O Impacto da Guerra Comercial no Excepcionalismo Americano

Os mercados financeiros globais enfrentam uma turbulência sem precedentes, com perdas acumuladas de cerca de US$ 10 trilhões desde o chamado Libertation Day. Esse foi o dia em que o governo do então presidente dos EUA, Donald Trump, implementou tarifas de importação que desencadearam uma crise comercial mundial. Mas o que isso significa para o futuro da economia americana e para o conceito de excepcionalismo americano?

O Que Está Acontecendo com os Mercados?

A situação atual é complexa e gera apreensão. O índice VIX, conhecido como “índice do medo” por medir a volatilidade do mercado, disparou, sinalizando uma crescente aversão ao risco. As incertezas políticas e a instabilidade nas relações comerciais globais têm motivado investidores a adotarem uma postura cautelosa, resultando em vendas forçadas e mudanças rápidas nas carteiras de ações.

Em uma recente conversa no programa Stock Pickers, economistas de destaque, como Gustavo Medeiros, da gestora Ashmore, destacaram que essa instabilidade pode ser uma indicação do fim do excepcionalismo americano, um conceito que sustentou a superioridade dos EUA em termos econômicos e políticos por décadas.

A Capitulação e seus Sinais

Medeiros descreveu a atual situação do mercado como um período de "capitulação", onde os investidores estão abandonando suas posições em massa. A pressão para vender e a alta rotatividade de ativos revelam uma mudança nas expectativas dos investidores, que antes tinham uma confiança inabalável no que se referia ao desempenho dos mercados americanos.

Ele expressou sua preocupação ao afirmar: “Estamos em um novo cenário que pode levar ao desmantelamento do excepcionalismo americano." Esse fenômeno é impulsionado por uma combinação de políticas fiscais que já não oferecem os mesmos benefícios e a crescente desconexão entre as expectativas do mercado e a realidade econômica.

Estruturas da Economia e Uma Nova Era

Policiais Fiscais e suas Consequências

Medeiros aponta que a base do excepcionalismo americano se sustentava em políticas fiscais pró-cíclicas. No entanto, com mudanças recentes e o aumento das tarifas estabelecidas por Trump, esse suporte começou a desmoronar. O economista observa que muitos ainda acreditam que Trump usa tarifas como uma manobra de negociação, uma forma de reunir aliados em torno de suas propostas, mas as consequências disso podem ser sérias.

A sua comparação ao mercado em resposta às tarifas é reveladora. O aumento abrupto das tarifas — que saltou de 3,7% para 22% no início do governo Trump — é comparado a eventos econômicos de grandes crises do passado, como a Grande Depressão dos anos 1930.

O Medo de Estagflação

Um ponto crucial levantado por Medeiros é que o aumento das tarifas pode provocar estagflação, um cenário de crescimento econômico lento aliado a alta inflação e desemprego crescente. "Trump está ciente dos riscos que provêm de tarifas elevadas", diz ele. "A dificuldade é que essa abordagem pode ser atraente no curto prazo, mas devastadora a longo prazo."

O Poder de Informações Falsas

Um aspecto que merece destaque é a maneira como o mercado reage a informações, mesmo que sejam falsas. Durante uma semana de especulações sobre uma suposta suspensão das tarifas por 90 dias, as bolsas subiram abruptamente. Entretanto, à medida que os rumores sobre novas negociações com Japão e Coreia começaram a surgir, o clima otimista rapidamente se desfez, mostrando quão sensível o mercado se tornou.

Essa dinâmica revela um aspecto intrigante do comportamento do investidor atual, que parece fragilizado e suscetível a oscilações motivadas não apenas por dados econômicos, mas também por percepções e boatos.

Precedentes Históricos que Servem de Aviso

Medeiros não é o único a se preocupar com a trajetória atual. Ele menciona a história como um conselheiro valioso. No final do século 19, o então presidente William McKinley encontrou resistência ao aumentar as tarifas, resultando em uma derrota significativa para seu partido no Congresso. Essa narrativa histórica destaca que a lógica do "tarifaço" como tática política pode ter efeitos adversos a longo prazo, simbolizando um jogo arriscado.

A Intenção de Trump

Medeiros também destaca um ponto importante: Trump tem um pouco da mentalidade de um incorporador imobiliário. Ele vê o comércio como um jogo de soma zero e, portanto, busca maximizar os resultados de cada negociação. Esta abordagem, contudo, pode não ser sustentável para a economia global, especialmente em um mundo cada vez mais interligado.

O economista argumenta que, apesar da retórica agressiva de Trump, existe uma pressão crescente por mudanças. Ele observa que até figuras como Elon Musk têm adotado um discurso favorável ao livre comércio, mostrando que a resistência à política tarifária pode vir até mesmo de seus aliados tradicionais.

Um Futuro Incerto, Mas Promissor

O cenário retratado por Medeiros nos traz a reflexão de que o excepcionalismo americano, uma crença na superioridade contínua da economia dos EUA, está em um momento decisivo. A transição que os mercados estão vivenciando pode indicar uma nova era, com impactos profundos não só na economia, mas também na política global.

À medida que as incertezas permanecem e novos desafios surgem, tanto os investidores quanto os formuladores de políticas estão se deparando com uma realidade em que o otimismo irracional precisa dar lugar a uma análise mais crítica e fundamentada. O que se desenha no horizonte é um convite para todos nós refletirmos sobre como as decisões econômicas de hoje moldarão nosso futuro.

Considerações Finais

A transformação dos mercados e a questão do excepcionalismo americano nos forçam a pensar além do consolado das crenças passadas. Com as novas dinâmicas comerciais e políticas em jogo, precisamos estar atentos não apenas ao que acontece agora, mas às repercussões que essas decisões poderão ter no longo prazo. Como você vê o futuro dos mercados? Quais são suas expectativas sobre a política americana e a economia global? Compartilhe suas ideias e vamos continuar essa conversa.