Mercado Automotivo Brasileiro: Lições de 2022 e as Perspectivas para 2023
O ano de 2022 chegou ao fim com um saldo misto no mercado automotivo. Foram 1,954 milhão de carros vendidos, uma queda de 1% em relação a 2021 (1,974 milhão de unidades). Embora negativo, o resultado foi menos dramático do que o esperado, graças à recuperação observada no segundo semestre, principalmente impulsionada pelas locadoras.
Mas o que podemos aprender com 2022 e, mais importante, o que esperar de 2023? Vamos explorar os principais fatores que moldaram o mercado automotivo e o que pode determinar o ritmo deste novo ciclo.
O Papel Fundamental das Locadoras
As locadoras foram protagonistas no desempenho do setor automotivo em 2022. Foram quase 400 mil carros vendidos para este segmento, o que representa cerca de 20% do total de veículos comercializados no ano.
Essa força crescente fez com que as locadoras se tornassem decisivas na direção que a indústria automotiva toma no Brasil. Em algumas montadoras, as vendas para locadoras já têm um peso tão relevante que praticamente garantem um “lugar cativo” na estratégia de vendas.
O Novo Perfil do Consumidor: Mais Empresas, Menos Pessoas Físicas
O consumidor brasileiro também está mudando. Os números mostram que quase metade (49,8%) das vendas em 2022 foram destinadas a pessoas jurídicas:
- 20,4% das vendas foram para locadoras.
- 29,4% foram para outras empresas (CNPJs).
Isso significa que pessoas físicas, como você ou eu, representaram pouco mais de 50% das vendas, e a tendência para 2023 é que esse número caia ainda mais.
Fiat, GM e Toyota: As Marcas de Destaque em 2022
A Era Stellantis e o Domínio da Fiat
A Fiat, líder do mercado com 22% de participação, foi o destaque absoluto de 2022. O grupo Stellantis (Fiat, Peugeot, Citroën, Jeep e Ram) consolidou sua supremacia, detendo 1/3 do mercado brasileiro.
Toyota: Crescimento Sustentável
A Toyota surpreendeu ao fechar o ano na quarta colocação e consolidar-se como uma das marcas mais desejadas do país. A montadora registrou um crescimento de 10,5% em 2022, destacando-se por focar em veículos de alto valor agregado.
GM: Recuperação Impressionante
A GM, a segunda maior marca de volume no Brasil, cresceu 20% no último ano. A montadora mostrou sua força, com destaque para o Tracker, o SUV mais vendido do país.
O Produto que o Consumidor Quer: SUVs e Picapes em Alta
O ranking dos carros mais vendidos revela as preferências do consumidor brasileiro. Entre os 20 veículos mais vendidos, 65% do total de vendas se concentram em três categorias principais:
- SUVs: 8 modelos no top 20.
- Picapes: 3 modelos, incluindo a Fiat Strada, o carro mais vendido do país, com mais de 112 mil unidades.
- Sedans: 3 modelos com ticket médio mais elevado.
Os hatch pequenos, como o Kwid e o Mobi, completam o ranking com 6 modelos no top 20, mas são minoria frente às categorias mais caras e lucrativas.
O Crédito: O Grande Vilão de 2022
Outro ponto preocupante foi a redução do crédito automotivo ao longo de 2022. Historicamente, os financiamentos representavam 60% das vendas. No último ano, vimos essa média cair drasticamente:
- Em alguns meses, a participação do crédito foi de apenas 43%.
- Em novembro, registramos o pior resultado da história: 32,4%.
E o cenário para 2023 não é animador. Não há sinais claros de melhora na oferta de crédito, o que pode limitar a recuperação do mercado, especialmente para consumidores de menor poder aquisitivo.
Perspectivas para 2023: O Ano das Incertezas
A pergunta que todos fazem é: o que esperar de 2023? A resposta, caros leitores, é incerta. Temos alguns desafios claros:
- Restrição de crédito ao consumidor.
- Desaceleração da economia.
- Aumento contínuo dos preços dos carros.
- Incerteza quanto ao apetite das locadoras para novas compras.
Cenário Possível para 2023:
Se as locadoras continuarem comprando em volumes significativos, o mercado pode atingir entre 1,98 milhão e 2,1 milhões de unidades vendidas. Por outro lado, se elas reduzirem suas compras, teremos um ano muito mais difícil.
Conclusão: Um Ano Decisivo para o Mercado Automotivo
O setor automotivo brasileiro entrou em um novo ciclo. As locadoras seguem como o principal termômetro do mercado, enquanto o consumidor pessoa física perde espaço para empresas e CNPJs.
As montadoras que apostam em SUVs, picapes e veículos de maior valor agregado, como Fiat, GM e Toyota, continuam em vantagem. No entanto, a falta de crédito e o aumento de preços seguem como grandes desafios.
O ano de 2023 será decisivo, e o comportamento das locadoras será o fator determinante para o sucesso ou fracasso do mercado. Por ora, resta acompanhar de perto e torcer para que as vendas continuem acelerando.