
Imagine saborear uma barra de chocolate que une a cremosidade do chocolate branco com os aromas envolventes de café, criando uma experiência de sabor semelhante a um café pingado. Agora, pense em outra barra que apresenta puro chocolate branco, enriquecido com flocos de arroz e especiarias como canela, trazendo à mente o delicioso arroz doce. E não podemos esquecer das combinações inusitadas, como chocolate ao leite com framboesas e raspas de limão, ou quem sabe, chocolate com leite de coco e um toque de caramelo queimado.
É uma verdadeira festa de sabores.
Mas, em meio a prazeres como esses, há um alerta: o preço do chocolate subiu. A inflação impactou o seu doce favorito. E atenção, longe de ser um problema simples – não estamos aqui para discutir economia.
O aumento de preço do chocolate
Se você não tem acompanhado a cotação do cacau nas bolsas de valores internacionais, talvez tenha sido pego de surpresa ao descobrir que o chocolate ficou mais caro.
Quando se trata de chocolates de alta qualidade, especialmente aqueles feitos com cacau fino ou da cultura de árvores específicas, como os mencionados anteriormente, os produtos premium tendem a desaparecer das prateleiras.
A razão por trás disso? Uma queda significativa na produção de cacau, impulsionada pela crise climática que afeta nosso planeta. Essa situação fez o preço da saca de cacau disparar, chegando a mais de 300% de aumento.
Você pode estar pensando: “A crise climática é um tópico distante, reservado a encontros de líderes mundiais e promessas para o futuro.” Mas a verdade é que a crise já está aqui.
Três pontos importantes a considerar |
Estudos indicam que a crise na produção global de cacau deve persistir por mais dois a três anos, afetando tanto os preços da indústria quanto dos produtores artesanais, mas esses problemas não são permanentes. |
Mesmo após a crise, os fabricantes de chocolate de cacau fino ou de árvore para barra não devem voltar atrás na classificação de seus produtos como itens premium e, por isso, espera-se que os consumidores continuem a pagar preços elevados. |
Se você encontrar chocolate nos mesmos preços do ano passado, é sinal de que a indústria pode ter reduzido a quantidade de cacau puro, substituindo por açúcar, leite ou outros aditivos. Ou, talvez, alguém na cadeia de produção esteja se esforçando para manter os preços controlados para você. |
Os dois maiores produtores de cacau, Costa do Marfim e Gana, que representam cerca de 60% da produção global, têm enfrentado uma série de desafios climáticos e questões de regulação que afetam a produção, além de problemas como a mineração ilegal, que destrói terras produtivas. E, por incrível que pareça, a falta de investimentos só agrava a situação.

Esses fatores resultaram em uma queda expressiva na produção, impactando todo o mercado. Na Bolsa de Nova York, o preço da tonelada de cacau atingiu em abril a assustadora marca de US$ 12 mil, enquanto a média do ano gira em torno de US$ 8 mil a US$ 9 mil. Em agosto de 2022, o preço era de apenas US$ 2.394.
E os impactos em outros lugares
Embora a África seja diretamente afetada, outras regiões também enfrentam desafios relacionados ao clima e à falta de investimento. No sul da Bahia, por exemplo, onde o Brasil é um dos seis maiores produtores de cacau, as mudanças climáticas resultam em um clima mais seco quando deveria estar úmido, e mais úmido quando deveria ser seco. Essa desordem impacta diretamente o crescimento das árvores de cacau.
A crise não é restrita a um único continente.
Será que essa situação é vantajosa para os produtores que agora podem vender o cacau a preços altíssimos? Teoricamente, poderia ser. Mas a realidade é mais complicada, pois há escassez de cacau.
“Este ano, nós perdemos quase 50% da nossa produção. Não estamos em uma posição privilegiada. Estamos enfrentando a mesma crise”, declara Juliana Aquino, que atua na cacauicultura no sul da Bahia (Fazenda Vale Potumuju) e é sócia da marca de chocolates Baianí em São Paulo. “Enquanto fazendas na África relataram perdas de 60% na produção, na Bahia, a redução foi de pelo menos 40%.”
Claudia Gamba, da Fazenda Bonança e da marca de chocolates Mestiço, enfrenta a mesma realidade.
“Desde junho, não tenho cacau suficiente para vender aos meus parceiros de cacau fino. O estoque da Mestiço está no limite.”
Tanto Juliana quanto Claudia, assim como muitos outros, estão lidando com perdas significativas.
A consequência disso é que a pequena produção restante é absorvida pela grande indústria, que paga preços inflacionados, mantendo os valores elevados. Enquanto há um ou dois anos, o quilo do cacau especial na Bahia custava cerca de R$ 40, o valor já alcançou R$ 90.
A crise se reflete no consumidor
As pequenas marcas de chocolate que trabalham com cacaus de qualidade e que não dispõem das mesmas margens e investimentos que a grande indústria, estão elevando seus preços. Recentemente, esse aumento chegou a aproximadamente 10% para produtos que variam entre R$ 25 a R$ 30 (80g a 100g).
Gislaine Gallette, da marca Gallette em São Paulo, viu o custo do quilo do cacau subir de R$ 30 para R$ 75. Para compensar, ela aumentou em 12% o preço de suas barras. “Se repassarmos todos os aumentos para os consumidores, o mercado simplesmente não absorve. Chocolate acabará se tornando um produto ainda mais premium, mas isso não é justo, pois muitos não estão dispostos a pagar.”
Arcelia Gallardo, da Mission Chocolate, teve que reduzir sua equipe e excluir algumas barras de menor venda da linha. Para as que permanecem, os preços agora variam de R$ 30 a R$ 34.
“Recentemente, paguei R$ 90 no quilo do cacau e a manteiga de cacau, que costumava custar R$ 56, agora está em R$ 220. Nunca pensei que o chocolate se tornaria um item de luxo. Sempre imaginei meus produtos acessíveis. E mesmo assim, os produtores não estão lucrando, pois não têm cacau suficiente para atender à demanda.”
A expectativa de muitos produtores é que o mercado se estabilize em um prazo de dois a três anos, mas é improvável que os preços das barras voltem aos patamares anteriores.
As marcas de cacau fino, que produzidos com atenção desde as amêndoas até a barra, garantem condições justas em toda a cadeia, estão se posicionando como produtos premium. A experiência sensorial desses chocolates vale o investimento.
Experimente degustar uma barra de chocolate branco caramelizado, que remete ao doce de leite, acompanhada de café e flor de sal (da Mission), ou um chocolate que remete a uma “caipirinha”, com raspas de limão e cacau infusionado na cachaça (da Baianí).
Que tal investir em um desses sabores incríveis?