais de 500 mil hectares e evitando 240 milhões de toneladas de CO₂ até 2030.
O CCAT também busca garantir que todos os projetos sejam alinhados com práticas de desmatamento zero, de acordo com regulamentações ambientais rigorosas, e enfocam, por exemplo, a intensificação de atividades pecuárias e a implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs).
A Nova Abordagem dos Produtores Rurais
Com o crescimento do setor, novas iniciativas, como o Caminho Verde do governo federal, surgem para recuperar áreas degradadas. O objetivo é revitalizar até 40 milhões de hectares nos próximos dez anos, considerando que o Brasil possui um total de 82 milhões de hectares em estado de degradação.
Para Brandão, a nova estratégia de investimento não se trata de combate, mas de colaboração com os produtores. Ele destaca: “É crucial incluir os produtores rurais como parceiros nesse processo, tornando-os os principais beneficiários da transformação.”
Através do capital concessional do CCAT, busca-se oferecer crédito mais acessível e assistência técnica, reduzindo riscos e aumentando a renda dos produtores. Essa abordagem pode ser o início de uma nova era para a agropecuária no Brasil, onde o desenvolvimento sustentável e o crescimento financeiro caminham lado a lado.