Mercado Financeiro
Construtoras Desafiam Juros Altos e Mantêm Crescimento no 3º Trimestre de 2025
Surpreendentemente, o setor de construção civil no Brasil não apenas resistiu aos desafios impostos pelos altos juros no 3º trimestre de 2025, como também apresentou resultados robustos. Em um relatório publicado no dia 20 de setembro pelo BB Investimentos, foram destacados desempenhos excepcionais das principais construtoras listadas na Bolsa de Valores, especialmente Cury (CURY3) e Direcional (DIRR3).

Os resultados positivos são muito atribuídos a programas habitacionais como o Minha Casa Minha Vida (MCMV) e a um ambiente de crédito mais favorável. Mesmo com custos elevados de financiamento, as empresas têm conseguido manter lançamentos e margens saudáveis, impulsionadas por uma demanda reprimida e pela diversificação de produtos oferecidos.
Como o Crédito Impulsiona o Setor da Construção
De acordo com o relatório do BB Investimentos, as novas regras de crédito imobiliário têm proporcionado um respiro necessário para o segmento. Essas mudanças resultaram na liberação de aproximadamente R$ 36,9 bilhões para o Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e na elevação do teto de financiamento para imóveis, que passou de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões, além de restabelecer a possibilidade de financiar até 80% do valor do imóvel.
O relatório destaca que “as alterações tanto no FGTS quanto na poupança conferem sustentabilidade às fontes de financiamento, reforçando a estabilidade do setor.” Este ambiente favorável ajudou o índice IMOB a crescer 54% em 12 meses, em comparação a apenas 19% do Ibovespa, demonstrando o renovado apetite dos investidores por ativos relacionados ao mercado imobiliário.
Protagonistas do Mercado: Cury e Direcional
Entre as construtoras focadas em habitação popular, Cury e Direcional se destacam como líderes indiscutíveis. A Cury (CURY3) lançou nove empreendimentos que totalizam R$ 1,7 bilhão em VGV (Valor Geral de Vendas) e alcançou impressionantes 26 trimestres consecutivos com geração de caixa positiva, atingindo R$ 233 milhões. Seu landbank, que consiste em R$ 23,3 bilhões, assegura o ritmo de lançamentos por mais de dois anos.
Por sua vez, a Direcional (DIRR3) reportou R$ 2 bilhões em lançamentos, estabelecendo um recorde histórico, e acumulou R$ 494 milhões em geração de caixa nos primeiros nove meses de 2025, representando um aumento de 250% em relação ao mesmo período do ano anterior. O BB Investimentos observa que “o acervo de terrenos da Direcional é suficiente para mais de oito anos de lançamentos, consolidando sua posição no setor econômico.”
MRV e Tenda: Ajustes Necessários no Ritmo
A MRV (MRVE3) apresentou uma leve desaceleração, com R$ 2,35 bilhões em lançamentos, mas compensou isso com R$ 2,44 bilhões em vendas líquidas. Um destaque especial veio da operação da Resia, nos Estados Unidos, que reduziu a queima de caixa após a venda de terrenos avaliados em US$ 32 milhões, parte de um plano de desalavancagem.
Já a Tenda (TEND3) lançou 14 novos empreendimentos, totalizando R$ 1,56 bilhão em VGV e prepara um projeto conhecido como Casapatio Canoas, no Rio Grande do Sul, que visa beneficiar famílias afetadas por enchentes. Esse contrato de R$ 300 milhões está previsto para impactar o balanço financeiro no quarto trimestre.
Desafiando Juros Altos: Cyrela e EZTEC
As construtoras Cyrela e EZTEC estão desafiando a lógica dos juros altos, com resultados notáveis. A Cyrela (CYRE3) lançou R$ 5 bilhões em novos empreendimentos e acumulou R$ 9,66 bilhões no ano, um aumento de 105% em relação a 2024, com 58% desse volume destinado a produtos de alto padrão. As vendas líquidas atingiram R$ 2,46 bilhões, demonstrando um ritmo de comercialização resiliente.
Por sua vez, a EZTEC (EZTC3) adaptou seu mix de produtos para focar no médio padrão. Apesar da queda de 32% nos lançamentos, as vendas subiram 6%, com o VSO (Vendas sobre Ofertas) aumentando de 31,7% para 34,4%, o que indica uma rápida absorção das unidades disponíveis.
Protagonismo das Construtoras na Bolsa de Valores
O relatório do BB Investimentos reafirma a robustez do setor de construtoras, destacando seus fundamentos sólidos e uma perspectiva otimista. O mercado imobiliário brasileiro continua a mostrar um grau elevado de atividade, impulsionado por condições de crédito mais favoráveis e pela eficiência das gestões das empresas.
Mesmo diante das incertezas do cenário macroeconômico, os investidores podem encontrar oportunidades valiosas no setor de construção, que combina crescimento, previsibilidade e resiliência. A percepção é de que este segmento se mantém como um dos mais promissores para aqueles que buscam diversificar e potencializar suas carteiras de investimentos.
Assim, ao observar o cenário das construtoras, é importante considerar não apenas os números, mas também as estratégias que estão sendo implementadas para driblar dificuldades e aproveitar as oportunidades que surgem, o que demonstra a dignidade do setor em um ambiente econômico desafiador.