Tendências do Mercado de Ações na América Latina: Um Começo Promissor em 2024
A América Latina desmentiu as expectativas e teve um início de ano surpreendente no mercado de ações, destacando-se como a região com o melhor desempenho global após um 2023 desafiador. Entre os protagonistas desse avanço estão os mercados emergentes, com o Brasil, a Coreia do Sul e o México liderando essa recuperação.
O Brasil em Destaque: Fluxo de Investimentos e Performance do Ibovespa
Especificamente no Brasil, a B3 registrou um influxo positivo de investidores estrangeiros, com um saldo de R$ 6,82 bilhões em janeiro. Este foi o melhor resultado desde agosto de 2024, quando o mercado viu uma entrada líquida de R$ 10,01 bilhões, segundo a análise da Elos Ayta.
Além disso, o Ibovespa teve um notável aumento de 4,86% no mesmo mês, representando o seu melhor desempenho desde agosto de 2024, quando atingiu 6,54% de valorização. Quando analisado em dólares, o índice foi o terceiro melhor entre 21 dos principais índices globais, com um incremento de 11,38%, refletindo uma desvalorização de 5,85% do dólar. Somente o Euro Stoxx 50 e o MSCI Colcap da Colômbia superaram seu desempenho, com altas de 16,12% e 14,91%, respectivamente. Esse crescimento em dólares foi o mais significativo desde novembro de 2023.
Fatores Impulsionadores do Crescimento
De acordo com o Bradesco BBI, essa movimentação foi impulsionada por um movimento global que desviou a atenção dos investimentos dos EUA e do setor tecnológico, trazendo foco para a América Latina, que parecia subvalorizada e descontada. Até mesmo uma melhora nas notícias poderia reduzir a percepção negativa prevalente na região.
Os ganhos cambiais, como é costume, foram os líderes de retorno, embora as expectativas de lucros das empresas sejam um aspecto sempre em destaque. O Bradesco BBI acredita que a valorização do real e as avaliações de mercado podem gerar retornos positivos neste ano, contrastando com as dificuldades enfrentadas em 2023. O banco visualiza uma revisão das estimativas de crescimento dos lucros como um sinal útil, indicando que as políticas macroeconômicas estão em ação.
Uma curiosidade interessante é que, ao longo dos últimos 30 anos, um janeiro positivo para o Ibovespa resultou em perdas anuais apenas uma única vez, em 2001, quando o mercado viu uma queda de 17% em setembro, em decorrência dos atentados terroristas nos EUA.
Perspectivas do Bradesco BBI
Para o Bradesco BBI, a recuperação do Brasil é ampla e inclui o aumento das posições por investidores estrangeiros e a cobertura de posições vendidas por investidores locais, que agora se aproximam de níveis recordes. Isso demonstra confiança na recuperação econômica nacional.
“O fortalecimento do real, a baixa exposição ao governo Trump e as revisões para baixo nas expectativas de lucros têm reduzido os riscos globais associados ao Brasil, dando espaço para um possível sinal de compra”, analisa a equipe do BBI.
Embora mantenham uma recomendação neutra, já que esperam uma desaceleração no segundo trimestre, o banco se sente seguro para aumentar sua exposição ao risco. Nas revisões do portfólio, destacam mudanças como a exclusão da Embraer (EMBR3) e a inclusão de Assaí (ASAI3), além de substituições como Eletrobras (ELET3) por Sabesp (SBSP3), enquanto aumentam sua participação na Vale, na expectativa de estímulos em Chile.
Perspectivas do Itaú BBA e XP
Por outro lado, o Itaú BBA, também em análise sobre a América Latina, mantêm a posição overweight para o Brasil, com uma projeção otimista de que o Ibovespa atingirá 145 mil pontos. Isso aponta para uma alta de 15% em relação às cotações recentes (ou 22% se considerarmos os dividendos).
A base da tese do Itaú BBA é sólida e se apoia em quatro pontos principais:
- Valuation: Aponte que a Bolsa está sendo negociada a um múltiplo de 7,2 vezes o lucro, refletindo um cenário de baixo preço.
- Momentum de Lucros: Embora o crescimento esperado nos lucros para 2025 seja considerado robusto, existe um risco de revisões para baixo, especialmente em um cenário de taxas e inflação elevadas.
- Condições Macroeconômicas: A equipe antecipa desafios com um ciclo de aperto monetário se aproximando, reverberando impactos no crescimento do PIB e numa maior inflação adiante.
- Posicionamento do Mercado: Apesar de o Ibovespa estar se aproximando de uma condição de sobrevenda, a situação se apresenta desafiadora para os fundos locais e o apetite de investidores estrangeiros.
A XP também é otimista, prevendo que o Ibovespa chegue a 145 mil pontos até o final do ano, com um valuation atrativo para ações no Brasil, representando uma oportunidade significativa para investidores.
Desafios à Vista: O Que Esperar para 2024
Não obstante as boas notícias, o JPMorgan avalia que o Brasil pode enfrentar um ano difícil. As preocupações giram em torno de uma desaceleração no crescimento, que cairá de 3,5% em 2024 para 2,2% em 2025, embora o número ainda seja considerado robusto. O crescimento do setor agrícola se mantém como um dos motores dessa expansão.
No entanto, para que o Banco Central interrompa o ciclo de alta nas taxas de juros, seria necessário um fortalecimento adicional do real, alcançando níveis próximos a R$ 5,70, algo que não parece viável no curto prazo.
Além disso, o setor fiscal apresenta incertezas, uma vez que reformas significativas nos programas do governo não são esperadas, mesmo que algumas iniciativas, como a ampliação do crédito consignado, possam surgir.
Vale destacar uma preocupação adicional: o Brasil pode ser afetado pelas tarifas dos EUA, e ao contrário de 2018, não há muito espaço para colher benefícios em uma guerra comercial entre os EUA e a China, o que pode impactar negativamente alguns setores da economia brasileira.
O JPMorgan destaca, assim como o BBI, que o recente otimismo no mercado brasileiro pode ser visto mais como um movimento técnico do que um reflexo de uma recuperação econômica sólida. Embora os preços das ações continuem atraentes, a análise sugere que o melhor já pode ter passado, principalmente em vista do fortalecimento do dólar.
A alta de mais de 10% em dólares que o mercado brasileiro já alcançou pode ser suficiente por enquanto, e um congresso mais austero pode evitar a aprovação de isenções fiscais para trabalhadores que ganham até R$ 5.000 mensais, enquanto um compromisso mais sério com a sustentabilidade da dívida e reformas que melhorem a produtividade se fazem necessários.
Pensando no Futuro
Com um cenário misto, os investidores devem ficar atentos às flutuações do mercado e as políticas econômicas adiante. As perspectivas são complexas, mas com ações e estratégias adequadas, há oportunidades promissoras. O sucesso exigirá uma leitura atenta das mudanças e a adaptação às novas realidades em um cenário de volatilidade, mas a esperança de crescimento permanece.
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