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Como as Tarifas de Trump Impactam a Indústria Citrícola Brasileira e o Futuro dos Frutos Nacionais

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Paulo Whitaker/Reuters
O plano de Trump de impor tarifa de 50% sobre produtos brasileiros ameaça desestabilizar o setor citrícola do Brasil e prejudicar os consumidores dos EUA.

O novo projeto do presidente americano Donald Trump, que prevê a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, pode provocar sérias consequências para o segmento citrícola do Brasil. Com fábricas diminuindo suas atividades e produtores encarando a possibilidade de deixar a laranja estragar nas plantações, a situação se torna alarmante.

Fabrício Vidal, um agricultor de Formoso, em Minas Gerais, expressou sua preocupação: “Se não houver mercado, as frutas podem ficar nos pés, pois não vale a pena colher sem um comprador”.

A Ameaça das Tarifas

Essas novas tarifas podem bloquear a exportação das frutas para os Estados Unidos, que atualmente adquire 42% do suco de laranja brasileiro. Esse comércio gera aproximadamente US$ 1,31 bilhão (R$ 7,23 bilhões) por safra. Recentemente, os preços das laranjas no Brasil caíram para cerca de R$ 44 a caixa, quase a metade do valor praticado no ano anterior, evidenciando o impacto das políticas comerciais de Trump, que geram incerteza antes mesmo da implementação.

Ibiapaba Netto, presidente da CitrusBR, referência entre os exportadores de suco de laranja, resumiu a situação: “Com a aproximação da data para a aplicação das tarifas, a ansiedade cresce em relação ao que pode acontecer”.

Consequências para o Consumidor

A produção de suco de laranja nos Estados Unidos alcançou o nível mais baixo em meio século, estimando-se um volume de apenas 108,3 milhões de galões para a safra 2024/25. Isso significa que as importações representarão 90% do abastecimento até setembro. Essa situação não afeta apenas os produtores brasileiros, mas também põe em risco os consumidores americanos, que dependem em larga medida do suco importado do Brasil.

  • Metade do suco de laranja consumido nos EUA vem do Brasil.
  • Marcas reconhecidas, como Tropicana e Minute Maid, utilizam a laranja brasileira como matéria-prima.
  • O Brasil é responsável pela produção de 80% do suco de laranja mundial.

Nos últimos anos, os EUA aumentaram sua dependência das importações de suco de laranja devido a desafios como a doença “greening” nas plantações e eventos climáticos adversos. Porém, a nova tarifa significaria um aumento impressionante de 533% sobre o imposto já existente de US$ 415 por tonelada.

Recentemente, a Johanna Foods, uma produtora de sucos de frutas de Nova Jersey, decidiu contestar judicialmente as tarifas propostas, alegando que sua implementação causaria “danos financeiros significativos e diretos” tanto para a empresa quanto para os consumidores americanos.

Desafios e Alternativas

Para o Brasil, a tarefa de encontrar novos mercados alternativos não é simples. Os consumidores norte-americanos estão entre os maiores apreciadores de suco de laranja mundial, e a maioria dos países que normalmente compram são de renda alta, limitando as opções do Brasil. Atualmente, o suco de laranja brasileiro é distribuído para cerca de 40 países, em contraste com cerca de 120 países que importam carne brasileira, segundo dados comerciais.

Além disso, a dificuldade de comercialização é acentuada por tarifas elevadas em mercados como Índia e Coreia do Sul, além da baixa renda familiar na China, que já impactaram as relações comerciais do Brasil. Por outro lado, a União Europeia, que já compra aproximadamente 52% das exportações brasileiras, não consegue suprir a possível perda do mercado norte-americano.

As empresas têm poucas alternativas viáveis. Uma estratégia poderia ser exportar o suco via Costa Rica, prática já adotada por algumas, mas sua eficácia após a aplicação das novas tarifas ainda é incerta. A CitrusBR alertou que essa triangulação pode não ser permitida pelas regras da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Enquanto as empresas tentam identificar novos caminhos, os agricultores, como os de Formoso, enfrentam um cenário sombrio. Os preços pagos a eles caíram drasticamente, atualmente equivalendo a apenas um terço do que recebiam no mesmo período do ano passado, tornando a colheita quase inviável economicamente.

O agricultor Ederson Kogler lamenta que a solução estaria em buscar novos mercados, mas reconhece que essa mudança não acontece rapidamente. “Acabamos presos em um ciclo sem saída”, desabafa Kogler.

O Futuro das Relações Comerciais

O impasse em torno das tarifas sobre o suco de laranja brasileiro gera uma série de questões urgentes sobre o futuro das relações comerciais, não apenas entre os Estados Unidos e o Brasil, mas também sobre a dinâmica do mercado de sucos global. A interconexão dessas questões econômicas ressalta a importância de um diálogo aberto entre os países, visando soluções que equilibrem interesses comerciais e garante a sustentabilidade dos produtores.

Os desafios são claros, e enquanto o debate sobre tarifas continua, produtores e consumidores devem estar preparados para navegar em tempos de incerteza. Como as circunstâncias mudam, o engajamento da sociedade na discussão sobre a agricultura e as importações será crucial para buscar alternativas e criar um futuro mais estável e justo para todos os envolvidos.

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