A Guerra na Ucrânia: Uma Luta pela Sobrevivência
Nos últimos três anos, a Ucrânia tem enfrentado um conflito devastador contra a Rússia, que agora se intensificou ainda mais. De ataques aéreos quase diários, com drones e mísseis bombardeando cidades, até a destruição de infraestruturas essenciais, a situação só se agrava. Milhões de ucranianos foram forçados a abandonar suas casas e muitos que fugiram desde 2022 ainda não puderam retornar. Nesse cenário sombrio, as forças ucranianas continuam a lutar bravamente, mas a um alto custo.
As Expectativas de Paz na Ucrânia
Diante desse quadro alarmante, poderia-se imaginar que a população ucraniana apoiaria qualquer esforço para um cessar-fogo. Para muitos analistas do Ocidente, isso parece lógico. Afinal, a Rússia parece incapaz de avançar significativamente, enquanto as forças ucranianas lutam para reconquistar os territórios sob controle russo, um desafio colossal, dado o desgaste militar.
Entretanto, o pensamento popular na Ucrânia é bem diferente. A promessa de um rápido fim da guerra, como mencionada pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, e o receio de que a ajuda militar ocidental possa ser reduzida, fizeram soar alarmes em vários setores da sociedade ucraniana. Apesar da pressão para um acordo de cessar-fogo, a visão do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é de que a vitória deve ser o foco. Muitos ucranianos são céticos quanto à possibilidade de um acordo, pensando que "nenhum acordo é melhor do que um mau acordo". Esta determinação em continuar lutando pode parecer irracional à primeira vista, mas tem profundas raízes históricas e culturais.
A Resiliência dos Ucranianos
Um dos fatores que explicam essa resiliência é a capacidade de recuperação da sociedade ucraniana. Mesmo com o desgaste da guerra, a vida cotidiana tem resistido e se adaptado. O suporte orçamentário ocidental, que representa cerca de 20% do PIB da Ucrânia, contribuiu para um crescimento econômico de 4,4% ao longo dos últimos dois anos. Além disso, a inflação está sob controle, e a renda familiar teve uma leve recuperação. Desde meados de 2023, os drones ucranianos conseguiram neutralizar a frota russa do Mar Negro, permitindo a reabertura de rotas comerciais e um aumento de 15% nas exportações.
Ademais, a produção nacional de armamentos cresceu, com aproximadamente 40% das armas utilizadas pela Ucrânia agora sendo fabricadas internamente, comparado a quase nada em 2022. Esses avanços, apesar de não apagarem as dificuldades da guerra, conferem à sociedade ucraniana uma adaptabilidade que pode não ser perceptível para observadores externos.
O Impacto da Ocupação Russa
No cerne da perspectiva ucraniana sobre a guerra estão os efeitos profundos e complexos da ocupação russa. A ocupação russa não começou em 2022, mas remonta à anexação da Crimeia e à lotear partes do Donbas em 2014. O terror da dominação militar russa foi sentido em várias regiões, com atos de brutalidade nos subúrbios de Kyiv durante os primeiros dias da invasão.
Os ucranianos estão cientes de que a ameaça da Rússia vai além das áreas ocupadas. Não apenas seis milhões de pessoas vivem sob controle russo, mas essa ocupação impacta milhões de deslocados que foram forçados a se mudar, além daqueles que têm parentes ainda sob domínio russo. Muitos ucranianos também percebem que o que foi caracterizado no Ocidente como atrocidades são, na verdade, uma estratégia central da guerra da Rússia. O controle sobre as populações ucranianas é uma ferramenta para desestabilizar o restante do país, mesmo sem conquistar mais território.
A Realidade Brutal nas Áreas Ocupadas
A ocupação russa resultou na aniquilação de muitos aspectos da vida cotidiana. Cidades como Mariupol e Sievierodonetsk foram severamente danificadas, com suas infraestruturas quase completamente destruídas. Em Mariupol, que antes da invasão era um próspero porto, 95% da cidade foi devastada, e as estimativas indicam que apenas cerca de 90 mil residentes permanecem.
As estratégias de ocupação, que se seguiram àquelas implementadas na Crimeia, foram impostas de maneira ainda mais brutal. A administração russa tem silenciado qualquer tipo de resistência e promovido o medo como forma de controle. Aqueles que se opõem ou que são considerados "suspeitos" enfrentam prisões, torturas e, em alguns casos, até mesmo a morte. Um exemplo impactante é o tratamento dado a líderes comunitários e veteranos militares, que frequentemente se tornam alvos por não colaborarem com os ocupantes.
Lições da Crimeia
As táticas utilizadas na ocupação da Crimeia em 2014 foram aprimoradas e se tornaram um modelo para a ocupação russa na Ucrânia. A imposição de um sistema de passaportes russos, a negação de serviços médicos e a repressão de expressões culturais ucranianas têm como objetivo não apenas controlar, mas também transformar a identidade local. As escolas, por exemplo, passaram a ser adaptadas para promover uma ideologia russa, desestimulando qualquer referência ao passado ucraniano.
O Futuro da Luta Ucraniana
Por trás das conversas sobre cessar-fogo, muitos ucranianos reconhecem que o verdadeiro objetivo da Rússia é transformar a ocupação em uma realidade permanente. Se a Ucrânia e o Ocidente não trabalharem para desmantelar esse status quo, a guerra poderá recomeçar com mais força no futuro. As pesquisas mostram que a resistência à concessão de territórios e ao reconhecimento da ocupação russa ainda é forte na Ucrânia.
Enquanto isso, discutir concessões territoriais como forma de alcançar a paz pode desviar a atenção do problema central: a segurança e a soberania da Ucrânia. Um acordo que não endereçasse a contínua ameaça da Rússia provavelmente resultaria em uma paz temporária, mas instável.
Apesar dos desafios, o futuro da Ucrânia não parece sombrio apenas pela ocupação, mas pela resiliência e determinação de seu povo em lutar por sua soberania. Enquanto a comunidade internacional mobiliza apoio, a Ucrânia deve continuar a buscar não apenas a defesa de seus territórios, mas também a proteção dos direitos e da dignidade de seus cidadãos.
Reflexão Final
A luta da Ucrânia transcende a mera defesa de territórios; é uma luta pela identidade, autodeterminação e dignidade humana. Os horrores da guerra moldam não apenas a história do país, mas também a narrativa de cada ucraniano. Com a determinação renovada e um profundo senso de patriotismo, a Ucrânia continua a luta, reiterando que a paz sem liberdade não é paz. É um chamado para toda a comunidade internacional, não apenas para observar, mas para atuar, garantindo que a soberania e a integridade da Ucrânia sejam respeitadas e preservadas para as gerações futuras.