ABDAGRO Aciona o Banco do Brasil por Práticas de Venda Casada em Crédito Rural
A Associação Brasileira de Defesa do Agronegócio (ABDAGRO) está liderando uma ação judicial sem precedentes contra o Banco do Brasil (BB), acusando a instituição de adotar estratégias ilícitas de venda casada no âmbito do crédito rural. O valor pleiteado na 5ª UPJ Varas Cíveis de Goiânia é impressionante: R$ 841,8 bilhões, incluindo indenizações por danos materiais e morais.
A Natureza da Acusação
Representada pelo escritório João Domingos Advogados, a ABDAGRO alega que o Banco do Brasil transforma o crédito rural—uma iniciativa pública criada para impulsionar o setor agrícola—em uma ferramenta para forçar os agricultores a contratar outros produtos financeiros, tais como seguros de vida, previdência privada e títulos de capitalização. Essa prática é denominada venda casada e é classificada como uma "violação deliberada dos princípios de livre concorrência", comprometendo a função social do crédito rural.
O Impacto da Venda Casada na Economia Agrícola
De acordo com o processo, nos últimos dez anos, o valor desviado pelo Banco do Brasil ultrapassa R$ 175,6 bilhões. Este montante, ajustado para a inflação, representa apenas uma fração do impacto negativo total que essa prática acarreta, incluindo juros, correções monetárias e possíveis indenizações.
- Crédito Rural: Criado na década de 1960, o crédito rural visa fomentar o desenvolvimento socioeconômico com financiamento a taxas de juros baixas.
- Imposições Abusivas: O BB é acusado de onerar os produtores ao exigir que, em média, 10% do valor de empréstimos sejam direcionados para a compra de seus produtos financeiros.
Documentação Comprovando os Abusos
O processo conta com uma série de evidências que corroboram as alegações contra o banco, incluindo:
- 26 declarações de produtores rurais
- 4 testemunhos de ex-funcionários
- 374 contratos de crédito rural
- Mais de 50 sentenças judiciais anteriores sobre o mesmo tema
Um exemplo impactante é o relato de Naiton Maximiano de Oliveira, um produtor que foi coagido a destinar 16% de um empréstimo de quase R$ 3 milhões para a aquisição de um plano de previdência privada. Após a liberação do montante em sua conta, uma quantia significativa foi automaticamente debitada para a contratação do seguro, o que gerou custos adicionais inesperados.
Uma Cultura Organizacional de Venda Casada
A ABDAGRO afirma que a venda casada não é uma exceção, mas sim parte da cultura do Banco do Brasil. Os funcionários que cumprem as metas associadas a esses contratos irregulares são incentivados através de bonificações, enquanto aqueles que se opõem a essa prática enfrentam punições e assédio moral.
- Cadeia Decisória: A prática é sustentada por uma estrutura organizacional que favorece a coação moral e econômica.
- Relatórios de Auditoria: Auditorias do Ministério da Transparência e da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU) já confirmaram a existência de práticas irregulares nas operações de crédito rural do BB.
O Que a ABDAGRO Busca na Justiça?
A entidade requer que o judiciário não apenas interrompa as exigências de contratação de produtos financeiros associados ao crédito rural, mas também que o Banco do Brasil seja condenado a ressarcir em dobro os valores cobrados indevidamente, totalizando os R$ 841,8 bilhões, que também inclui reparações por danos morais e sociais.
“Essa operação, desenvolvida ao longo de décadas, criou práticas que se tornaram parte do ‘DNA’ operacional do Banco do Brasil”, reafirma a petição.
A ABDAGRO e os agricultores buscam, com essa ação, não apenas a reparação dos danos, mas também o fim de uma prática que prejudica o setor agrícola e compromete a função social do crédito rural.
Reflexões Finais
Diante de um cenário tão complexo e desafiador, é imprescindível questionar: até que ponto as práticas de instituições financeiras devem ser regulamentadas para proteger os direitos dos agricultores? A ação da ABDAGRO serve como um alerta sobre as implicações de práticas abusivas no setor agrícola e na sociedade como um todo.
A discussão em torno do crédito rural e suas regras não deve ser deixada de lado. Incentivar o diálogo sobre esses temas é essencial para garantir que práticas como a venda casada sejam devidamente combatidas, assegurando, assim, que o crédito agrícola permaneça acessível e justo para todos os que dependem dele.
O que você pensa sobre as acusações feitas contra o Banco do Brasil? Como as práticas de venda casada podem impactar a vida dos agricultores? Compartilhe suas ideias e experiências nos comentários. É fundamental construir um espaço de debate onde todos possam expressar suas opiniões e contribuir para um entendimento mais profundo das questões que afetam o agronegócio no Brasil.