A Oportunidade Única de Netanyahu e o Impacto da Vitória de Trump
Um novo capítulo na política do Oriente Médio
A recente vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos trouxe um ar de otimismo para o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. A situação de Israel, após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, parecia crítica. No entanto, mais de um ano depois, os ventos mudaram. Israel intensificou sua atuação militar, resultando na eliminação de grande parte da liderança do Hamas e do Hezbollah, além de ataques cirúrgicos em solo iraniano.
Atualmente, Netanyahu observa sua popularidade ressurgir após um período de baixa aprovação, e vislumbra uma oportunidade incomum para realinhar o Oriente Médio conforme seus interesses. Com o apoio vigoroso da ala mais conservadora de seu governo, ele resiste a apelos por um cessar-fogo e se compromete a buscar uma "vitória total", indiferente ao tempo que isso possa levar.
O plano ambicioso de Netanyahu
Nesse contexto, os objetivos de Netanyahu se estendem além de simplesmente vencer a guerra em Gaza. Ele busca estabelecer uma presença israelense de segurança prolongada no norte da faixa de Gaza, desarticular a influência iraniana em países como Iraque, Síria e Iémen, e neutralizar qualquer ameaça nuclear representada pelo Irã. Para muitos em sua coalizão, a ideia de um estado palestino deve ser irrevogavelmente descartada.
Além disso, há a esperança de que, com Trump de volta ao poder, países do Golfo, como a Arábia Saudita, se unam a Israel em um processo de normalização. A relação amigável que Trump construiu com os líderes árabes é vista como um trunfo a favor de Netanyahu.
A realidade das expectativas
Entretanto, as suposições de Netanyahu sobre o futuro e o apoio dos EUA sob Trump podem estar superestimadas. As vitórias táticas em combate, sem um acordo político ou diplomático, não garantem a segurança duradoura. Israel corre o risco de se envolver em um emaranhado de guerras, responsabilizando-se pelo bem-estar de civis em Gaza e no Líbano. Além disso, conquistar o apoio do mundo árabe exigirá mais do que a derrota dos adversários.
A imprevisibilidade de Trump também é um fator a ser considerado. O primeiro-ministro pode descobrir que suas ambições tornaram a situação de Israel ainda mais frágil no cenário internacional.
As dinâmicas regionais em mudança
Com a volta de Trump ao cenário político, o ambiente no Oriente Médio parece, de certo modo, constitucionalmente favorável a Israel. O Exército de Defesa de Israel (IDF) conseguiu infligir danos significativos na estrutura de comando do Hamas e enfraquecer suas capacidades operacionais. Os 24 batalhões que o Hamas possuía antes do conflito foram praticamente desmantelados.
A destruição provocada pelo IDF também se estendeu ao Hezbollah, antes considerado uma potência central na resistência iraniana. Além de neutralizar líderes do grupo, como Hassan Nasrallah, Israel conseguiu reduzir significativamente seu arsenal de mísseis e foguetes. Além disso, incursões aéreas em locais como a Síria e o Iémen demonstram a disposição de Israel de agir contra seus adversários, mesmo em longas distâncias.
A tensão com os Estados Unidos e a busca por aliados
Antes das eleições de novembro, as conquistas de Israel estavam causando atritos com os Estados Unidos. Embora o governo Biden tenha apoiado Israel militarmente, houve descontentamento em relação às ações do governo Netanyahu, especialmente em questões humanitárias. A vitória de Kamala Harris poderia trazer um aumento da tensão em vez de apoio irrestrito.
Por outro lado, Netanyahu e seus aliados acreditam que a nova administração de Trump proporcionará suporte incondicional a Israel. Essa expectativa alimenta ainda mais os desejos expansionistas da direita em Israel, que espera que a eliminação de seus inimigos traga uma reconciliação forçada por parte dos árabes.
Um futuro incerto e a resistência interna
As ambições de Netanyahu não são isentas de obstáculos. Os grupos armados que operam na região, como Hamas e Hezbollah, estão se reagrupando e permanecem capazes de atacar Israel com foguetes e drones. As premissas de que esses grupos capitularão são, no mínimo, ingênuas.
Internamente, Netanyahu enfrenta pressão de sua coalizão, onde figuras como Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir exigem uma ação militar contínua e a anexação de territórios em Gaza e na Cisjordânia. Esses líderes implacáveis estão, de certa forma, travando uma batalha contra as vozes mais moderadas que pedem um foco na segurança nacional e um desembarque de tropas.
O preço da guerra
Os conflitos incessantes têm um custo humano e social significativo. O povo israelense enfrenta um desgaste emocional e uma crise de segurança pública. Com mais de 100 reféns ainda em Gaza e um número crescente de deslocados, a pressão sobre Netanyahu para agir em favor da paz só aumenta.
Adicionalmente, escândalos de corrupção estiveram à tona, com membros da equipe de Netanyahu envolvidos em escândalos que minam ainda mais sua credibilidade. A decisão de substituir o ministro da Defesa por um político sem experiência militar evidencia uma tentativa de apaziguar sua base política, mas pode ser vista como uma estratégia arriscada diante de desafios iminentes.
O dilema da guerra contínua
Neste ambiente de complexidade política e militar, Netanyahu tem uma escolha crítica a fazer: encerrar os conflitos em Gaza e no Líbano ou continuar a busca por uma vitória absoluta. Essa decisão poderá moldar não apenas o futuro de sua liderança, mas também o destino de Israel na arena internacional.
A crescente pressão para alcançar um cessar-fogo, especialmente ante o risco de uma escalada do conflito, é confrontada por vozes dentro de sua coalizão que rejeitam qualquer forma de trégua. Se Netanyahu estiver disposto a manter um diálogo com Trump e mesmo considerar os desejos da comunidade internacional, ele poderá evitar um desastre maior.
Um olhar para o futuro
A trajetória da política israelense e suas relações no Oriente Médio são, no momento, incertas. A combinação de uma administração Trump potencialmente volátil e as demandas internas pode criar um cenário desafiador para Netanyahu. Se as tensões internas e externas não forem gerenciadas com cuidado, Israel pode se encontrar em um ciclo de conflito sem fim.
Para evitar que suas aventuras militares resultem em um colapso, Netanyahu deve agir com estratégia e visão, sopesando a estabilidade de seu governo contra o desejo de ação militar incessante. O equilíbrio delicado entre poder interno e a diplomacia externa será fundamental nos próximos meses, num cenário em que a paz e a guerra podem se alternar rapidamente.
Diante de tantos desafios e oportunidades, o futuro de Israel ainda está por ser escrito, e cabe ao seu líder decidir o caminho que fará. A escolha entre a continuidade da guerra ou o início de um diálogo pacífico poderá determinar não apenas o futuro imediato de uma nação, mas também as relações futuras com um mundo em constante mudança.