Início Política Os Erros que Custaram a Síria: A Queda da Influência Iraniana

Os Erros que Custaram a Síria: A Queda da Influência Iraniana

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A Revolução Síria e a Queda de Assad: O Que Isso Significa Para a Região?

Após treze anos desde o surgimento do levante na Síria, a rápida e dramática queda de Bashar al-Assad abalou a percepção de um status quo estável, ainda que opressivo. Durante grande parte da última década, o regime de Assad, sustentado pelo apoio inabalável do Irã e da Rússia, reprimiu brutalmente qualquer dissidência. O que começou como um protesto em 2011 se transformou em uma guerra civil devastadora, eventualmente resultando em um impasse tenso. Apesar dos desafios constantes, o controle de Assad parecia seguro, até que seu regime desmoronou em questão de dias após uma ofensiva coordenada dos rebeldes.

A Influência do Irã em Jogo

A perda do controle na Síria significou um duro golpe para a influência do Irã na região, que foi cuidadosamente cultivada ao longo dos anos por meio de intervenções custosas e apoio contínuo. Teerã sempre se mostrou o aliado mais fiel de Assad durante o conflito, investindo entre 30 e 50 bilhões de dólares em ajuda militar, transferências de petróleo e suporte logístico. O Corpo da Guarda Revolucionária (IRGC) do Irã inicialmente coordenou operações, treinando milícias locais e mobilizando uma variedade de lutadores estrangeiros. No entanto, a rápida desintegração das forças sírias pegou Teerã de surpresa. O líder supremo do Irã, Ayatollah Ali Khamenei, rotulou a queda de Assad como uma conspiração orquestrada por forças externas, tentando preservar a imagem do Irã como uma potência regional resiliente.

Da mesma forma, as reações internas mostram um clima dividido. Com o exaurimento de recursos militares e políticos e um cenário de confrontos diretos e indiretos com Israel, a liderança iraniana enfrenta dificuldades em formular uma resposta coesa para esses eventos inesperados.

Oportunidade para o Ocidente

A queda do regime de Assad abre uma oportunidade única para que os Estados Unidos possam ajudar a prevenir um novo conflito e promover uma estabilidade duradoura na Síria. Estrategicamente, ao apoiar as forças curdas sírias, fomentar o diálogo entre os principais grupos sírios e incentivar a contenção israelense na região, Washington pode moldar a realidade pós-Assad em um cenário de paz e segurança a longo prazo. Contudo, essa estabilização pode exigir também a participação do Irã nas discussões sobre o futuro da Síria. Sem um diálogo entre Washington e Teerã, o sofrimento do povo sírio pode persistir.

A Exaustão Iraniana

A envolvêcia do Irã na guerra civil síria foi crucial para a sustentação do regime de Assad. A partir de 2018, após a redução das hostilidades, o foco de Teerã estava em consolidar sua influência nas regiões sul e sudeste da Síria, controlando territórios e integrando milícias às forças armadas sírias. Contudo, esses esforços mostraram-se insuficientes para evitar a rápida queda de Assad. Observadores apontam que o Irã foi enganado por uma fachada de um governo sírio forte. Assim, quando a desintegração aconteceu, a resposta de Teerã foi lenta e ineficaz.

Além disso, o enfraquecimento do Hezbollah, fundamental para a estratégia iraniana, agravou a situação. A crescente pressão israelense sobre as operações do Hezbollah, combinada com a falta de apoio dos militantes xiitas iraquianos na defesa de Assad, limitou a capacidade de resposta do Irã.

Um Novo Cenário Geopolítico

A queda de Bashar al-Assad não apenas revela as fraquezas do Irã mas também traz novos riscos, ameaçando sua influência regional e a estabilidade de seu regime. Entre os maiores desafios está revitalizar as capacidades operacionais do Hezbollah, que agora enfrenta dificuldades logísticas severas devido à interrupção de sua linha de suprimentos através da Síria.

Ainda pior, as divisões ideológicas entre os aliados de Teerã — incluindo milícias xiitas e grupos palestinos como o Hamas, que se congratularam com a vitória dos rebeldes — colocam em dúvida a coesão da aliança do eixo de resistência. Isso levanta preocupações sobre a credibilidade do Irã entre seus parceiros em países como o Iraque e o Iémen.

A perda de Assad também dá vantagem ao movimento do governo turco, que se tornou o patrocinador principal dos rebeldes sírios, desestabilizando a balança de poder anteriormente favorável ao Irã. A Turquia pode agora expandir sua influência em regiões como o Iraque e o Líbano, e isso levanta bandeiras vermelhas para o governo iraniano.

Uma Resposta Estratégica aos Novos Desafios

Sem dúvida, o regime em Teerã está se adaptando. Um dos pilares de sua nova estratégia é o esforço de engajar-se com as forças curdas sírias. Embora os curdos não tenham desafiado diretamente Assad, eles desempenharam um papel essencial na luta contra grupos extremistas e possuem controle significativo sobre partes do nordeste da Síria. A intenção do Irã em estabelecer parcerias nesta região pode ser visto como um movimento tático para assegurar influência, especialmente com as incertezas sobre o futuro da presença americana na área.

Além disso, o Irã pode explorar a possibilidade de se aproximar de grupos como o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), buscando alavancar sentimentos anti-Israel e prórpalestinos entre os combatentes.

A Necessidade de Diálogo e Inclusão

O desfecho da guerra civil síria e a premência nas ações dos EUA são cruciais para evitar que a instabilidade se espalhe ainda mais. O apoio contínuo aos curdos sírios é vital, visto que o Exército Democrático da Síria (SDF) se tornou um aliado em derrotar o Estado Islâmico e atuar como uma força estabilizadora no norte da Síria. É importante que os EUA não permitam que a pressão de grupos apoiados pela Turquia impeça as operações contra o ISIS.

Além disso, os EUA devem agir em conjunto com aliados do Oriente Médio e da Europa para promover um diálogo inclusivo entre todas as facções sírias. A falta de um governo representativo que preserve a integridade territorial da Síria e proteja os direitos das minorias pode levar a ainda mais competições entre facções, abrindo espaço para a desestabilização.

Uma ação diplomática também se faz necessária para assegurar que a crescente insegurança no Irã não resulte em reações mais hostis. Propor que Teerã participe das discussões sobre o futuro da Síria pode ajudar a amenizar as tensões e possibilitar um diálogo mais amplo entre os EUA e o Irã. Essa abordagem poderia limitar a influência disruptiva do Irã na região e promover a paz em um contexto onde o caos impera.

Em última análise, aqueles que têm acompanhamento e interesse pela Síria precisam permanecer atentos a como esses novos desafios e oportunidades se desdobram, bem como as repercussões globais que podem surgir. O futuro da região depende essencialmente da vontade política em promover um diálogo efetivo e inclusivo — tanto entre os sírios quanto nas arenas internacionais. Essa é uma oportunidade que não pode ser ignorada.

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