Subsídio Automotivo: Governo Federal, o “Pão e Circo” e o Fraco Crescimento do Setor
Caros leitores, digníssimas leitoras,
O governo federal decidiu aplicar, mais uma vez, a clássica estratégia de “pão e circo”, conceito eternizado pelo imperador romano Otávio Augusto no século I d.C., agora adaptado ao setor automotivo. O subsídio de R$ 500 milhões, lançado em maio de 2023, deveria impulsionar as vendas de carros novos ao longo de quatro meses, mas esgotou-se em menos de 30 dias. Agora, um novo valor adicional de R$ 300 milhões foi anunciado, mas será que isso realmente resolve o problema do setor?
Resultados de Junho: Crescimento de Apenas 3%
Vamos aos números: até o dia 29 de junho, o setor automotivo registrou a venda de 153 mil carros. Com as vendas do último dia do mês, a projeção é que o volume chegue a cerca de 170 mil unidades.
- Crescimento pífio: Isso representa apenas 3% de aumento em relação a maio (166 mil carros).
- Retrocesso: Comparado a março (melhor mês do ano com 186,5 mil unidades), as vendas caíram 8%.
Impacto Desequilibrado: Pessoas Físicas vs. Pessoas Jurídicas
Embora as vendas para pessoas físicas tenham crescido 17%, o programa apresentou um efeito colateral: as vendas para pessoas jurídicas caíram 16%.
E por que isso é preocupante?
- As empresas, incluindo locadoras, representam cerca de 46% das vendas de carros novos nos últimos 24 meses.
- O governo simplesmente “tirou dinheiro de um bolso para colocar no outro”, sem gerar impacto real no mercado.
Locadoras e o Novo Subsídio: Compensação ou Estratégia?
As locadoras de veículos, que haviam sido excluídas inicialmente dos descontos patrocinados, devem ter reclamado muito. Movida e Localiza, por exemplo, estimaram perdas de quase R$ 800 milhões devido à queda nos preços dos carros novos. Não por acaso, os R$ 300 milhões adicionais anunciados pelo governo agora incluem as empresas no programa, fazendo com que os subsídios evaporarem até 06/07/2023.
A Medida Resolve os Problemas do Setor Automotivo?
Vamos às perguntas essenciais:
- As previsões de vendas para o setor serão revisadas? Não.
- As montadoras evitarão demissões ou paralisações? Não.
- O ritmo de produção das fábricas será mantido? Não.
Exemplo claro é a Volkswagen (VW), que continua interrompendo operações. Mesmo com os subsídios, o cenário estrutural do setor automotivo segue inalterado.
Um Voo de Galinha: O Crescimento Artificial e Temporário
Esse “benefício do governo” beneficiou, basicamente, dois públicos:
- Consumidores que já planejavam comprar carros no final de maio.
- Compradores que anteciparam suas aquisições de meses futuros.
Ou seja, trata-se de um “crescimento artificial”, que não resolve problemas estruturais como crédito restrito, altos juros e demanda enfraquecida.
Conclusão: Uma Solução Superficial
O subsídio automotivo do governo, embora bem-intencionado, apresentou um impacto marginal e temporário. Ao invés de soluções estruturais, o mercado recebeu uma política que mais parece um “voo de galinha”, impulsionando vendas por apenas algumas semanas.
Como já vimos outras vezes, ações pontuais sem mudanças reais no cenário econômico dificilmente trarão resultados sustentáveis.
O setor automotivo precisa de mais do que “pão e circo” para decolar de verdade.