O Futuro Imprevisível da Ordem Mundial e os Riscos da Proliferação Nuclear
À medida que a nova administração Trump começa a desmantelar aspectos essenciais da ordem internacional estabelecida após a Segunda Guerra Mundial, surge uma questão crucial: quais serão as consequências dessa estratégia? Um dos perigos mais alarmantes é a possibilidade de uma nova rodada de proliferação nuclear—não mais por mãos de terroristas ou países rebeldes, mas por nações que antes eram aliadas dos Estados Unidos.
O Desafio da Proliferação Nuclear
Voltando-se para o passado, o fato é que tentar restaurar políticas do século passado não resolverá a ameaça existencial que enfrentamos hoje: uma difusão generalizada de conhecimento nuclear e tecnologias acessíveis. O regime de não proliferação, que visa limitar a aquisição de armas nucleares, é essencialmente um pacto voluntário de autocontenção que países aceitam porque se sentem mais seguros assim. Essa segurança, no entanto, é sustentada por um sistema internacional mais amplo, onde a potência americana desempenha um papel central e geralmente benigno. Hoje, com a administração Trump enfraquecendo essas alianças—como a OTAN—essa estrutura começa a ruir.
A Fragilidade da Ordem Liberal
Se o sistema liberal desmorona, a estrutura de não proliferação irá junto. O que pode ocorrer é que os países que antes se consideravam protegidos pelos Estados Unidos comecem a buscar suas próprias armas nucleares, caso duvidem da segurança que antes lhes era garantida. A teoria de Kenneth Waltz sugere que a proliferação nuclear pode estabilizar rivalidades internacionais, mas estamos prestes a testar essa hipótese em um cenário perigoso.
A História da Ordem Internacional
Desde os anos 1940, os formuladores de políticas americanas têm trabalhado para estabelecer uma ordem internacional baseada em regras. A experiência amarga dos conflitos do início do século 20 levou Washington a optar por uma abordagem de interesse a longo prazo, promovendo a cooperação entre nações em vez de ações causadas por interesses egoístas de curto prazo. O objetivo era criar um sistema em que países pudessem crescer em segurança e prosperidade.
A ordem internacional, desde seu início, foi sustentada por um poder americano notável, direcionado não apenas para os próprios interesses, mas em benefício de todos os países aliados. Essa estratégia se baseava na ideia de que tanto a segurança quanto a economia são mais eficazmente geridas em um nível que vai além do nacional, criando um ambiente de cooperação e benefício mútuo.
O Desafio das Armas Nucleares
A introdução de armas nucleares criou um novo dilema para essa ordem: os países armados com essas armas ganharam autonomia estratégica e poder coercitivo, enquanto aqueles sem tal poder tornaram-se vulneráveis. A solução para evitar a proliferação em massa surgiu durante as décadas de 1950 e 1960, com os Estados Unidos adotando uma estratégia de dissuasão que protegia seus aliados, evitando assim a necessidade de que desenvolvessem suas próprias armas nucleares. O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), assinado em 1970, partiu desse princípio, onde potências nucleares mantinham seus arsenais enquanto outras nações se comprometiam a não se armar.
O Legado de De Gaulle e as Lições do Passado
Exemplificando essa desconfiança em relação à proteção americana, o presidente francês Charles de Gaulle decidiu que a França deveria desenvolver sua própria capacidade nuclear, mesmo estando sob o guarda-chuva de segurança dos EUA. Ele acreditava que a segurança contínua do país não poderia depender exclusivamente de Washington. Isso nos mostra que a desconfiança pode levar países a buscarem a autossuficiência em sua defesa, um ponto que começou a ressoar também entre outras nações.
As Novas Dinâmicas Nucleares
Após o fim da Guerra Fria, a ênfase na proliferação nuclear mudou, com o foco mudando para a contenção de expertise nucleares soviéticas. A crise na Ucrânia, por exemplo, ilustra como promessas de proteção podem falhar, resultando em um crescimento das tensões e na possibilidade de um ressurgimento de programas nucleares independentes.
Diante da instabilidade geopolítica e do comportamento agressivo de vizinhos nucleares, como a Rússia, muitos países começam a questionar a eficácia das garantias de segurança que uma vez garantiram. A possibilidade de que nações como a Ucrânia e Taiwan busquem desenvolver suas próprias capacidades nucleares se torna cada vez mais real, especialmente se acreditarem que suas inseguranças não serão resolvidas por alianças convencionais.
Quem Poderá Ser o Próximo?
Com a nova administração americana parecendo menos confiável, uma resposta a essa insegurança pode ser a busca por um novo paradigma de dissuasão. O novo primeiro-ministro da Alemanha, por exemplo, manifestou interesse em explorar se a proteção nuclear britânica e francesa poderia ser estendida a Berlin. Essa ideia de um “deterrente europeu” pode ser útil para estabilizar a segurança na Europa, mas levanta uma pergunta crucial: os outros países deveriam confiar nesses novos acordos, dada a atual predisposição dos EUA para abandonar antigos aliados?
Além disso, há nações que, embora tenham evitado a proliferação até o momento, poderiam decidir buscar sua própria capacidade nuclear. Por exemplo, a Coreia do Sul já começou a discutir sua própria força nuclear, enquanto alguns generais poloneses consideram a ideia de criar um arsenal próprio. Esses países estão vendo o valor de não depender unicamente das promessas de segurança de outros.
Considerações Finais para um Mundo em Mudança
Embora ainda não haja uma certeza sobre como a política externa dos EUA se desenvolverá, o ambiente atual sugere que as nações sob a proteção americana começarão a reavaliar as suas opções. As barreiras psicológicas que historicamente impediram a proliferação nuclear começaram a se desvanecer, e a urgência da situação demanda atenção.
As lições do passado nos mostram que a segurança não pode ser tomada como garantida. À medida que o mundo se transforma em um terreno incerto, as nações devem entender que sua defesa pode depender não apenas de alianças, mas de uma nova abordagem à segurança e à soberania. Essa é uma discussão necessária, que merece ser aprofundada e debatida, porque o futuro da ordem internacional pode depender dela.
Quais são suas opiniões sobre a proliferação nuclear e o papel das alianças na segurança global? Este tema suscita questionamentos importantes que afetam a todos nós e merece nossa reflexão.