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O Banco do Brasil (BBAS3) tornou-se o foco de atenção dos analistas ao anunciar seus resultados do terceiro trimestre de 2025. Embora tenha apresentado uma leve mudança de direção, o cenário ainda é de incerteza e provoca debates acalorados entre investidores: estamos testemunhando uma recuperação gradual ou apenas enfrentando mais um desafio transitório?

No balanço, encontramos sinais mistos: enquanto a margem financeira apresentou ligeiros avanços, a pressão sobre o custo do crédito ainda persiste, delineando um panorama em que o mercado se esforça para identificar qual força prevalecerá nos próximos trimestres.
BBAS3: Cenário de Inadimplência e Desaceleração na Carteira
Os dados mais recentes do Banco do Brasil (BBAS3) evidenciam que os desafios relacionados à inadimplência não estão perto de uma resolução. O índice de atrasos superiores a 90 dias subiu para 4,93%, um aumento de 72 pontos-base em comparação ao último semestre. No segmento agrícola, que historicamente impulsiona os resultados do banco, a inadimplência alcançou 5,34%, saturada por quebras de safra e preços em queda.
Quando olhamos para a carteira de pessoas físicas, a taxa de inadimplência chegou a 6,01%, refletindo principalmente renovações de crédito e dívidas no cartão. Em contrapartida, o segmento empresarial apresentou um desempenho positivo, com uma taxa de apenas 4,06%, indicando uma leve melhora na qualidade dos ativos.
A carteira de crédito expandida atingiu R$ 1,28 trilhão, marcando uma queda de 1,2% no trimestre, mas um crescimento de 7,5% em um ano. A distribuição por segmento é a seguinte:
- Pessoas Físicas: R$ 350,5 bilhões (+7,9% em 12 meses);
- Pessoas Jurídicas: R$ 453,0 bilhões (+10,4% em 12 meses, –3,2% no trimestre);
- Agronegócio: R$ 398,8 bilhões (+3,2% em 12 meses).
Apesar da leve retração trimestral, o banco aumentou os desembolsos com garantias públicas — como Pronampe e PEAC-FGI — para R$ 5,8 bilhões, superando em 28% o trimestre anterior.
Análise do Desempenho no Trimestre
No 3T25, o Banco do Brasil registrou um lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões, praticamente estável em relação ao segundo trimestre, mas apresentando uma diminuição de 60,2% em comparação ao ano anterior. No acumulado de janeiro a setembro, o lucro totalizou R$ 14,9 bilhões, uma queda alarmante de 47,2% em relação ao mesmo período de 2024.
A margem financeira bruta foi de R$ 26,4 bilhões, marcando um crescimento de 5,1% no trimestre. Esse aumento foi impulsionado por um crescimento de 4,4% nas receitas de crédito e um impressionante 24,7% na tesouraria. Contudo, esses ganhos foram parcialmente ofuscados pelo aumento nas despesas de captação, resultante das altas taxas da TMS e TR.
O custo do crédito permanece o principal fator de pressão, alcançando R$ 17,9 bilhões no trimestre, um aumento de 12,7% em relação ao período anterior e de 66,4% no acumulado do ano. O banco aponta o aumento da inadimplência, especialmente no setor agrícola e casos pontuais entre grandes empresas, como causas principais desse movimento.
As despesas administrativas totalizaram R$ 9,8 bilhões, um leve aumento de 1,4% em comparação ao segundo trimestre, impulsionado por gastos com pessoal e contínuos investimentos em tecnologia, inteligência artificial e segurança cibernética.
O que o Mercado Está Observando em BBAS3
No encerramento do trimestre, o BBAS3 reportou um Índice de Capital Principal de 11,16% e um Índice de Basileia de 14,81%, considerados confortáveis. No entanto, o ambiente de crédito arriscado — especialmente no setor agrícola — e os custos elevados ainda permanecem em destaque na mente dos investidores.
Esse cenário se reflete no desempenho das ações: BBAS3 fechou setembro cotado a R$ 22,09, uma queda de 18,7% nos últimos 12 meses.
Além disso, o banco destacou que parte das variações nos números se deve à adoção da Resolução CMN 4.966/21, que alterou a forma de contabilizar perdas esperadas e juros. Isso afetou a comparabilidade com 2024, especialmente nas margens financeiras e despesas de crédito.
Apesar dessas mudanças estruturais, a mensagem do trimestre é clara: embora o BBAS3 tenha mostrado sinais de mudança, essa alteração foi discreta. Enquanto não houver evidências concretas de estabilização no crédito, especialmente no agronegócio, o horizonte continuará a ser marcado pela cautela.