A Guerra do Oriente Médio: Novos Desafios e A Resistência Regional
Em resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro do ano passado, o governo israelense iniciou uma guerra regional com o objetivo de reconfigurar o cenário do Oriente Médio. Essa ofensiva não se limitou ao Hamas em Gaza; Israel direcionou seus ataques contra o que é conhecido como eixo da resistência, um conjunto de grupos aliados ao Irã, que inclui o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iémen, o regime de Bashar al-Assad na Síria, e partes das Forças de Mobilização Popular (PMF) no Iraque.
A Estrutura do Conflito
Nos últimos doze meses, Israel implementou uma estratégia de guerra total, visando desmantelar a infraestrutura política, econômica, militar, logística e de comunicação desse eixo. A campanha foi notavelmente agressiva, resultando na eliminação dos líderes de Hamas e Hezbollah, além de vários comandantes seniores da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) do Irã. Essa ofensiva, potencializada por tecnologias avançadas, promete alterar significativamente o equilíbrio de poder na região.
Apesar de sua força militar indiscutível e do apoio de países como Estados Unidos, Reino Unido e nações europeias, Israel enfrenta um desafio: destruir permanentemente esses grupos e regimes pode ser mais complicado do que parece. Historicamente, o eixo da resistência mostrou-se resiliente e adaptável, mantendo conexões profundas em suas sociedades e estados.
A Resistência e Seus Vínculos
Por que a Resiliência?
Esse eixo não é apenas um conjunto de atores não estatais agrupados em uma rede; trata-se de uma teia interligada de relações políticas, econômicas, militares e ideológicas. Esses vínculos transnacionais permitiram que os membros do eixo sobrevivessem a uma série de choques, sejam eles militares, como o assassinato de Qasem Soleimani em 2020, crises econômicas severas, ou até mesmo revoltas populares em diversos países da região.
Essas conexões não apenas fortalecem o eixo, mas também oferecem um suporte básico durante crises, permitindo que grupos como Hamas e Hezbollah se reconfigurem e se fortaleçam quando necessário.
Mudanças na Dinâmica do Eixo de Resistência
Ao longo da história, o eixo de resistência evoluiu significativamente desde sua criação nos anos 80. Originalmente, o Irã, buscando expandir sua influência, fundou o Hezbollah no Líbano como uma forma de "exportar a revolução". Ao longo dos anos, essa estratégia se espalhou para outras regiões, incluindo a formação de grupos xiitas no Iraque e o suporte a facções palestinas.
A profunda dependência de suporte local e das bases sociais ajudou esses grupos a se infiltrar nas estruturas de poder de seus respectivos países. Os líderes nos governos do Líbano, Síria, Iraque, Irã, Iémen e Gaza frequentemente têm vínculos com esses grupos ou são escolhidos com seu apoio.
Superando Desafios Significativos
Os desafios enfrentados pelo eixo de resistência não param por aí. Em 1992, o assassinato do líder do Hezbollah, Abbas al-Musawi, parecia um golpe fatal, mas o grupo se reergueu rapidamente, apoiado por sua comunidade local e pela ajuda do Irã. Da mesma forma, durante a guerra civil síria em 2011, o regime de Assad recebeu auxílio vital de outros membros do eixo, como o Hezbollah e o IRGC.
Com o passar dos anos, o eixo também se adaptou a sanções pesadas e ataques militares. Mesmo sob pressão intensa, o Irã e seus aliados encontraram maneiras de manter operações e até expandir suas capacidades.
A Guerra Total de Israel: Novos Desafios
A atual guerra de Israel, em resposta ao ataque de 7 de outubro, apresenta uma configuração sem precedentes. Ao invés de enfrentar apenas Hamas e Hezbollah, os conflitos agora envolvem um espectro mais amplo do eixo da resistência. Grupos anteriormente marginais, como os Houthis e o Kataib Hezbollah, passaram a ter um papel mais ativo, desafiando a percepção de seu papel como meros proxies iranianos.
- Ações dos Houthis: Eles começaram a utilizar mísseis balísticos antinavio, atacando rotas comerciais no Mar Vermelho, causando atrasos significativos no comércio global.
- Kataib Hezbollah: Este grupo também se tornou mais ativo e ousado, realizando ataques contra forças dos Estados Unidos, desafiando a autoridade do IRGC.
Essa nova fase representa um ajuste significativo na dinâmica do eixo de resistência, com uma maior autonomia dos grupos e uma colaboração ampliada entre eles.
As Conexões Transnacionais e Seu Impacto
Após a assinação de Hassan Nasrallah, as conexões transnacionais entre os grupos se intensificaram, facilitando o realinhamento de suas operações. Os vínculos econômicos entre Hezbollah e outros grupos no Iraque se fortaleceram, com a movimentação de elite do Hezbollah para o Iémen, onde as relações comerciais e de apoio foram reforçadas.
Nesse cenário, não é apenas a resistência armada que se mostra, mas também uma rede complexa de relações econômicas e políticas que sustenta essa continuidade.
A Necessidade de Um Novo Caminho
Israel, ciente da natureza transnacional do eixo de resistência, tem adotado uma postura militar agressiva. Contudo, suas ações indicam uma subestimação da resiliência dessa rede e da complexidade de promover mudanças sociais por meio de soluções militares. A história sugere que a abordagem militar sem uma estratégia política abrangente provavelmente resultará em uma instabilidade ainda maior.
Com massacres de civis sendo amplamente denunciados e contrabalançados pela resistência do eixo, os civis nas regiões afetadas enfrentam um dilema ainda mais severo: enquanto tentam exigir responsabilidade de seus governantes, a resistência se fortalece, utilizando a situação a seu favor.
Um Olhar Crítico para o Futuro do Oriente Médio
A resposta internacional deve ser uma busca ativa pela paz, começando por um cessar-fogo nas áreas conflagradas e buscando envolver os governos ligados ao eixo de resistência em negociações mais amplas. Sem uma abordagem inclusiva que reconheça as realidades e dinâmicas de poder na região, o Oriente Médio ficará preso em ciclos de conflito que prejudicarão as futuras gerações.
A reflexão proposta aqui é: como podemos encontrar um caminho que promova diálogos construtivos e que reconheçam as complexas teias sociais e políticas da região? É hora de repensar estratégias e buscar soluções que priorizem a paz e a estabilidade duradoura.
Ao longo deste texto, explorei as complexidades do que está acontecendo no Oriente Médio, destacando os desafios e as resiliências do eixo de resistência diante da violência e do conflitos. Seu apoio e suas vozes são importantes; compartilhe suas reflexões e contribua para um debate mais profundo sobre o impacto da guerra na vida real.