O Futuro da Síria: Lições do Passado e Oportunidades para um Novo Começo
A Síria vive um momento decisivo em sua história política. Com a nova liderança do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que recentemente tomou o controle de Damasco, a busca por reconhecimento internacional se intensifica. Porém, esse desafio é complicado por um cenário sem precedentes: não há um manual claro sobre como governar um grupo que enfrenta designações terroristas, tampouco há diretrizes para a interação de governos estrangeiros com um ex-afiliado da al-Qaeda. Para entender melhor os próximos passos, é possível tirar lições do retorno do Talibã ao poder no Afeganistão em 2021.
O Contexto do Talibã: Um Aviso Comunitário
Após a tomada de Cabul pelo Talibã, o Afeganistão ficou atormentado por sanções e isolamento econômico. Naquele momento, muitos países hesitaram em agir rapidamente para aliviar a crise humanitária que se alastrou, resultando em um efeito devastador. As sanções impostas pela comunidade internacional não só falharam em moderar o comportamento do Talibã, mas também exacerbaram a pobreza, empurrando a população afegã em direção à fome.
Um dos principais erros foi a falta de disposição para dialogar com o Talibã de forma que promovesse direitos humanos, especialmente os das mulheres. Essa relutância acabou fortalecendo a facção mais radical do grupo, dificultando a construção de uma liderança moderada.
Lições Diretas para a Síria
Os eventos no Afeganistão nos conduzem a duas lições principais que são relevantes para a atual situação na Síria:
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Agilidade nas Respostas: As sanções devem ser adaptadas com rapidez para evitar um sofrimento humanitário ainda maior. Com o novo governo em Damasco, a comunidade internacional deve agir rapidamente para aliviar as restrições na economia síria.
- Clareza nas Expectativas: É essencial que as autoridades sírias tenham um entendimento claro sobre o que precisam fazer para obter reconhecimento diplomático e relaxamento de sanções. A falta de requisitos bem definidos em relação ao Talibã diminuiu sua disposição para moderar políticas em troca de legitimidade.
O Diferencial do HTS: Uma Abordagem Mais Moderada?
O HTS apresenta características que o diferenciam do Talibã. Embora ambos tenham raízes em movimentos islâmicos militantes, o HTS possui um histórico de maior abertura e adaptabilidade. Os líderes do HTS, muitos dos quais vêm de cidades modernas e universidades, têm demonstrado um desejo de se distanciar de conexões que possam prejudicar seus esforços para governar. O grupo já tomou medidas enérgicas contra afiliações extremistas, como o Hurras al-Din, e busca criar laços de cooperação com potências não hostis.
Elementos de Governança e Integração Social
Embora o HTS tenha apresentado restrições durante seu governo em Idlib—como a supressão de vozes da Igreja e a ausência de mulheres em posições de liderança—também fez avanços significativos. O grupo promoveu educação para meninas e tem mostrado um tom conciliatório em relação a minorias religiosas. Com o novo governo de Damasco, o HTS reafirmou o respeito às diferentes comunidades e se comprometeu a integrar-se nas estruturas governamentais oficiais.
As Barreiras da Legitimidade: Sanções e Reconhecimento
No entanto, existem barreiras substanciais à frente. O HTS continua sendo designado como grupo terrorista por várias nações, o que dificulta sua ascensão ao reconhecimento internacional. O status de Organização Terrorista Estrangeira (FTO) imposto pelos Estados Unidos implica severas restrições que não só afetam a liderança do HTS, mas também a economia e a população civil síria, que luta no dia a dia.
Dilemas Econômicos e Humanitários
As sanções, além de cercear a capacidade do novo governo de operar de forma eficaz, aprofundam a crise humanitária. Sem um alívio nas restrições comerciais e financeiras, a população síria pode se encontrar em uma situação de catástrofe ainda mais profunda. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) permanecem impossibilitados de oferecer suporte devido às designações de terrorismo, o que impede a reestruturação econômica necessária em um país devastado pela guerra.
Uma Chance para o Futuro: O Papel das Potências Estrangeiras
Diante desse quadro, é fundamental que as potências ocidentais e regionais se mobilizem rápido. O alívio das sanções deve ser uma prioridade se a comunidade internacional realmente deseja evitar uma crise humanitária em grande escala. A implementação de licenças que facilitem o comércio e o apoio humanitário poderia ser um passo inicial crucial.
Colaboração Internacional: Um Passo Necessário
As nações ocidentais deveriam também estabelecer um roteiro claro para o reconhecimento do novo governo e a remoção gradual das sanções. Tais conversações devem incluir:
- Compromissos claros do HTS em relação ao respeito a direitos humanos, governança mais inclusiva e segurança regional.
- Uma abordagem pragmática que leve em conta as realidades sobre o terreno e facilite a construção de diálogo sem sacrificar os interesses da segurança internacional.
Caminhos a Seguir: O Que Está em Jogo?
Ao contemplar o futuro da Síria, cogita-se qual caminho deve ser seguido. Um cenário que prioriza a colaboração e o apoio econômico poderá ser a chave para evitar que o país retrace os passos do Afeganistão e enfrente uma espiral de crises sem fim.
Se a comunidade internacional não agir imediatamente, poderá ocorrer um aprofundamento da crise que não apenas afetará a Síria, mas terá repercussões em todo o Oriente Médio. A possibilidade de um "novo" futuro para a Síria está em jogo, e decisões cruciais precisam ser tomadas por todos os envolvidos agora.
Considerações Finais: O apoio e a colaboração de potências internacionais podem ser a diferença entre um futuro de reconstrução e um ciclo contínuo de desespero. Como suporte e pressão se entrelaçam, o momento é propício para reflexões significativas e ações transformadoras. Afinal, a população síria merece um futuro diferente, mais esperançoso e próspero. Que decisão será tomada?