A Audiência em Londres: A Perseguição e a Extração Forçada de Órgãos na China
Recentemente, em Londres, um grupo de legisladores, advogados e vítimas da repressão chinesa se reuniu em uma audiência focada em um tema alarmante: a extração forçada de órgãos promovida pelo regime chinês. O encontro, realizado em 5 de novembro, destacou como profissionais da saúde ocidentais, sem intenção, podem contribuir para essa prática inaceitável. Esse evento no Reino Unido incentivou uma discussão necessária sobre a ética médica e os direitos humanos.
Contribuições e Cumplicidade
Eleanor Stephenson, advogada da Coalizão Internacional para Acabar com o Abuso de Transplantes na China, foi uma das oradoras da audiência. Ela fez um alerta crucial: médicos que oferecem treinamento a cirurgiões de transplante na China podem ser cúmplices dos crimes cometidos pelo governo chinês. “Um réu não precisa ter conhecimento do crime exato para se considerar cúmplice”, declarou Stephenson.
Ela também chamou a atenção para a aceitação de artigos médicos em revistas ocidentais que não questionam a origem dos órgãos utilizados nos transplantes. Isso deixa uma lacuna vital: onde está a comprovação de que há consentimento dos doadores? “Precisamos investigar as colaborações entre entidades médicas ocidentais e profissionais da saúde na China”, enfatizou.
Preocupação com Intercâmbios Hospitalares
Stephenson expressou inquietação sobre programas de intercâmbio hospitalar, onde estagiários chineses são enviados para instituições ocidentais. Ela questionou: “Esses estagiários vêm de hospitais conhecidos por realizar extração forçada de órgãos? Se não sabemos se esses locais praticam essa atrocidade, como podemos garantir que não estamos contribuindo para isso?”
Historicamente, a China se tornou um destino procurado para transplantes, oferecendo tempos de espera notavelmente curtos para órgãos compatíveis. Infelizmente, isso ocorre devido a um sistema brutal que, segundo relatos, extrai órgãos de prisioneiros de consciência, principalmente de praticantes do Falun Gong.
O Falun Gong e a Perseguição
Durante o evento, o Lorde David Alton de Liverpool destacou o papel crucial do Falun Gong, uma prática espiritual que combina exercícios meditativos e princípios morais. Segundo Alton, muitas das vítimas da extração forçada de órgãos na China são, na verdade, praticantes do Falun Gong, que enfrentam uma perseguição sistemática há mais de 25 anos.
A Realidade Sombria
“Mais de 5.000 casos documentados de morte de praticantes do Falun Gong devido à perseguição foram registrados", afirmou Alton. Contudo, em um país onde os prisioneiros de consciência têm seus órgãos removidos e corpos cremados para esconder evidências, essa pode ser apenas a ponta do iceberg. “Ninguém deve ser alvo de prisão, tortura ou violência pelo que acredita”, completou.
O Falun Gong, também chamado de Falun Dafa, ganhou popularidade na China nos anos 90, com mais de 70 milhões de praticantes. Contudo, a sua popularidade foi vista como uma ameaça pelo Partido Comunista Chinês (PCCh), que em 1999 lançou uma campanha severa contra essa prática, resultando em detenções em massa e tortura de milhares.
Evidências e Testemunhos
A questão da extração forçada de órgãos na China começou a receber atenção mundial em 2006, com investigações que corroboraram a gravidade da situação. Um tribunal independente, conhecido como Tribunal da China, concluiu que o regime chinês tem se envolvido nessa prática cruel, tendo como principais vítimas os praticantes do Falun Gong.
Durante a audiência, dois sobreviventes compartilharam suas experiências aterrorizantes. Tian Xin, que fugiu para o Reino Unido em busca de asilo, contou sobre a década de perseguição e tortura que suportou, incluindo trabalhos forçados e exames médicos invasivos em prisões. “Acredito que não fui morto porque meus órgãos não eram compatíveis com quem estava na lista de espera de transplante”, refletiu Tian.
Já Han Fei, também chegada ao Reino Unido este ano, relatou que enquanto detida em Pequim, foi submetida a tomografias e exames de sangue. Ela lembrou da brutalidade de um policial que a estrangulou enquanto uma médica coletava seu sangue quando ela se recusou a cooperar.
Caminhos para a Mudança
David Matas, um advogado investigativo, ofereceu diversas recomendações para o Reino Unido após a audiência. Ele ressaltou que o país não precisa da aprovação da China para tomar medidas efetivas. Entre suas sugestões, destacam-se:
- Proibir a entrada de indivíduos envolvidos em abusos de transplante de órgãos no exterior.
- Expandir a legislação para processar tanto cidadãos britânicos quanto visitantes da China que participem da extração forçada de órgãos.
- Terminar colaborações médicas entre o Reino Unido e a China, evitando qualquer forma de treinamento que envolva transplante de órgãos.
Além disso, Matas sugeriu que o Reino Unido revisse sua legislação sobre imunidade estatal, garantindo que os responsáveis por esses crimes possam ser processados em território britânico.
Fortalecimento da Promoção dos Direitos Humanos
Matas também apresentou quatro recomendações sobre como o Reino Unido pode incentivar a China a acabar com suas práticas de extração forçada de órgãos. Ele propôs retomar diálogos sobre direitos humanos, levantar questões em fóruns internacionais como a ONU e implementar sanções direcionadas às autoridades chinesas responsáveis por abusos.
O relato da Associação Falun Dafa do Reino Unido sobre a situação da persecucão aos praticantes do Falun Gong também foi mencionado durante a audiência. A associação sugere que o governo britânico adote medidas como:
- Imposição de sanções direcionadas no estilo Magnitsky contra autoridades chinesas.
- Proibição de empresas britânicas de fornecer equipamentos e medicamentos para transplante às instituições chinesas.
A Lei de Proteção ao Falun Gong dos EUA, aprovada recentemente, poderá servir como um modelo para legislações similares sendo discutidas no Reino Unido, visando criar barreiras à cooperação no campo de transplantes.
Reflexão Futura
Esses acontecimentos não podem ser ignorados. A audiência de Londres destacou não apenas a urgência em confrontar os crimes do regime chinês, mas também a responsabilidade que cada um de nós possui frente a esses abusos. Afinal, a luta por direitos humanos, ética médica e dignidade humana é uma batalha de todos, e cada ação conta. Que possamos refletir sobre o papel que podemos desempenhar e como, juntos, podemos fazer a diferença.