Novas Conversas Sobre a Guerra na Ucrânia: Lições do Passado e o Caminho à Frente
Em um cenário global de tensão e incertezas, os diálogos entre as autoridades da Rússia e dos Estados Unidos, realizados em fevereiro em solo saudita, marcam um momento significante: são as primeiras conversas de alto nível desde a invasão da Ucrânia em 2022. Curiosamente, a Ucrânia não participou dessas discussões, levantando questionamentos sobre a representatividade dos interesses ucranianos. O ex-presidente americano Donald Trump, em um gesto polêmico, fez concessões ao presidente russo Vladimir Putin e alertou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky que estava “apostando na Terceira Guerra Mundial.” Afinal, acomodar as narrativas russas pode ser uma estratégia provocativa, mas é essencial que Trump estabeleça padrões altos durante as negociações para que não caia nos mesmos erros do passado.
O Legado do Processo de Minsk
Até o momento, os passos de Trump em direção a um acordo evocam fortemente o processo de Minsk, que surgiu após a anexação da Crimeia pela Rússia e a ocupação de partes das regiões de Donetsk e Luhansk, em 2014. As discussões, mediadas pelo chamado Quarteto de Normandia – formado por líderes da França, Alemanha, Rússia e Ucrânia – culminaram em dois acordos, Minsk I e Minsk II, que visavam estabelecer um cessar-fogo e passos para uma resolução política no Donbas. No entanto, esses acordos mostraram-se frágeis, nunca executados de forma adequada, e foram desconsiderados por Putin em sua nova onda de invasão em 2022.
As lições amargas extraídas do processo de Minsk são mais relevantes do que nunca. O atual esforço americano parece repetir falhas significativas do passado, como a exclusão de partes cruciais do conflito e a pressa por um cessar-fogo indefinido, sem garantias de segurança adequadas. Essas armadilhas, que sacrificaram a chance de uma paz duradoura por ganhos diplomáticos imediatos, precisam ser evitadas a todo custo.
Armadilhas de Acordos Impostos
Uma das grandes lições do passado é a importância de evitar acordos “impostos”. Nos anos de 2010, a Rússia usou a estratégia de buscar um acordo em princípio, adiando a discussão de detalhes importantes, o que acabou por minar os acordos de Minsk. É essencial lembrar que o processo foi iniciado pelo Quarteto de Normandia, com um grupo trilateral que incluía representantes de Rússia, Ucrânia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). No entanto, o que se viu foi uma eliminação prática dos interesses ucranianos, especialmente em momentos críticos após derrotas militares.
A percepção ucraniana de que os acordos de Minsk foram forçados à nação impulsionou movimentos sociais significativos. A mobilização “Não à Capitulação!”, por exemplo, frisou a rejeição de tais concessões à Rússia. A população ucraniana sentiu, e ainda sente, que a diplomacia se deu com base em compromissos insustentáveis, levando a um sentimento de desconfiança em relação a qualquer novo acordo que possa surgir.
Um Cavalo de Tróia
O que muitos não percebem é que os acordos de Minsk, ao sugerirem a retirada das tropas russas das regiões ocupadas em troca de eleições locais e um “status especial” para essas áreas, introduziram conceitos que, embora à primeira vista parecessem promover democracia, eram na verdade armadilhas. A autonomia prometida poderia atuar como um cavalo de Tróia, enfraquecendo a posição pró-Ocidente da Ucrânia.
Nesse contexto, o desejo da Rússia de interferir nos assuntos internos da Ucrânia continua a ser evidente. Há exigências por eleições rápidas e a reabilitação de privilégios para a Igreja Ortodoxa Russa, entre outros. Para que um possível acordo de cessar-fogo seja válido, é imperativo que a Ucrânia não apenas tenha participação significativa nas discussões, mas que a sua legitimidade seja amplamente reconhecida.
A Necessidade de Supervisão e Fiscalização
Um ponto crucial em qualquer novo acordo que envolva um cessar-fogo é a implementação de supervisão e fiscalização rigorosas. Os acordos de Minsk falharam neste aspecto fundamental. Ambos os textos não mencionavam garantidores ou consequências pela violação dos termos. A criação de mecanismos de supervisão robustos é vital.
Na prática, isso significa que qualquer cálculo sobre a implementação de um cessar-fogo deve ser claro e detalhado, especificando obrigações e prazos. Um acordo deve incluir medidas de segurança que possam ser invocadas rapidamente em caso de infração, além de um mecanismo de verificação que possa identificar violadores com clareza e restaurar a conformidade, se necessário.
PRÓXIMOS PASSOS: O Papel da Europa
A Europa deverá desempenhar um papel ativo e mais disciplinado do que no passado. Durante as negociações de Minsk, França e Alemanha atuaram como mediadores, mas falharam em formalizar a responsabilização russa. Agora, é evidente que a segurança da Ucrânia impacta diretamente a segurança europeia.
Além disso, a Europa deve evitar a permissividade que prejudicou as negociações anteriores e garantir que os países europeus, que aprenderam com os erros do processo de Minsk, tenham assento à mesa de negociações. É imprescindível que haja um posicionamento unificado sobre como fornecer segurança e apoio à Ucrânia, alinhando-se com a estratégia de negociação ucraniana.
Aposta no Longo Prazo
Trump definiu um prazo para um possível cessar-fogo de dias a meses. Contudo, essa abordagem apressada pode resultar em um novo jogo perigoso. Para uma negociação verdadeira e eficaz, as linhas de frente precisam ser estabilizadas, e as reformas essenciais não podem ser apressadas. Aprender com os erros do passado levará tempo e exigirá colaboração entre Rússia, Ucrânia, Europa e Estados Unidos.
Embora o processo de Minsk tenha proporcionado uma leve desescalada das hostilidades, ele também minou a busca por uma solução duradoura e pavimentou o caminho para um conflito mais intenso. Portanto, uma resolução que incorpore as lições de Minsk será essencial para garantir não apenas interesses americanos, mas também a reputação de Trump no cenário mundial.
A jornada para um acordo sustentável e eficaz na Ucrânia certamente não é fácil, mas é essencial para o futuro da região e da segurança global. E agora, mais do que nunca, temos a oportunidade de refletir sobre os erros do passado e buscar um caminho que realmente promova a paz e estabilize a região. Você acredita que os atuais diálogos podem levar a um entendimento significativo ou estamos diante de um novo capítulo de incertezas? As suas opiniões são valiosas, compartilhe suas reflexões!