

re.verde
Mesmo com menos de cinco anos desde sua fundação, a re.verde já se destaca no cenário da sustentabilidade ao conquistar o respeitado Earthshot Prize, uma premiação que muitos consideram o “Oscar da sustentabilidade”. Idealizado pelo Príncipe Guilherme, herdeiro da coroa britânica, o prêmio visa reconhecer e impulsionar soluções inovadoras que combatem a crise climática.
Com a COP-30 acontecendo no Brasil, mais especificamente em Belém do Pará, a cerimônia de premiação teve como cenário o famoso Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, no dia 5 de outubro.
A re.green, como é comumente chamada, ganhou na categoria “Proteger e Restaurar a Natureza”, superando mais de 2,8 mil concorrentes de diversas partes do mundo. Além de receber uma importante visibilidade, a empresa levou para casa 1 milhão de libras (equivalente a R$ 7,3 milhões) para expandir seus projetos de regeneração florestal.
Enquanto ainda há quem trate a sustentabilidade como uma mera promessa empresarial, a re.green já abraça essa ideia como uma realidade. Em palavras do seu CEO, Thiago Picolo, o futuro dos negócios passa pela quebra de paradigmas que separam rentabilidade e impacto ambiental.
Em entrevista à Forbes, Thiago destacou que a escolha de um nome no estilo “americanizado” para a re.green foi intencional, visando criar uma identificação global. “Um nome que se comunique em qualquer idioma, especialmente o inglês, que é a língua dos negócios, foi um passo estratégico para expandir nosso alcance internacional”, explicou.
re.verde
Thiago Picolo revela que a premiação foi uma total surpresa
A escolha por escrever “re.green” com “r” minúsculo simboliza a noção de que o ser humano é uma parte intrínseca de um sistema maior: a natureza.
Iniciativas e Crescimento Sustentável
Fundada no final de 2021 por uma equipe de pesquisadores e executivos liderados pelo economista Bernardo Estrasburgo, da PUC-Rio, a re.green nasceu com a missão de regenerar florestas em larga escala. A empresa se dedica ao reflorestamento e à restauração ecológica, atendendo a empresas que buscam compensar o impacto ambiental de suas atividades.
Thiago Picolo esclarece que esse modelo de negócio é intensivo em capital, exigindo investimentos substanciais desde o início, com retornos esperados a longo prazo. A re.green consegue contar com investidores renomados, como o documentarista João Moreira Salles, da família controladora do Itaú Unibanco, e a Gávea Investimentos, liderada pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
A primeira aquisição de terras aconteceu no sul da Bahia, no município de Onápolis, onde uma muda foi plantada em outubro de 2022. “Adquirimos a propriedade em maio de 2022 e, até outubro, trabalhamos na preparação do terreno, obtendo licenças e buscando fornecedores”, afirmou Picolo.
A segunda área comprada foi localizada na Amazônia, no Maranhão, sendo adquirida em dezembro de 2022. No entanto, hoje a re.green já mantém contratos com nomeações como Microsoft, Nestlé e Vivo, comprometendo-se com a regeneração florestal e a geração de créditos de carbono.
Para a re.green, a sustentabilidade está diretamente ligada à rentabilidade; Picolo acredita que ambas caminham juntas. A empresa se define como “for-profit”, priorizando a geração de valor econômico por meio de suas atividades de restauração.
“A restauração florestal é similar à construção de infraestrutura: requer um investimento inicial alto, mas traz retornos consistentes ao longo do tempo. É como construir uma estrada, mas no nosso caso, estamos construindo florestas”, detalhou Picolo.
Ainda que reconhecida como uma startup pelo prêmio Earthshot, a re.green já se considera uma empresa estabelecida, com um modelo de negócios sólido e em franca expansão.
Impacto e Ambições de Crescimento
Com aproximadamente 40 mil hectares restaurados nas regiões da Amazônia e da Mata Atlântica, a re.green tem uma meta audaciosa: restaurar 200 mil hectares até 2030. Somente os dois contratos com a Microsoft prometem recuperar 35 mil hectares — algo comparável a quatro vezes o território da cidade de Paris.
