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Como a Dinamarca Transformou € 2,1 Bi em Sucesso na Produção Orgânica: Lições para o Brasil

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Com € 2,1 Bi de Produção Orgânica, Dinamarca Vira Exemplo para o Brasil

imagem aliança / Getty Images

Fazendeiro dinamarquês observa o trabalho de robô num campo de beterraba orgânica

Olhando para a Dinamarca: Lições para a Agropecuária Orgânica no Brasil

A Dinamarca se tornou uma referência global na agropecuária orgânica, movimentando € 2,1 bilhões (cerca de R$ 13,07 bilhões) em 2023. Com um consumo que chega a impressionantes 12% de alimentos e bebidas desse segmento, o país europeu nos ensina valiosas lições para o Brasil.

De um lado, temos a Dinamarca, que transformou suas políticas, hábitos de consumo e estrutura produtiva, criando um mercado robusto. Do outro lado, o Brasil, que apesar de ter vasto potencial agrícola, ainda luta para organizar e desenvolver um mercado competitivo. O que precisamos aprender com essa experiência?

Para responder a essa questão, um estudo conjunto de diversos pesquisadores, incluindo PhDs em economia e sociologia, trouxe à luz as razões que fazem da Dinamarca um modelo a ser seguido.

O Que é a Agropecuária Orgânica?

Antes de mais nada, é crucial entender o que caracteriza a agropecuária orgânica. Esse sistema de produção evita o uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos e organismos geneticamente modificados (OGMs), focando em práticas como:

  • Rotação de culturas
  • Adubação com compostos naturais
  • Controle biológico de pragas

Essas técnicas não só mantêm a fertilidade do solo, mas também preservam a saúde dos ecossistemas agrícolas.

Uma Perspectiva Global sobre os Orgânicos

Imagens NurPhoto/Getty

Amostra de vegetais e frutas orgânicas

O mercado global de produtos orgânicos atingiu € 136 bilhões (aproximadamente R$ 842 bilhões) em 2023, com destaque para o crescimento nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Os Estados Unidos lideram o setor, seguidos pela Alemanha e China, mas a Dinamarca se destaca por ter a maior porcentagem de vendas de produtos orgânicos em suas redes de varejo, com 11,8% em 2023.

O sucesso dinamarquês não é obra do acaso. Desde os anos 1980, o país investiu em instituições sólidas, regulamentações claras e programas contínuos de educação ao consumidor.

A Experiência Dinamarquesa: O Que Podemos Aprender?

Os pesquisadores da Embrapa e Unicamp destacam que a Dinamarca estabeleceu um modelo colaborativo que oferece segurança ao produtor, demanda firme no varejo e suporte governamental. O ambiente favorece investimentos, desenvolvendo um ciclo virtuoso onde o aumento do consumo estimula mais produção e competitividade.

Curiosamente, a Dinamarca possui apenas 4,3 milhões de hectares – uma área similar ao estado do Rio de Janeiro – mas dedicou 303,4 mil hectares apenas para a produção orgânica. Em 2023, o gasto per capita anual em alimentos orgânicos lá foi de € 362 (cerca de R$ 2.253), o segundo maior do mundo, atrás apenas da Suíça.

A Realidade da Agricultura Orgânica no Brasil

Imagens UCG/Getty

Feira de frutas orgânicas na cidade do Rio de Janeiro

No Brasil, a história é bem diferente. Com uma vasta área agrícola de 351,29 milhões de hectares, apenas 1 milhão é voltada para o cultivo de produtos orgânicos – representando cerca de 0,4% da área total. Apesar de ocupar a 12ª posição mundial na produção orgânica, o Brasil gerou em 2023 apenas € 778 milhões (aproximadamente R$ 4,8 bilhões), com um gasto per capita de apenas € 4 (cerca de R$ 24,90).

Com 5,1 milhões de estabelecimentos rurais, apenas 24 mil estão registrados no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, o que ressalta a falta de controle e dados confiáveis acerca da produção orgânica no país. Essa lacuna se deve principalmente à comercialização em circuitos curtos, onde muitos pequenos agricultores não emitem notas fiscais por não vendê-las em grandes redes.

Romper o Ciclo Vicioso

“O Brasil, por exemplo, não registra a produção orgânica”, diz Lima.

Essa falta de dados, somada à dificuldade de acesso ao crédito e a assistência técnica insuficiente, transforma a transição da agricultura convencional para a orgânica em um desafio para pequenos e médios produtores, que formam a base desse setor. Infelizmente, a limitação do consumo também inibe investimentos na cadeia produtiva e processamento.

O Brasil, portanto, enfrenta um ciclo vicioso: uma oferta reduzida eleva os preços, limitando o consumo e, assim, a escala necessária para reduzir custos. Mas o que fazer para mudar essa realidade?

Transformando o Cenário: O Caminho à Frente

Os especialistas acreditam que a experiência dinamarquesa pode oferecer novos rumos para a produção brasileira. A implementação de políticas que definam metas, ofereçam incentivos e garantam acesso ao apoio técnico e financeiro para os produtores pode ser o primeiro passo.

Um varejo mais previsível, aliado a uma certificação nacional reconhecida, poderia transformar o orgânico em uma alternativa competitiva ao convencional. Com isso, seria possível disponibilizar produtos orgânicos em grandes redes de supermercados a preços similares aos convencionais.

Como Lucimar, da Embrapa Meio Ambiente, menciona, o Brasil possui várias oportunidades: uma rica diversidade agrícola, um grande número de agricultores familiares e uma crescente demanda por alimentos saudáveis. A chave está em transformar esses ativos em estratégias eficazes.

Adotar um alinhamento de incentivos, reduzir incertezas e criar uma demanda estável são ações essenciais. A meta é romper o ciclo vicioso e dar início a uma nova fase de desenvolvimento, similar ao que a Dinamarca conseguiu realizar.

Além disso, a abordagem dinamarquesa pode não apenas beneficiar o Brasil, mas também servir como um modelo adaptável para outros países da América Latina e da África, fortalecendo a transição global rumo a sistemas alimentares mais sustentáveis. Que tal refletir sobre essas possibilidades e trazer suas opiniões para a conversa?


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