Recentemente, durante uma reunião do Conselho de Segurança, o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, fez uma afirmação alarmante: o país está à beira de uma “encruzilhada”. Essa posição delicada pode levar tanto ao retorno das instabilidades que assolaram a nação por 14 anos de guerra, quanto a uma chance inédita de recuperação.
Pedersen enfatizou que deixar a Síria cair novamente em conflitos e fragmentações seria “totalmente inaceitável”, principalmente considerando as frequentes violações da soberania síria por potências externas.
O enviado especial da ONU na Síria, Geir Pedersen, informa o Conselho de Segurança
O cenário de violência na costa síria
Na mesma linha, ele apontou que existe um caminho alternativo “viável”, que se apresenta por meio de uma transição política inclusiva. O objetivo seria permitir que o povo sírio recuperasse sua soberania, superasse o conflito e revitalizasse a economia, elementos essenciais para a estabilidade regional.
Pedersen também mencionou um aspecto crucial: a necessidade de “curar as profundas fraturas sectárias e a desconfiança existente entre as comunidades sírias” é urgente e crucial para qualquer movimento em direção à paz.
Recentemente, a região costeira da Síria sofreu uma onda de violência preocupante. No início do mês, grupos armados ligados ao antigo regime realizaram emboscadas e ataques às forças da autoridade interina, um episódio que desencadeou uma série de contra-ataques violentos e confrontos armados, resultando em um número alarmante de baixas em ambos os lados.
- A situação resultou em mortes de civis de forma chocante, incluindo assassinatos de pessoas desarmadas e execuções de famílias inteiras.
- Além disso, as comunidades enfrentaram violações “claramente sectárias e retaliatórias”, atingindo especialmente os alauitas, que são uma minoria associada ao regime de Bashar al-Assad.
O fim da era da impunidade na Síria
Pedersen destacou que a costa síria se tornou um verdadeiro caldeirão de violência, com relatos de assassinatos, saques e sequestros se tornando comuns. A propagação de discursos de ódio e desinformação antes, durante e após esses episódios de violência só agrava a situação.
O enviado especial da ONU pediu uma investigação minuciosa para responsabilizar os autores da violência “chocante” contra civis. A respeito do Comitê investigativo independente estabelecido pelo governo interino, ele sugeriu que seguissem padrões internacionais, garantindo a proteção das testemunhas ao invés de sua intimidação.
A transparência também foi uma demanda levantada: “As conclusões precisam ser tornadas públicas, e aqueles responsáveis devem ser punidos”, ressaltou Pedersen, acentuando que é vital enviar um claro sinal de que a era da impunidade chegou ao fim na Síria.
Ele ainda reforçou a necessidade de estabelecer prioridades, como:
- Declarar um governo de transição.
- Elaborar uma constituição permanente.
- Responsabilizar os criminosos.
- Reorganizar as forças de segurança.
- Desarmar grupos não estatais.
- Respostas apropriadas à significativa presença de combatentes estrangeiros.
Crianças estão entre as pessoas que retornaram a Idleb, na Síria
A crise de financiamento e seus impactos na ajuda humanitária
Por outro lado, Tom Fletcher, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, também participou da discussão, trazendo algumas notícias positivas. Ele destacou a abertura de passagens de fronteira que possibilitam um fluxo mais eficiente de ajuda, a recuperação da infraestrutura hídrica e a limpeza de mais de 1,7 mil munições não detonadas.
Entretanto, o alerta vermelho foi aceso quando Fletcher mencionou a crise de financiamento que impacta gravemente as operações humanitárias na Síria. Quase metade das organizações apoiadas pelos Estados Unidos na região receberam ordens para interromper suas atividades, resultando em uma redução de 40% na equipe humanitária.
Promessas de ajuda: a necessidade de ação imediata
O Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, conhecido como Ocha, estabeleceu uma meta de arrecadar US$ 2 bilhões para ajudar 8 milhões de sírios em situação vulnerável até junho. Contudo, até o momento, apenas 13% desse montante, ou seja, US$ 155 milhões, foi arrecadado.
Fletcher sublinhou uma realidade alarmante: mais de 16 milhões de pessoas, quase três quartos da população síria, continuam sem acesso a alimentos adequados, água potável, abrigo e serviços básicos. A situação atual traz uma preocupação enorme sobre o futuro dessas pessoas.
No entanto, ele expressou um certo otimismo em relação às “promessas generosas” feitas durante a Conferência de Bruxelas, onde diversos países, incluindo aqueles do Conselho de Segurança, garantiram um total de US$ 6,3 bilhões em ajuda. Fletcher clama para que esses recursos sejam disponibilizados rapidamente, ressaltando a urgência da situação.
Em meio a todas essas complexidades, o futuro da Síria repousa entre a esperança de uma nova era de estabilidade e a sombra do retorno à violência. O que acontecerá nas próximas semanas e meses será crucial não apenas para a nação, mas para toda a região. O envolvimento da comunidade internacional é essencial para assegurar que os compromissos assumidos se transformem em ações concretas e eficazes. O que você acha que pode ser feito para ajudar a Síria a seguir o caminho da paz e da reconstrução?