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Da Flórida para Caçapava do Sul: A Inusitada Trajetória do Azeite Prosperato
Imagine um renomado chef dos Estados Unidos, especialmente de North Palm Beach, na Flórida, viajando até a pequena Caçapava do Sul, um município da Campanha Gaúcha com apenas 30 mil habitantes e a 270 quilômetros de Porto Alegre. A razão dessa jornada? Conhecer a Prosperato, a marca que foi aclamada como a melhor produtora de azeite do hemisfério Sul, segundo o EVOO World Ranking 2024, na sexta-feira, 10 de janeiro.
“Esse reconhecimento é resultado não apenas da qualidade do nosso azeite, mas também do nosso comprometimento”, afirma Rafael Marchetti, sócio-fundador da Prosperato ao lado de seu pai, Eudes Marchetti, que continua ativo aos 65 anos. Rafael lembra que, ao longo dos anos, a marca conquistou cerca de 100 prêmios, incluindo o reconhecimento recente que solidificou sua posição no mercado.
O primeiro contato de Rafael com Rasheed Shihada, o chef mencionado, aconteceu em 2019, após a Prosperato ser premiada no New York International Olive Oil Competition. “Eu nunca imaginei que um chef renomado como Rasheed viria até nós. Ele está tão impressionado com nossa produção que continua a adquirir os nossos azeites até hoje”, revela Rafael, feliz em compartilhar que o chef também aproveitou um rodízio durante sua visita, elogiando a carne como a melhor que já havia provado.
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Em 2024, a Prosperato conquistou mais de 100 prêmios.
O Começo: Mudas e Uma Grande Visão
Eudes Marchetti iniciou a sua trajetória há 30 anos ao abrir uma empresa voltada à venda de mudas, chamada Tecnoplanta. Na época, ele trabalhava como técnico agrícola e coordenador de viveiro na Klabin. “Meu pai sempre diz que de um dia para o outro, deixou de ser funcionário e passou a ter 150 colaboradores”, conta Rafael. Desde 1991, a Tecnoplanta se dedicou à produção de mudas florestais para pequenos e grandes produtores brasileiros e, nesse ambiente, surgiu o interesse pela produção de azeite.
A grande virada aconteceu durante a crise financeira de 2008, quando a família percebeu a necessidade de diversificar seus negócios. Com o aumento do consumo de azeite no Brasil, o cultivo de oliveiras começou a se apresentar como uma opção promissora. “Naquela época, não havia especialistas no Brasil. Então, meu pai e eu decidimos desenvolver mudas de oliveira, usando conhecimentos adquiridos em nosso trabalho com outras espécies”, explica Rafael, ressaltando que, inicialmente, nunca imaginaram que acabariam produzindo seu próprio azeite.
Atualmente, a Prosperato conta com plantações em quatro municípios diferentes, incluindo Caçapava do Sul, onde também se encontra o lagar – local onde se processa o azeite – e uma loja. A produção abrange 200 hectares, resultando em cerca de 35 mil litros de azeite por ano. Em 2024, a família alcançou um faturamento de R$ 8,6 milhões, um aumento expressivo de 32% em relação ao ano anterior.
Variedades e Experimentação: O Que a Prosperato Oferece
A Prosperato cultiva cerca de 50 variedades de oliveiras, entre as quais se destacam:
- Arbequina
- Arbosana
- Koroneiki
- Picual
- Frantoio
- Coratina
- Galega
- Ascolana Tenera
Além do cultivo de azeites, a Prosperato também investe na produção de noz pecan e experimenta a integração com a criação de ovinos. No entanto, a presença dos ovinos foi suspensa temporariamente porque, segundo Rafael, as ovelhas tendem a roer a casca de algumas variedades de oliveiras, o que pode comprometer as árvores. Apesar disso, o uso de animais como podadores naturais ainda é uma ideia em desenvolvimento, e outras espécies, como equinos e suínos, podem ser incorporadas futuramente.
A Filosofia de Produção da Prosperato
A marca Prosperato não apenas celebra suas conquistas, mas também adota uma filosofia de produção cuidadosa e sustentável. Rafael compartilha que um ditado popular, “quem tem cuidado não dorme”, reflete bem a mentalidade da empresa. “Realizamos um trabalho contínuo de preparo e correção do solo, usando ciclos de cobertura vegetal para minimizar o uso de herbicidas. Temos uma intervenção mínima na produção das oliveiras, focando sempre na qualidade”, explica.
O investimento em tecnologia também faz parte da receita do sucesso da Prosperato. “Utilizamos centrifugação e filtragem modernas, o que assegura um produto de alta qualidade”, diz Rafael. Para ele, cada etapa do processo – tanto no campo quanto no lagar – é crucial para garantir os padrões exigidos que levaram a Prosperato a ser reconhecida internacionalmente. Com uma equipe de 35 funcionários, o quadro pode chegar a até 100 colaboradores durante a safra.
Rumo ao Reconhecimento Nacional
Produzir azeite de altíssima qualidade não é apenas uma questão de prestígio ou prêmios, mas também de mostrar aos brasileiros que o país é capaz de ser um grande produtor. Em 2024, a Prosperato trouxe para casa mais de 100 troféus internacionais, vencendo prêmios como o Athena IOOC na Grécia, onde o azeite temperado com pimenta jalapeño foi reconhecido como o melhor do mundo na sua categoria.
Rafael acredita que o investimento em azeite tem um impacto positivo na percepção do Brasil no mercado global. “Se não tivéssemos apostado na produção de azeite, não teríamos conseguido demonstrar a viabilidade econômica, técnica e qualitativa do nosso negócio para o resto do Brasil”, destaca.
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A Prosperato pesquisa cerca de 50 variedades de oliva.
Com relação ao cenário do azeite no Brasil, o país produziu cerca de 400 mil litros em 2024, concentrados principalmente nas regiões do Rio Grande do Sul e Serra da Mantiqueira, em São Paulo. Apesar desse aumento significativo de 23% em relação ao ano anterior, o Brasil importou 78 mil toneladas de azeite até dezembro do ano anterior, com Portugal sendo o principal fornecedor.
Embora a produção nacional de azeite premium ainda seja discreta e sem dados concretos, marcas como a Prosperato estão começando a se destacar no exterior. Rafael já tem clientes na Flórida, muitos deles atraídos pela atuação de Rasheed Shihada. “Isso é um prêmio por si só, mas meu objetivo é muito mais ambicioso: quero que os brasileiros reconheçam a qualidade do nosso azeite”, afirma. “Enquanto muitos países utilizam prêmios para se posicionar em outros mercados, nós queremos mostrar para o Brasil que temos um azeite excepcional.” De fato, o Brasil ainda não consegue produzir nem 1% da sua própria demanda.