Início Internacional Como Fazer a Multipolaridade Funcionar: Estratégias para um Novo Equilíbrio Global

Como Fazer a Multipolaridade Funcionar: Estratégias para um Novo Equilíbrio Global

0


O Fim do Momento Unipolar e a Nova Ordem Mundial

O período em que os Estados Unidos dominavam unilateralmente o cenário global parece ter chegado ao fim. As mudanças econômicas, demográficas e militares têm moldado um novo panorama político internacional, e agora a questão que se coloca é: como os EUA podem navegar nesse mundo emergente sem se sobrecarregar? A resposta a essa pergunta depende, em grande parte, da visão que Washington tem sobre esse novo mundo.

Uma Nova Era de Competição: Bipolaridade versus Multipolaridade

A administração Biden acreditava que estávamos caminhando para um mundo bipolar, onde Estados Unidos e China estariam em uma disputa acirrada. Com isso, a estratégia adotada foi a de uma nova Guerra Fria, tentando unir alianças dos EUA e rotulando os adversários em um eixo de “autoritarismo”. Contudo, a expectativa de um bloco democrático coeso não se concretizou. Países como Índia, que participa ativamente do BRICS, e as divergências entre os EUA e a Holanda sobre a tecnologia de chips, evidenciam a falta de uma política unificada democrática.

Essa perspectiva revela que a visão bipolar estava equivocada. A interconexão econômica crescente, o surgimento de potências regionais como Turquia, Índia e Coreia do Sul, e a dispersão do poder econômico e tecnológico, indicam que um mundo multipolar e fragmentado é o mais provável.

Multipolaridade: Uma Chance para os EUA?

Ao contrário do que muitos pensam, a multipolaridade não é uma sentença de morte para os Estados Unidos. Na verdade, em um contexto de diminuição do poder relativo norte-americano, permitir que outras nações dividam a responsabilidade pela liderança global pode ser benéfico. Ao adotar esse entendimento, Washington pode buscar uma estratégia mais flexível e adaptativa a um mundo que muda rapidamente.

A administração Trump, por exemplo, demonstrou mais conforto em relação à multipolaridade do que a anterior. Em vez de forçar o mundo a uma dicotomia simplista de “nós contra eles”, iniciou passos positivos rumo a uma estratégia multipolar, solicitando que aliados na Ásia e na Europa contribuíssem mais para a defesa.

O Desafio da Multipolaridade: O Caminho a Seguir

Apesar de algumas mudanças promissoras, a administração Trump ainda parece perder oportunidades de alavancar a multipolaridade a favor dos interesses norte-americanos. Suas políticas unilaterais muitas vezes afastaram aliados, em vez de fomentar um ambiente colaborativo necessário para um mundo multipolar.

A Relevância da Discussão

O debate sobre se o mundo tendia a um cenário bipolar, multipolar ou até mesmo não polarizado continua aceso entre os scholars. A resposta reside na distribuição do poder: quais países o detêm, como o exercem e como isso é percebido. A definição de poder é complexa, englobando riqueza, força militar, recursos naturais e vontade política. Isso leva a interpretações variadas sobre o tipo de ordem mundial que está surgindo.

Exemplos práticos incluem:

  • Se militarismo for o único critério de poder, uma ordem bipolar poderia ser considerada plausível, com EUA e China em confronto.
  • Ao incluir dados econômicos, potências como os países da ASEAN e as nações do Golfo também entram no jogo, sugerindo uma realidade muito mais multipolar.

Como o Mundo Está se Movendo

A realidade é que diversos países já estão se posicionando nesse novo sistema. França, através do presidente Emmanuel Macron, surpreendeu ao afirmar que a Europa deveria se tornar um “terceiro polo” na nova ordem mundial. Da mesma forma, o Brasil, representado pelo ministro Fernando Haddad, declarou que não escolherá lados entre EUA e China, enfatizando sua autonomia.

Esses movimentos indicam uma clara rejeição à ideia de uma nova coalizão americana contra a China. Muitos países, mesmo aliados, mantêm relações comerciais com Pequim, enquanto realizam cooperações militares com Washington, mostrando que a bipolaridade almejada não é vista como uma opção viável.

Um Mundo Multipolar: Desafios e Oportunidades

Um aspecto menos discutido desse debate sobre a nova ordem mundial é a suposição de que a multipolaridade seria, de alguma forma, desvantajosa para os EUA. Existe a crença de que esse arranjo aumentaria a instabilidade e deixaria Washington vulnerável. Porém, essa visão é simplista.

A história já revelou que sistemas multipolares podem ser estáveis. Por exemplo, o Congresso de Viena em 1815 manteve a paz na Europa por quase um século. Tanto um sistema bipolar quanto um multipolar têm suas vantagens e desvantagens.

Vantagens de um Sistema Multipolar

  • Aumento da diversificação das relações globais.
  • Redução dos custos com defesa e maior flexibilidade nas parcerias.
  • Oportunidades para a construção de relações baseadas em interesses variados e específicos, ao invés de ideologias rígidas.

A realidade é que as nações não têm a liberdade de escolher como o poder é distribuído no sistema internacional, mas podem ajustar suas estratégias. A administração Biden buscou enfatizar a bipolaridade, mas encontrou resistência, já que muitos países se recusam a se enquadrar em uma visão rígida e dicotômica.

Caminhos para um Futuro Sustentável

A verdade é que a capacidade de os EUA se adaptarem a essa nova realidade será crucial. A administração atual precisa focar em estratégias que favoreçam uma abordagem multipolar, subtraindo a necessidade de uma divisão abrupta de alianças. Isso pode incluir:

  • Encorajar parcerias flexíveis: em vez de impor uma visão de “nós contra eles”, é essencial estabelecer alianças pontuais que atendam às necessidades específicas de cada nação.
  • Promover a abertura econômica: evitar políticas coercitivas e buscar fortalecer mercados globais diversificados e resilientes.

Infelizmente, a política de agressão unilateral adotada por Trump gera incertezas e pode tornar os aliados ambivalentes em relação aos EUA, potencialmente favorecendo a China como uma alternativa mais confiável.

A Importância do Soft Power

Outro fator que não pode ser esquecido é o papel do soft power. Os EUA precisam se reconectar diplomática e humanitariamente com o mundo para garantir que a sua influência não diminua. A desaceleração em assistência humanitária e na diplomacia só piorará a situação.

Pensando no Futuro

A abordagem atual dos EUA está em um estado de transição: por um lado, há uma tentativa de se adaptar a um mundo multipolar; por outro, políticas unilaterais podem gerar alienação e fragilizar a ordem econômica global que tem beneficiado Washington por décadas.

O caminho a seguir envolve um equilíbrio entre segurança, economia e diplomacia, permitindo que os EUA mantenham sua relevância. É preciso ter cuidado para que as estratégias adotadas não se voltem contra o próprio país e acabem comprometendo suas vantagens históricas.

O futuro do cenário internacional está em constante mudança, e a capacidade dos Estados Unidos de se reinventar e colaborar efetivamente com potências emergentes será vital. É hora de repensar e agir com assertividade para garantir que Washington não apenas sobrevive, mas prospera em um mundo multipolar.

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Sair da versão mobile