
Imagens Anadolu/Getty
A recente Cúpula Climática da ONU, realizada em Belém, trouxe um resultado que deixou muitas expectativas frustradas. O acordo firmado, embora progressista em algumas áreas, não atendeu a solicitações cruciais de diversos países ao redor do mundo. Entre os pontos discutidos, destacou-se um compromisso dos países desenvolvidos em triplicar os investimentos para ajudar na adaptação ao aquecimento global — uma medida positiva, mas que deixa muitos outros desafios sem solução.
Vamos explorar os principais desdobramentos desta cúpula e entender como as decisões tomadas podem impactar o futuro do planeta.
Desafios na Transição dos Hidrocarbonetos
O início da cúpula foi marcado por um apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pediu aos países participantes um compromisso firme em relação ao abandono de combustíveis fósseis, um ponto destacado na COP28. No entanto, o que se viu foi um bloqueio por parte de nações ricas em petróleo e outras dependentes desses combustíveis, que impediram a inclusão de qualquer menção significativa sobre a transição energética.
Como resultado, um plano voluntário foi proposto, permitindo que os países decidissem se adeririam ou não. A experiência se mostrou similar aos encontros anteriores, como a COP27, onde ficou claro que, embora recursos sejam prometidos para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, a natureza do problema — a dependência de fontes fósseis de energia — não foi abordada de maneira eficaz.
- Quase 75% das emissões globais de gases de efeito estufa vêm do carvão, petróleo e gás.
- A expectativa da Agência Internacional de Energia é que a demanda por esses recursos continue crescendo até 2050.
- A ausência de políticas claras para a transição energética gera preocupações sobre um futuro sustentável.
Unidade Global nas Negociações Climáticas
A busca por uma unidade global na discussão sobre os desafios climáticos esteve em destaque. Os países reconheceram que as nações mais ricas, historicamente responsáveis por mais poluição, devem tomar a frente na solução desses problemas. Contudo, ao tentar alcançar um consenso final, muitos compromissos ambiciosos foram abandonados, incluindo metas de emissão de gases de efeito estufa mais rígidas.
A ausência dos Estados Unidos, a maior economia do mundo e seus impactos ambientais significativos, enfraqueceu significativamente a tratativa das negociações. Muitos se sentiram frustrados pela falta de um plano claro, o que levou a um clamor por reformas no processo de tomada de decisões.
O Brasil prometeu uma “COP da Verdade”, mas, ao final, a falta de acordos concretos deixou um sentimento de desilusão entre os envolvidos.
O Papel da China nas Negociações
A China se destacou de maneira sutil, mas influente, durante a cúpula. Embora o presidente Xi Jinping não tenha participado ativamente, sua delegação apresentou um forte compromisso com a oferta de tecnologia em energias limpas, essencial para a redução das emissões globais.
Empresas chinesas focadas em soluções de energia renovável, como solar, baterias e veículos elétricos, estiveram em evidência, criando um ambiente propício ao diálogo sobre implementações práticas no futuro. Além da China, outros países emergentes, como a Índia e a África do Sul, também se mostraram mais assertivos nas negociações, propondo agendas climáticas que refletissem as necessidades de suas realidades.
Florestas e Direitos Indígenas
O Brasil, como anfitrião da cúpula em uma região amazônica, enfatizou a importância da preservação das florestas e o papel dos povos indígenas como guardiões das terras naturais. No entanto, muitos participantes expressaram frustração por não serem ouvidos durante as discussões, culminando em protestos que chamaram atenção para suas demandas.
Embora tenham sido anunciados cerca de US$9,5 bilhões em financiamentos para a proteção das florestas, a cúpula descuidou de um plano para alcançar a meta de desmatamento zero até 2030 e não reconheceu formalmente os direitos sobre as terras indígenas.
- US$7 bilhões foram destinados ao fundo de florestas tropicais do Brasil.
- US$2,5 bilhões foram anunciados para uma iniciativa de proteção das florestas no Congo.
A Ciência do Clima em Debate
Apesar das vozes de líderes como Lula, que se posicionaram contra a desinformação, a COP30 teve um impacto limitado na luta contra os ataques à ciência climática, especialmente aqueles promovidos pelo governo dos EUA. O consenso global acerca da necessidade de ações baseadas nas evidências científicas foi enfraquecido.
O resultado final da cúpula ignorou a importância de reconhecer o trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas como a “melhor ciência disponível”. Em vez disso, o acordo mencionou a relevância de estudos realizados em países em desenvolvimento, assim como outros grupos regionais, diluindo a confiança nas recomendações de especialistas reconhecidos.
A falta de ações firmes sobre combustíveis fósseis e reduzidas metas de emissões deixou um rastro de incertezas e preocupações entre os científicos e ambientalistas, reafirmando a necessidade de um diálogo mais profundo e efetivo nas próximas ações climáticas.
Esse cenário alarmante exige que todos nós reflitamos sobre nossas próprias responsabilidades diante das mudanças climáticas que afetam nossa sociedade e o planeta como um todo. O que podemos fazer individualmente e coletivamente para garantir um futuro mais sustentável?
As discussões e decisões da COP30 revelam uma nova camada de complexidade nas relações internacionais, especialmente em uma época em que a urgência das questões climáticas não pode ser ignorada. O chamado à ação está mais presente do que nunca, e é imperativo que líderes e cidadãos se unam para enfrentar os desafios que ainda estão por vir.