O Retorno dos Líderes Fortes: De Nacionalismo a Radicais
Nos últimos 20 anos, após o fim da Guerra Fria, o globalismo parecia ter se estabelecido de maneira firme, eclipsando o nacionalismo. Neste cenário, os complexos sistemas e redes institucionais, financeiros e tecnológicos passaram a dominar a política, relegando ao indivíduo um papel secundário. Entretanto, a partir de meados da década de 2010, uma transformação notável começou a tomar forma. Líderes carismáticos, aproveitando ferramentas contemporâneas, evocaram figuras emblemáticas do passado: o líder forte, a grande nação, a civilização orgulhosa.
A Ressurgência do Nacionalismo: Um Exemplo Russo
Esse novo fenômeno se manifestou de maneira clara na Rússia. Em 2012, Vladimir Putin retornou à presidência após um breve intervalo. Durante esse período, ele consolidou seu poder, eliminando a oposição e dedicando-se a restaurar a “grandeza russa” que se perdeu com o colapso da União Soviética. Esse movimento não só enfatizou o fator nacional em suas políticas, mas também uma resistência ativa à influência dos Estados Unidos e seus aliados.
Na sequência, em 2014, líderes como Xi Jinping, Narendra Modi, e Recep Tayyip Erdogan começaram a moldar suas respectivas nações de maneira similar. Xi desejava um projeto grandioso para a China, enquanto Modi estabeleceu o nacionalismo hindu como ideologia central na política da Índia. Erdogan, por sua vez, transformou a estrutura democrática da Turquia em um regime autocrático, centralizando poder nas suas mãos.
O Impacto de Trump e o Eco Nacionalista
Em 2016, Donald Trump venceu a presidência dos EUA, apresentando promessas de "tornar a América grande novamente" e priorizando os interesses americanos. Esses slogans foram mais que simples campanhas políticas; representaram uma onda populista que, mesmo em meio à ordem internacional liberal liderada pelos EUA, encontrou ressonância nas aspirações de um público cansado das instituições globais.
A vitória de Trump inicialmente fez parecer que os Estados Unidos estavam se preparando para restaurar o status quo da era pós-Guerra Fria. Contudo, seu estilo de governar e as ideias que promoveu apontaram para um novo tipo de liderança no qual os valores tradicionais e o nacionalismo assumiram protagonismo, preparando o terreno para que outros líderes seguissem uma trajetória semelhante.
- Líderes em Foco:
- Vladimir Putin: Reforço do nacionalismo russo e oposição à hegemonia ocidental.
- Xi Jinping: Projetos grandiosos que almejam resgatar a magnitude histórica da China.
- Narendra Modi: Estabelecimento do nacionalismo hindu na política indiana.
- Recep Tayyip Erdogan: Transformação da política turca em um regime autocrático centralizado.
O Choque das Civilizações
Em meio a esse cenário, alguns estudiosos ressurgem com o conceito de "choque de civilizações", idealizado por Samuel Huntington nos anos 90. Contudo, a realidade atual representa uma versão mais sutil e menos categórica desse conceito. O que vemos é um ‘choque leve’ entre civilizações, caracterizado por gestos e uma retórica que, embora dramática, muitas vezes é flexível.
É interessante notar como esses líderes usam a linguagem da civilização para justificar suas ações. Por exemplo:
- Putin se promove como um defensor da civilização russa.
- Modi apresenta a democracia como a "sangue vital" da civilização indiana.
- Erdogan afirma que sua civilização é uma de conquistas.
Essa abordagem retórica permite uma competição que, mesmo que centrada em interesses econômicos ou geopolíticos, se transforma em um embate de civilizações.
Putin e a Guerra na Ucrânia: Um Eixo Revolucionário
A invasão da Ucrânia por Putin em 2022 representa um divisor de águas na política moderna, ecoando eventos históricos marcantes como as guerras mundiais. O que começou como uma busca de “grandeza russa” se transforma em um padrão para ações futuras de outros líderes. Esse movimento reconfigura não apenas a segurança europeia, mas também redefine as relações internacionais como um todo.
Apesar da gravidade da situação, surgem novas possibilidades para a diplomacia. A formação de grupos não ocidentais, como os BRICS, mostra que a multidimensionalidade das alianças se fortalece, mesmo que em um cenário menos homogêneo. Enquanto isso, a coalizão de apoio à Ucrânia se expande, incorporando países além do eixo transatlântico.
Relações Globais: Um Quebra-Cabeça em Movimento
No atual ambiente geopolítico, as alianças são fluidas e os interesses variáveis. Por exemplo:
- Rússia e China: Parceiros com interesses comuns, mas com estratégias distintas.
- Índia: Atenta às movimentações chinesas, busca fortalecer suas fronteiras sem se aliar completamente.
- Turquia: Registra um revisionismo ativo, mas não promove uma agitação desnecessária no cenário global.
Essas interações dinâmicas principalmente demonstram que as relações internacionais não são tão simples como definir uma aliança estável. Na verdade, são transações complexas, impulsionadas por interesses e personalidades.
A Era Trump: Uma Abordagem Flexible
Como fica a política global sob a possível reeleição de Trump? É um mistério. Se sua abordagem ao assumir novamente o governo for pragmática, ainda conservará a capacidade de moldar um novo status quo que pode nãoedoria um fim definitivo ao conflito na Ucrânia, mas poderá, pelo menos, minimizar seus impactos.
Trump pode não ter interesse em construir uma nova ordem internacional baseada em valores universais. Isso pode ser vantajoso se ele se concentrar em um tipo de diplomacia flexível que busque benefícios mútuos e evite polarizações definitivas.
Um Caminho para a Paz?
Uma administração Trump revisitada terá o desafio de:
- Proteger a soberania da Ucrânia sem comprometer sua segurança.
- Negociar com a Rússia enquanto evita a erosão das fronteiras europeias.
- Envolver-se com novos aliados e construir relacionamentos que transcendam as rivalidades históricas.
A ação não deve ser apressada a um acordo de paz ilusório, mas sim baseada na criação de regras de engajamento que assegurem uma coexistência pacífica. A partir dessa perspectiva, o foco deve ser de desescalar os conflitos regionais, não apenas entre grandes potências, mas também na interação com países menores que se sentem ameaçados pela anarquia internacional.
Reflexão Final
O panorama mundial está em constante mudança. As novas gerações de líderes estão redefinindo não apenas seus países, mas também equilibrando os jogos de poder em um amplo espectro global. O nacionalismo, renascente e revitalizado, vem como reação às pressões do globalismo, moldando um cenário em constante transformação. No entanto, a história nos mostra que mesmo na incerteza, a oportunidade para a diplomacia e o diálogo nunca desaparece completamente.
Portanto, como podemos concluir, a era que se aproxima viaja em um campo minado de rivalidades, mas também de potenciais colaborações. E, assim, a pergunta permanece: estaremos prontos para um diálogo significativo ou a retórica continuará a predominar? Vamos juntos acompanhar esses desdobramentos.