
Daphne Ewing-Chow
Fome e insegurança alimentar são tópicos relevantes tanto globalmente quanto localmente, especialmente para a liderança dos EUA.
A Fome nas Eleições dos EUA: Um Debate Ausente nas Urgências de 2024
À medida que a eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos se aproxima, as discussões em torno de economia, imigração e o estado da democracia dominam as conversas. No entanto, uma questão crucial e urgente se mantém em segundo plano: a fome. Essa invisibilidade é especialmente alarmante em um contexto em que mais de 9% da população mundial e 13,5% dos americanos enfrentam insegurança alimentar, níveis que não eram vistos há quase uma década.
A Importância do Diálogo sobre a Fome
Recentemente, em Iowa, um grupo de laureados do Prêmio Mundial da Alimentação se reuniu no Diálogo Borlaug para discutir a crescente ameaça da fome global. Entre eles, 13 premiados se uniram para exigir que os candidatos e eleitores não ignorem a crise alimentar que afeta a sociedade nos dias de hoje. O reverendo David Beckmann, um dos laureados, destacou: “A fome não está sendo discutida nas campanhas, apesar de sua crítica importância”.
Beckmann observou que, enquanto houve progresso significativo na luta contra a fome nas últimas décadas, esse progresso estagnou ou até retrocedeu. Ele expressou a urgência de abordar essa questão, que representa não apenas uma preocupação social, mas um risco à estabilidade global. Para ele, o aumento da fome é um “escândalo moral”, que ameaça a paz, gera agitações e agrava a degradação ambiental.
A Fome na Agenda das Campanhas
Um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Programa Mundial de Alimentos (PMA) trouxe preocupações alarmantes. A insegurança alimentar aguda deve se intensificar em 22 países até março de 2025, levando centenas de milhares a enfrentarem fome extrema. Cindy McCain, do PMA, fez um chamado para que os líderes mundiais se unam e ajudem milhões em risco de fome.
Heidi Kühn, CEO da Roots of Peace, também presente no evento, fez ecoar o sentimento de que a América tem um papel crucial na luta contra a fome. Ela enfatizou que a segurança do país está interligada com o que acontece globalmente. “Não somos uma ilha”, disse ela, ressaltando que a paz duradoura do país depende do entendimento das questões globais de fome e insegurança.
Por que a Fome Não É Visto como Urgente?
O Pew Research Center revelou que a maioria dos eleitores prioriza questões como inflação, saúde e controle de fronteiras, deixando a fome de lado. Essa desconexão pode ser atribuída à percepção de que a fome é um problema distante, que não afetaria diretamente a vida dos americanos. Beckmann argumenta que os políticos frequentemente respondem ao que os eleitores consideram mais relevante, o que atualmente tende a ser ligado à economia e à segurança.
- 733 milhões de pessoas vivem em situação de fome crônica no mundo, um aumento alarmante de 150 milhões em apenas quatro anos.
- A fome é uma “crise por trás das crises”, onde as pessoas ansiosas e famintas são mais propensas a entrarem em conflitos e menos motivadas a fazer a manutenção do planeta.
Lawrence Haddad, também laureado do Prêmio Mundial da Alimentação, observou que a segurança alimentar e nutricional está intrinsecamente ligada à estabilidade da economia e ao bem-estar social dos países. Para ele, os efeitos da fome não são um desafio isolado – eles reverberam através de questões macrossociais, como o clima e a migração.
Um Chamado à Ação para os Líderes
Os laureados do Prêmio Mundial da Alimentação fizeram um apelo claro aos eleitores para que reconheçam a fome como um problema central, com implicações globais. A carta enfatiza quatro ações prioritárias para os Estados Unidos:
- Apoiar a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, liderada por Luiz Inácio Lula da Silva, na cúpula do G20 em novembro, para impulsionar esforços contra a fome e a pobreza.
- Defender a reposição do Fundo do Banco Mundial para Países de Baixa Renda, essencial para ajudar na recuperação econômica pós-Covid19.
- Endossar o Apelo do Papa Francisco por alívio da dívida para países em desenvolvimento.
- Convidar os eleitores a refletirem sobre como seu voto pode impactar a luta contra a fome, tanto local quanto globalmente.
Beckmann acredita que os Estados Unidos têm a capacidade de liderar mudanças significativas na luta contra a fome, caso escolham se mobilizar para isso. Entretanto, Kühn expressou preocupação com a apatia global e a orientação centrada em problemas internos nos EUA, alegando que isso tem obscurecido a conexão entre a segurança alimentar global e o bem-estar do próprio país.
Valores Éticos em Jogo
O apelo dos laureados não é apenas um pedido pela atenção à fome – é um chamado a refletir sobre os princípios norte-americanos de generosidade e responsabilidade global. Kühn deseja que a experiência dos laureados, que vêm de diversas origens mas estão unidos pela missão de erradicar a fome, inspire os eleitores a olhar para além das suas preocupações imediatas.
Ela afirma que acabar com a fome vai além de uma meta política; é um dever moral que todos devem abraçar. “Estamos aqui para compartilhar nossa sabedoria coletiva e, quem sabe, inspirar uma ação positiva”, conclui.
Enquanto as eleições se aproximam e os debates se intensificam, a fome permanece uma questão central que precisa ser discutida. Os desafios que a fome apresenta não se limitam apenas a um problema social; eles estão interligados a questões globais mais amplas, como a mudança climática e a migração. Assim, priorizar essa questão pode não apenas ajudar a aliviar a insegurança alimentar, mas também promover a paz e a estabilidade global.
A reflexão sobre a importância do voto e de suas consequências deve ser uma prioridade que não podemos ignorar. É crucial compreender que cada decisão na urna tem o potencial de impactar não apenas nossas comunidades, mas o mundo inteiro. Vamos, juntos, agir em defesa da fome, não apenas como um tema imediato, mas como um chamado urgente à ação e compaixão.