“A Microsoft foi nosso primeiro parceiro e essa é uma conquista marcante, pois toda estratégia de negócios precisa de alguém que acredite e tome a iniciativa financeira”, observou Picolo. Sua parceria inicial com o BNDES, por meio do Fundo Clima, também foi crucial para iniciar as operações da empresa.
O Banco Nacional de Desenvolvimento se tornou um importante aliado para iniciativas de restauração, disponibilizando recursos para projetos de longo prazo que buscam a preservação ambiental e a recuperação de ecossistemas.
A re.green se tornou a primeira empresa a obter aprovação do Fundo Clima, um financiamento de R$ 187 milhões. “Isso é um reconhecimento significativo e apropriado ao nosso modelo de negócios”, comentou Picolo. Na prática, a companhia realiza análises geoespaciais para determinar as áreas mais propensas à restauração, seguido por visitas para formalizar os direitos sobre essas terras.
Embora a maioria das terras sejam compradas, a re.green está começando a adotar o modelo de arrendamento. Esse novo formato permite que a empresa use terras de terceiros para restauração ecológica, evitando os altos custos de aquisição. Em troca, a re.green se compromete a gerir a regeneração do solo durante o período acordado.
“Recentemente, firmamos nossas duas primeiras parcerias de arrendamento”, contou o CEO. Essa abordagem exige que os proprietários confiem na empresa, pois não estão simplesmente recebendo um pagamento e se afastando; eles abrem suas propriedades para que a re.green atue. Em outras palavras, o proprietário precisa acreditar que, ao fazer isso, irá obter um retorno financeiro maior.
Essa estratégia confere maior flexibilidade ao processo de recuperação, permitindo um número maior de restaurações sem os elevados custos de aquisição. Além disso, expande a capacidade da re.green de restaurar mais áreas.
Desafios e Futuro Brilhante
O objetivo principal é restaurar 200 mil hectares de áreas degradadas até 2030. “Queremos continuar crescendo em tamanho, expandindo nossa base de clientes, aumentando a equipe e a rentabilidade”, ressaltou Picolo. Desde seu início, a re.green entendeu que um maior impacto ambiental e científico geraria um retorno financeiro mais significativo.
Apesar de já estar bem estabelecida no mercado, o chefe da re.green reconhece que a área ainda está em formação. “Enquanto construímos nossa empresa, paralelamente ajudamos a estruturar o setor”, reminiscência Picolo.
Entretanto, um dos principais desafios reside na aquisição de terras. Com 194 milhões de hectares de pastagens no Brasil, cerca de metade já é considerada degradada. “A aquisição dessas terras não é simples; precisamos estar em locais estratégicos por motivos de retorno financeiro, além de considerações de titularidade. Essa busca ainda ocorre de maneira muito manual”, desabafou.
re.verde
A re.green já recuperou milhares de hectares de terras brasileiras
Outro desafio é a logística operacional. Embora a re.green possua conhecimento técnico e científico, muitas áreas são remotas e de difícil acesso, frequentemente sem infraestrutura adequada e equipamentos pesados disponíveis. Para isso, a empresa precisa desenvolver novos fornecedores que conseguirão proporcionar a escala e agilidade necessárias.
Uma Surpresa Gratificante
Sobre a premiação, Thiago Picolo revelou que o resultado foi totalmente inesperado, dado o alto número de concorrentes. “Passamos por várias fases, ao longo de quase um ano, entre relatórios, informações, entrevistas e inspeções. A cada fase que avançávamos, nosso entusiasmo crescia. Quando fomos anunciados entre os 15 finalistas, foi uma vitória incrível”, comentou o CEO.
Assim como no Oscar, não houve notificações prévias sobre os vencedores, nem uma contagem pública dos pontos. Na fase final, há cinco categorias com três finalistas cada, e um vencedor é anunciado ao vivo.
A re.green também competia com iniciativas notáveis, como o fundo TFFF, dedicado à proteção de florestas, que arrecadou bilhões em diferentes países, e a Tenure Facility, que garante direitos de propriedade a comunidades indígenas em várias regiões, incluindo Indonésia, Ásia, África e Brasil.
“Esse prêmio é extremamente impactante. Para a empresa, ele gera visibilidade, facilita a formação de parcerias e abre portas com investidores e instituições financeiras”, concluiu Picolo.