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O Impacto da Carne Bovina Brasileira no Mercado Global
O Brasil vem se destacando de forma contundente no cenário da alimentação mundial, e isso tem gerado reações. Recentemente, observou-se um desconforto crescente entre países concorrentes, especialmente na Europa, em relação à nossa produção agrícola. Esta situação evidencia que não somente a carne bovina brasileira é fundamental para a segurança alimentar global, mas também se apresenta de maneira competitiva, o que tem deixado a frágil pecuária europeia em alerta.
Já é hora de afirmar que a carne brasileira é intrinsecamente sustentável e, doravante, vem acompanhada de um firme compromisso no combate ao protecionismo europeu!
Tensões no Cenário Global de Carne Bovina
A narrativa crítica apresentada por representantes governamentais e empresariais da França aponta para um jogo político complexo dentro do mercado internacional de carne bovina. O Brasil – e especialmente o estado de Mato Grosso – é uma potência nesse setor, mas ainda lida com barreiras que, muitas vezes, se disfarçam de preocupações ambientais, vindas de nações que carecem de biodiversidade.
Contrariando algumas crenças, apenas uma fração de nossa produção é exportada. Em 2024, somente 35% da carne bovina produzida em Mato Grosso foi destinada ao mercado externo, enquanto 65% permaneceu no Brasil, incluindo cortes de alta qualidade que atraem consumidores locais.
China: Um Mercado em Ascensão
Atualmente, a China se destaca como nosso principal parceiro comercial, adquirindo mais de 42% do total de carne bovina que exportamos de Mato Grosso. Mesmo que a carne bovina represente apenas 6% do consumo total de proteínas no país, a tendência é que essa demanda cresça significativamente. O Brasil, por sua vez, tem a capacidade de intensificar sua produção de maneira sustentável, algo que nossos concorrentes já não conseguem fazer.
A carne que o Brasil fornece para a China é de gado jovem e de excelente qualidade. A proposta de uma reclassificação, como a sugestão de chamar nossa carne de “Brazilian Beef Steers”, poderia destacar ainda mais essas qualidades.
A Imagem da Pecuária Brasileira no Mercado Europeu
Contrapõem-se a isso, os mercados europeus, que constituem uma pequena fração (menos de 4%) das nossas exportações, mas que não hesitam em disseminar desinformação sobre a qualidade de nossa produção e nossos padrões de controle sanitário. Recentemente, o comentário infeliz do CEO do Carrefour, que afirmou que suas lojas na França deixariam de comprar carne do Mercosul, causou indignação. Essa posição, que em última análise revela um protecionismo disfarçado, não deveria surpreender, já que segue uma narrativa já tão comum entre setores agrícolas europeus.
É claro que a pecuária francesa enfrenta enormes dificuldades, com um modelo de produção não sustentável e dependente de altos subsídios, além de uma reputação que caminha para a ‘extinção’. A nova legislação ambiental da União Europeia só exacerbará essa situação, deixando patente a falta de competitividade da agricultura na Europa.
Qual é, então, a Real Importância do Mercado Francês?
Segundo informações da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, entre janeiro e setembro de 2024, o estado exportou apenas 26 toneladas de carne bovina para a França, o que representa míseros 0,01% do total exportado. Portanto, o foco da discussão não deve ser a quantidade, mas a necessidade de responder assertivamente às calúnias que questionam a sustentabilidade e a segurança de nossa produção.
A carne bovina brasileira não apenas segue normas rigorosas, como também é um modelo sustentável de produção a pasto em clima tropical. Assim, podemos garantir uma ampliação da produção de forma sustentável. A proposta de uma lei de reciprocidade no legislativo poderia oferecer uma metodologia global de classificação de sustentabilidade, esclarecendo as diferenças entre os modelos produtivos de cada país.
Reflexões sobre o Potencial do Mercado Global
Perante os contínuos ataques à pecuária brasileira, é urgente pensarmos em novas estratégias. Não seria o momento de redirecionar a carne de Mato Grosso para outros mercados, especialmente na Ásia e no Oriente Médio? Por que não competir diretamente com grandes players como os EUA e Austrália na venda de carne premium para a China? Temos não apenas um produto de qualidade superior, mas também um compromisso real com a sustentabilidade, que é uma vantagem competitiva que devemos enfatizar.
A partir de 2018, temos direcionado esforços para divulgar a qualidade dos nossos produtos. Na recente Feira Internacional de Importação da China (CIIE), o estande de Mato Grosso foi um dos mais movimentados, com consumidores demonstrando grande interesse e satisfação ao experimentar o MT Steak, um corte nobre que poderia estabelecer um novo padrão de qualidade.
Nosso objetivo é assumir um papel de destaque no mercado global de carne gourmet, buscando fortalecer laços comerciais e abrir novas portas. A carne bovina do Brasil é mais do que alimento; é um símbolo de excelência, compromisso e tradição, proveniente de pastos que oferecem o melhor ao produtor e ao consumidor.
*Caio Penido é empresário, produtor audiovisual e rural, além de presidente do IMAC (Instituto Mato-grossense da Carne). Ele é fundador da Liga do Araguaia, um movimento voltado para práticas sustentáveis, que deu origem ao Instituto Agroambiental Araguaia em 2021.
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