Dolcetto: O Vinho Incompreendido de Piemonte
A charmosa região do Piemonte, localizada no noroeste da Itália, é famosa por seus deliciosos vinhos tintos. Reconhecida mundialmente por suas joias enológicas como Barolo e Barbaresco, a região também abriga variedades menos conhecidas, porém igualmente cativantes, como Barbera, Grignolino e Ruché. Mas e o Dolcetto, você já ouviu falar? Este é um tema que merece ser explorado.
A História do Dolcetto
Embora o Dolcetto tenha um espaço significativo na tradição vitivinícola do Piemonte, sua popularidade decaiu ao longo dos anos. Algo curioso: há 40 ou 50 anos, esse vinho já chegou a superar as vendas do prestigiado Barolo. Afinal, por que um vinho com tanta história e potencial não está recebendo a atenção que merece?
O Que Está Por Trás da Desvalorização?
Uma das razões mais mencionadas para a falta de reconhecimento do Dolcetto está ligada ao seu nome. “Dolcetto”, que em italiano significa “doce”, pode gerar confusão. A expectativa de um vinho doce não condiz com o que esse tinto realmente oferece: ele é seco e, embora delicioso quando jovem, pode se beneficiar de alguns anos em garrafa para revelar todo o seu esplendor.
Paolo Boschis, especialista em vinhos da vinícola Francesco Boschis, localizada em Dogliani, nos explica:
“Até os anos 1980, o Dolcetto era considerado um dos vinhos mais acessíveis da região. Naquela época, muitos produtores começaram a experimentar técnicas que tornaram o Nebbiolo — a uva utilizada para Barolo e Barbaresco — mais popular, o que afetou a imagem do Dolcetto.”
Custo de Produção e Qualidade
Outro aspecto importante a considerar é o custo de produção do Dolcetto. “Essa variedade demanda mais atenção no vinhedo do que o Nebbiolo”, diz Boschis. Esta atenção traz um custo elevado, o que pode limitar o potencial de preços mais populares.
Curiosidades sobre a Uva Dolcetto
- Requer mais de 80 horas de trabalho por hectare por ano, em comparação com o Nebbiolo.
- Apesar de ser vista como um vinho “mais simples”, a qualidade do Dolcetto pode impressionar.
Uma Tradição Enraizada
O Dolcetto é mais do que um vinho: é parte da identidade do Piemonte. Federica Boffa, da vinícola Pio Cesare, destaca:
“O Dolcetto sempre foi tão importante para nós quanto Barbera e Nebbiolo. Ele se adapta bem ao nosso terroir, oferecendo uma versão mais acessível e frutada dos nossos vinhos.”
Em sua vinícola, o Dolcetto é tratado com o mesmo carinho que seus irmãos mais famosos. Apenas com alguns meses de maturação em tanques de aço inox, eles buscam preservar a frescura e a acidez, produtos da rica terra desse terroir.
O Legado do Dolcetto e suas Variedades
Na região de Barbaresco, o enólogo Riccardo Sobrino mantém uma dedicação notável ao Dolcetto. Com sua produção “A Elizabeth”, ele explica que, embora o mercado possa não ser tão favorável, continuar a produzir essa variedade é uma questão de princípio:
“Poderíamos plantar Nebbiolo e aumentar nosso lucro, mas preservar variedades locais é crucial para a autenticidade da nossa região.”
Dolcetto d’Alba: Um Case de Sucesso
Um dos mais conhecidos, o Dolcetto d’Alba, tem ganhado cada vez mais reconhecimento. Possui características marcantes, com alta expressividade e frescor, além de um potencial de envelhecimento surpreendente. Na verdade, um Dolcetto bem feito pode envelhecer com elegância por até 15 anos, ganhando complexidade.
Estilos e Regiões
Além do Dolcetto d’Alba, existe a denominação Dogliani (ou Dolcetto di Dogliani). Esta versão é cultivada em uma região de clima mais fresco, resultando em vinhos com maior acidez e estrutura. Podemos destacar as seguintes características:
- Dolcetto d’Alba: Estilo mais imediato, fácil de beber, ideal para apreciação jovem.
- Dolcetto di Dogliani: Com uma colheita mais tardia, resulta em vinhos que demandam mais tempo para amadurecer, ganhando complexidade e frescor.
Degustações e Avaliações
A qualidade dos Dolcettos atuais tem impressionado, e aqui estão algumas notas de degustação de vinhos recentes:
Luigi Pira Dolcetto d’Alba 2023
- Aparência: Rubi vermelho brilhante
- Aromas: Framboesa e cereja
- Estilo: Elegante e com bom caráter varietal.
- Avaliação: 92 pontos
Pio Cesare Dolcetto d’Alba 2023
- Aparência: Granada escarlate
- Aromas: Ameixa e cranberry
- Estilo: Fresco e equilibrado.
- Avaliação: 91 pontos
Cascina delle Rose Dolcetto d’Alba “A Elizabeth” 2024
- Aparência: Granada de profundidade média
- Aromas: Ameixa e alfarroba
- Estilo: Sensual e complexo, ideal para os próximos 3 a 6 anos.
- Avaliação: 93 pontos
O Futuro do Dolcetto
À medida que o mundo do vinho continua a evoluir, é fundamental que os produtores de Dolcetto permaneçam fiéis ao seu legado. Fortalecer a conexão com o consumidor e educar o público sobre as qualidades do Dolcetto têm se mostrado essenciais. Boschis ressalta que:
“Promover e explicar a beleza desse vinho é crucial. Ele pode estar fora dos holofotes, mas temos a missão de algo maior: manter a autenticidade e a tradição do Dolcetto.”
Por fim, Dolcetto é um vinho que talvez não receba a notoriedade de Barolo ou Barbaresco, mas tem sua própria história rica e sabor único que merece ser celebrado. Que tal incluir uma garrafa de Dolcetto na sua próxima degustação e descobrir os encantos dessa uva fascinante?
Fique à vontade para compartilhar suas experiências com o Dolcetto e se encantar ainda mais pelo mundo dos vinhos!
