O Desafio do Seguro Rural no Brasil: Entre Crescimento e Insegurança
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O agronegócio brasileiro, responsável por quase 25% do PIB nacional, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), enfrenta um dilema preocupante: crescem as áreas cultivadas, mas a proteção financeira para os agricultores está em queda acentuada.
Um Orçamento Insuficiente
Para entender a gravidade da situação, é crucial notar que o orçamento destinado ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) deveria ser de R$ 4 bilhões, mas atualmente não ultrapassa R$ 1 bilhão. Isso resulta em um déficit de R$ 3 bilhões, ameaçando a segurança financeira dos produtores.
Recentemente, um estudo da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), divulgado pela Forbes Agro, aponta que, se a atual taxa de contratação prevalecer, o Brasil poderá fechar 2025 com índices de cobertura de seguro rural equivalentes aos de uma década atrás.
Uma Realidade Preocupante
O economista Dyogo Oliveira, presidente da CNseg, destaca que “a área segurada no Brasil ainda é muito baixa, deixando milhares de produtores vulneráveis a perdas devastadoras em uma única safra”. De fato, até julho deste ano, apenas 2,2 milhões de hectares estavam segurados, representando meros 2,3% da área total plantada no país.
Comparação Internacional: Os Estados Unidos como Referência
Nos Estados Unidos, a realidade é bem diferente. O programa federal de seguro cobre cerca de 90% da área plantada das principais culturas, com o governo arcando com 60% do valor do prêmio. Isso contrasta fortemente com a fragilidade do sistema brasileiro.
“O seguro rural é essencial para garantir a resiliência dos produtores diante de eventos climáticos extremos”, afirma Oliveira.
O Impacto da Instabilidade Orçamentária
A escassez de recursos e a incerteza nas políticas de subsídio estão impactando diretamente o número de contratações de seguros. A expectativa é que o total de contratos via PSR em 2025 seja 40% menor que em 2024 e 62% inferior ao pico de 2021, quando mais de 200 mil apólices foram registradas.
Fragmentação da Cobertura
Com margens de lucro já apertadas e o crédito se tornando cada vez mais caro, muitos produtores têm optado por fragmentar a cobertura. Isso significa contratar apólices apenas para áreas menores ou para culturas de maior risco, como o milho safrinha.
O executivo Glaucio Toyama, presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), alerta que a falta de subvenção afeta principalmente os agricultores mais vulneráveis, enquanto aqueles com maior capital tendem a buscar seguros fora do apoio governamental.
“Sem essa proteção, entramos em um ciclo vicioso: o produtor quebra, e o governo precisa lidar com programas emergenciais de renegociação de dívidas, sobrecarregando ainda mais os cofres públicos”, comenta Toyama.
O Ciclo de Fragilidade
A combinação da ineficácia na política de subvenção e a queda na liberação de crédito rural cria um ciclo de fragilidade. A diminuição da cobertura se transforma em um risco financeiro individual e uma ameaça à segurança alimentar nacional.
O montante de R$ 4 bilhões estipulado seria ideal para atender as necessidades dos produtores. No entanto, o atual modelo enfrenta restrições orçamentárias severas que não se mostram sustentáveis. De acordo com Oliveira, muitos dos recursos planejados nem chegam a ser utilizados, comprometendo a proteção dos pequenos e médios produtores.
Dados Alarmantes
Entre janeiro e agosto de 2025, o setor de seguro rural experimentou uma queda de 6,7% na arrecadação, totalizando R$ 8,7 bilhões. Ao mesmo tempo, o pagamento de indenizações também recuou 7,4%, alcançando R$ 3,1 bilhões. Esses números evidenciam a fragilidade do sistema e seu impacto direto sobre a estabilidade financeira dos produtores.
Um Futuro em Questão
Diante desse cenário desafiador, é essencial refletir sobre o papel do seguro rural na segurança alimentar do Brasil. A proteção adequada é vital não só para a sobrevivência dos agricultores, mas também para garantir a sustentabilidade do setor agrícola como um todo.
O que Podemos Fazer?
É fundamental que todos os envolvidos no agronegócio se unam para cobrar uma revisão nas políticas de seguro rural. O fortalecimento destas diretrizes pode proporcionar um futuro mais seguro para o campo, evitando que novas gerações abandonem a agricultura por acharem a atividade insustentável.
As soluções exigem colaboração entre produtores, seguradoras, governo e especialistas. Todos têm um papel a desempenhar na construção de um sistema que realmente proteja quem trabalha duro para alimentar a nação.
O agronegócio brasileiro já ultrapassou muitos obstáculos ao longo da sua história. Agora, é hora de enfrentar esse desafio com a mesma determinação. Afinal, a segurança e a prosperidade no campo são fundamentais para o futuro do Brasil.
