A Realidade do Conflito Ucraniano: Caminhos e Desafios para a Vitória
O debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos em 10 de setembro trouxe à tona uma questão crítica: "Você quer que a Ucrânia vença esta guerra?" perguntou o âncora David Muir a Donald Trump. A resposta do ex-presidente foi evasiva; ele enfatizou que o que realmente desejava era o fim do conflito. Esse tipo de postura não é isolado, já que muitos especialistas em segurança nacional nos EUA e na equipe de política externa do presidente Joe Biden também hesitam em apoiar abertamente a causa ucraniana, frequentemente afirmando que a definição da vitória deve ser deixada a cargo de Kyiv.
O Que Significa "Vencer"?
Se questionados, a maioria dos analistas e políticos provavelmente concordaria com a visão de Kyiv sobre o que significa vencer: restaurar o controle sobre todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia, e reestabelecer as fronteiras de 1991. Essa definição é atraente porque se alinha ao princípio fundamental do direito internacional de que as fronteiras devem ser respeitadas. No entanto, essa meta, embora desejável, pode ser considerada irrealista diante do desproporcional balanceamento de forças entre Rússia e Ucrânia.
Por Que Essa Definição É Irrealizável?
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Disparidade de Recursos: A Rússia possui uma força militar significativamente maior, tanto em número de soldados quanto em equipamentos.
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Fortificações Russas: As posições defensivas russas são bem estruturadas e contam com apoio logístico de aliados como China, Irã e Coreia do Norte.
- Foco da Defesa Ucraniana: A Ucrânia atualmente precisa conservar suas forças para defender os cerca de 80% de território que ainda controla, especialmente diante da recente recuperação de terrenos por parte das forças russas.
Portanto, ao invés de lutar por uma definição de vitória que é, na prática, inatingível, os EUA e seus aliados precisam aceitar uma nova realidade: a prioridade deve ser manter a soberania ucraniana e a sua condição de país independente, sem a obrigação de recuperar todos os seus territórios perdidos.
Caminhos para a Paz: A Necessidade de Diálogo
A transformação da abordagem americana em relação ao conflito significa que Washington deve preparar o caminho para uma negociação com o Kremlin. Isso pode ser uma ideia difícil de engolir, mas é a única maneira de preservar a construção de um futuro sustentável para a Ucrânia. O envolvimento de Washington nessa mudança não apenas protegerá os interesses ucranianos, mas também sinalizará à Rússia que não pode continuar com suas ambições sem consequências.
Propostas de Diálogo
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Concessões Pacíficas: Iniciar um diálogo com o governo ucraniano, apresentando uma visão mais modesta do que significa vencer. Isso inclui:
- Assegurar a independência e a soberania da Ucrânia.
- Prover assistência militar contínua, mas com foco em objetivos defensivos.
- Criar incentivos para a Rússia respeitar um cessar-fogo.
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Cessar-fogo: A primeira fase da diplomacia deve visar um cessar-fogo e uma pausa nas hostilidades, que deve ser modelada de forma a reconhecer as realidades atuais no campo de batalha.
- Monitoramento Internacional: O envolvimento de forças de monitoramento internacional pode ajudar a garantir que a paz seja mantida, semelhante ao que foi feito em outras regiões afetadas por conflitos duradouros.
O Impacto do Conflito para a Ucrânia e o Ocidente
A guerra está causando estragos não apenas para a Ucrânia, que sofreu mais de 300 mil baixas, mas também para a economia global. O crescimento esperado para a Ucrânia este ano é de apenas 3%, após uma contração de 30% em 2022. As dificuldades acumuladas tornam a nação menos atraente para investimentos, o que impede o progresso em sua recuperação econômica.
Desafios Enfrentados pela População Ucraniana
- Escassez de Recursos: A infraestrutura ucraniana está sob ataque contínuo, resultando em apagões e escassez de serviços básicos.
- Emigração: Aproximadamente seis milhões de ucranianos deixaram o país, incluindo muitos homens em idade militar, aumentando o desespero frente à guerra.
Alternativas ao Conflito
Um futuro em que a Ucrânia perde sua independência não é uma opção viável. Isso não apenas desestabilizaria a ordem internacional, aumentando a insegurança na Europa, mas também enviaria uma mensagem negativa a outros estados que observam a situação.
Uma Nova Abordagem de Política Externa
Em vez de um compromisso indefinido com a guerra, uma estratégia alternativa envolve:
- Suporte Ocidental: Manter apoio militar a longo prazo à Ucrânia.
- Conversas Diretas: Engajar o governo ucraniano em um diálogo realista sobre os termos de um cessar-fogo.
O foco deve ser que a Ucrânia consiga preservar sua soberania e viabilidade econômica, mesmo que isso signifique aceitar algumas mudanças de território, para garantir um futuro menos volátil.
Praticando Diplomacia Sustentável
A primeira fase deve se concentrar em um cessar-fogo, enquanto a segunda abordaria questões de status final e garantias de segurança, possivelmente envolvendo uma eventual adesão da Ucrânia à OTAN. Essas discussões precisam levar em consideração tanto os interesses ucranianos quanto as necessidades de segurança de potências ocidentais.
Uma Nova Esperança para o Futuro
Neste momento crucial, o presidente Biden tem a oportunidade de moldar uma nova estratégia para a Ucrânia, a qual pode facilitar um ambiente mais favorável ao diálogo. É vital não apenas para a preservação da Ucrânia, mas para o fortalecimento das alianças ocidentais em um mundo cada vez mais desafiador.
Ao olhar para o futuro, é essencial lembrar que o verdadeiro "vencer" não é somente recuperar cada pedaço de terra, mas garantir que a Ucrânia permaneça um país soberano, livre para escolher seu caminho sem a sombra da agressão russa. Esse entendimento pode eventualmente formar a base de uma paz sustentável e duradoura.
