A Era Jokowi: Transformações na Indonésia e a Política Exterior Pragmática
No dia 20 de outubro, Joko Widodo, mais conhecido como Jokowi, deixará o cargo como o presidente mais admirado da Indonésia, um feito notável desde a transição democrática do país em 1998. Ao longo de uma década à frente da terceira democracia mais populosa do mundo, Jokowi se destacou por suas conquistas no país. Ele navegou pelas complexidades de uma elite política frequentemente marcada pela corrupção, conquistou bilhões de dólares em investimentos estrangeiros em infraestrutura e ampliou o acesso à saúde e à educação. Com um índice de aprovação de 75%, ele se despede como um dos líderes mais populares da era democrática.
Um Novo Rumor na Política Externa
Embora suas realizações domésticas sejam bem documentadas, poucos entendem a profundidade das mudanças que Jokowi trouxe à política externa da Indonésia. Durante décadas, os líderes do país tentaram equilibrar suas relações entre potências globais, buscando uma postura de não-alinhamento. Influenciado por sua experiência como empresário, Jokowi adotou uma abordagem pragmática e transacional, desafiando a expectativa de que países em desenvolvimento precisariam escolher entre China e Estados Unidos.
Pesquisas com líderes e empresários na Ásia geralmente perguntam sobre a necessidade de alinhar-se a um rival estratégico. Jokowi, no entanto, se recusou a se submeter a essa dicotomia, formando parcerias com a China para desenvolver a infraestrutura e a base industrial do país, enquanto simultaneamente colaborava com a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, Irã e Rússia, e mantendo relações sólidas com os Estados Unidos e a Europa.
Pragmático em um Mundo em Mudança
Assim como outros líderes de grandes países em desenvolvimento, como Narendra Modi da Índia e Recep Tayyip Erdogan da Turquia, Jokowi adotou uma postura de realpolitik. Contudo, enquanto Modi e Erdogan justificam sua pragmática com narrativas civilizacionais, Jokowi evitou discursos grandiosos, poupando-se de participar de encontros da Assembleia Geral da ONU. Críticos frequentemente argumentaram que sua política externa se resumia a uma inércia que não garantiu um papel influente para a Indonésia no cenário global.
Com o tempo, todavia, ficou claro que a estratégia transacional de Jokowi era visionária. Em um mundo competitivo e em constante transformação, onde ideologias tradicionais perdem força, especialmente entre uma população menos preocupada com divisões políticas e mais focada em benefícios materiais imediatos, sua abordagem pragmática se destacou.
A Evolução da Política Externa Indonésia
Desde que conquistou a independência da Holanda após a Segunda Guerra Mundial, a Indonésia buscou uma política externa que navegasse entre blocos de poder. Como um dos fundadores do país, Mohammad Hatta escreveu sobre a importância de uma abordagem que priorizasse o desenvolvimento econômico e a soberania. A Conferência de Bandung, realizada em 1955 pelo presidente Sukarno, reuniu países recém-independentes para discutir um caminho não alinhado.
No entanto, a agressividade da política externa de Sukarno, que acabou levando a um golpe militar na década de 1960, fomentou um movimento para uma postura mais cautelosa entre seus sucessores. O presidente Susilo Bambang Yudhoyono, que governou de 2004 a 2014, tentou aumentar o papel da Indonésia no cenário global, mas sem uma visão central.
Jokowi e a Reinvenção da Política Externa
Quando Jokowi assumiu a presidência em 2014, ele transformou a abordagem tradicional da política externa da Indonésia. Comparado a Obama pela imprensa internacional, Jokowi trouxe consigo uma imagem de mudança que ressoava entre os jovens e ativistas de direitos humanos. Sua trajetória como prefeito de Solo evidenciou suas habilidades em gestão e sua conexão com a população, consolidando uma imagem de homem do povo.
Mudanças em Grande Escala
Durante seu governo, Jokowi focou em impulsionar a economia indonésia, buscando crescimento superior a 7%. Ele priorizou precisão e desenvolvimento em vez de ambições globais. Sua política externa se tornou um meio para atingir esses fins. Por exemplo, ao lidar com as tensões no Mar do Sul da China, ele percebeu que conflitos nessa região poderiam encarecer os custos de transporte para empresas indonésias.
A Visão Prática de Jokowi
Para Jokowi, a chave para o sucesso era a capacidade de fazer parcerias que gerassem benefícios diretos. Após sua primeira cúpula internacional, em 2014, ele destacou que “fazer amizade com países deve trazer vantagens”. Essa afirmativa reafirmou sua postura transacional.
Uma Nova Era de Parcerias
A aposta de Jokowi na economia o levou a formar parcerias com a China, especialmente após escolher uma consórcio estatal chinesa para desenvolver a primeira linha de trem-bala da Indonésia. O foco em atrair empresas estrangeiras, como Hyundai e Microsoft, reforçou a ideia de que, sob sua liderança, a Indonésia tinha o poder de negociar em um cenário global.
Interesses em Jogo: A Balança Econômica
Jokowi frequentemente enfrentou críticas sobre sua busca contínua de investimentos de países, particularmente da China, levantando preocupações sobre a independência da política externa indonésia. Contudo, ao mesmo tempo em que atraía investimentos chineses, ele mantinha estreitas relações com potências ocidentais.
Além de fomentar a indústria de mineração, sua administração impôs restrições à exportação de minérios não processados, resistindo à pressão da comunidade internacional. Essa abordagem pragmática garantiu investimentos substanciais na Indonésia e aumentou a resiliência econômica do país.
Um Novo Paradigma Global
Embora a abordagem pragmática de Jokowi levante questões sobre a dependência da Indonésia em relação à China, ela também reflete uma mudança significativa nas dinâmicas globais. Ao contrário do que ocorreu durante a Guerra Fria, o atual embate entre Estados Unidos e China não oferece uma visão clara de alinhamento ideológico. Governos estão cada vez mais adotando estratégias que priorizam seu próprio interesse econômico, em detrimento de compromissos tradicionais.
Finalmente, a trajetória de Jokowi nos ensina que uma política externa orientada por interesses materiais pode trazer resultados significativos, desafiando a antiga dicotomia entre idealismo e pragmatismo. Na medida em que a Indonésia se prepara para o futuro sob uma nova liderança, suas experiências e abordagens pragmáticas podem servir de exemplo para outros países em busca de um caminho próprio no cenário internacional.
O legado de Jokowi, marcado pela busca incansável de benefícios concretos e pragmáticos, poderá influenciar futuros líderes a articular seus objetivos com mais clareza e realismo, abrindo caminho para novos modos de se envolver com o mundo. Essa mudança, embora tratada com ceticismo por alguns críticos, representa uma oportunidade significativa para a Indonésia afirmar sua relevância em um mundo em constante transformação.