A situação no leste da República Democrática do Congo (RD Congo) se tornou alarmante, com um preocupante aumento da violência nas províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul. De acordo com relatórios do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), as crianças estão sendo severamente afetadas por uma série de violações que envolvem relatos devastadores de abusos e agressões.
O general Otávio de Miranda Filho, ex-comandante da Missão da ONU na região, conhecida como Monusco, destacou a urgência de encontrar uma solução pacífica para a crise, uma vez que a situação atual não parece admitir uma abordagem militar eficaz. “Acredito que a solução deve ser política. O grupo rebelde M23 se transformou em uma força significativa, com cerca de 10 mil combatentes, muitos dos quais não são originários da RD Congo”, declarou ele.
A Urgência de uma Resposta Política
Miranda Filho enfatiza que a complexidade do conflito exige um diálogo aberto e robusto. “Com o M23 ganhando força, fica cada vez mais evidente que apenas uma abordagem militar não é suficiente. Precisamos buscar um caminho que traga esperança e estabilidade para a população”, frisou o general, ao se despedir da missão em uma transição de liderança para o general Ulisses de Mesquita Gomes.
Enquanto isso, o grupo rebelde M23 continua a capturar cidades ao longo de Kivu do Norte, incluindo Sake e Goma, avançando agora em direção à capital de Kivu do Sul. Essa situação não é apenas desoladora, mas também culmina em um cenário onde as violações de direitos, especialmente contra crianças, estão se tornando cada vez mais frequentes.
O Unicef alertou que os casos de violência sexual, incluindo estupros atrozes, estão aumentando a níveis sem precedentes. Os dados divulgados durante uma semana crítica no início de fevereiro indicam que o número de vítimas de estupro que buscaram atendimento em 42 unidades de saúde cresceu cinco vezes, com 30% dos casos envolvendo crianças.
General Otávio Rodrigues de Miranda Filho, ex-Comandante da Força da Missão de Estabilização da ONU na RD Congo.
Relatos de Violência Perturbadores
Aumentar a consciência sobre essas tragédias é fundamental. Por exemplo, durante uma semana em janeiro, os relatos de agressões sexuais chocaram o mundo, com uma mãe relatando que suas seis filhas, sendo a mais nova de apenas 12 anos, foram atacadas por homens armados enquanto buscavam comida. Essa narrativa pungente é apenas uma entre muitas que ilustram o sofrimento imensurável enfrentado por crianças na região.
– **Dados Alarmantes sobre a Violência Sexual:**
– Aumento de cinco vezes no número de vítimas de estupro em uma semana.
– 30% dos casos atendidos envolviam crianças.
– Escassez de medicamentos para prevenir infecções sexualmente transmissíveis, como o HIV.
A situação é ainda mais crítica para crianças em campos de deslocados, onde muitas foram forçadas a fugir diversas vezes devido ao bombardeio e a tiroteios. As equipes do Unicef têm trabalhado arduamente para registrar e cuidar de crianças desacompanhadas que, potencialmente, correm risco de sequestro ou recrutamento por grupos armados.
Um Crescente Número de Crianças Desacompanhadas
Nos últimos dias, mais de 1.100 crianças desacompanhadas foram identificadas nas províncias de Kivu do Norte e Sul, e essa cifra continua a crescer. Isso revela uma triste realidade em que centenas de crianças foram separadas de suas famílias e, sem a devida proteção, enfrentam riscos incalculáveis.
– **Perigos Enfrentados:**
– Sequestros.
– Recrutamento forçado por grupos armados.
– Exposição à violência sexual e outros abusos.
As equipes do Unicef estão em campo, empenhando-se para reestabelecer o contato familiar e oferecer abrigo temporário, garantindo também cuidados médicos e apoio psicossocial. Entretanto, a situação é volátil e desafiadora.
Recrutamento de Crianças para Grupos Armados
Antes mesmo do agravamento do conflito, o recrutamento de crianças por grupos armados já era uma preocupação crescente. Com a escalada da violência, grupos em conflito estão intensificando a mobilização de jovens para as frentes de batalha. Relatos indicam que até crianças de apenas 12 anos estão sendo forçadas a se juntar a esses grupos, o que representa uma violação horrenda dos direitos da infância.
Um pai leva seu filho ferido para tratamento em um hospital perto de Goma, no leste da República Democrática do Congo.
Desafios para Mulheres Grávidas
A crise também tem afetado gravemente mulheres e meninas. O Fundo da ONU para a População (Unfpa) aponta que mais de 88 mil mulheres estão em risco de violência de gênero, e a interrupção dos serviços de saúde pode resultar em aumentos significativos em gravidezes indesejadas. Estima-se que existem 220 mil mulheres grávidas em Kivu do Norte e Sul, das quais mais de 12 mil estão deslocadas e sem acesso a cuidados adequados.
– **Cuidado Materno nas Condições de Crise:**
– O Unfpa opera atualmente 8 clínicas móveis com 27 parteiras, oferecendo cuidados essenciais.
– Três unidades de saúde apoiam pessoas deslocadas, garantindo partos seguros e cuidados pré-natais para mais de 8 mil pessoas.
Apesar dos esforços, a escalada da crise e a destruição de serviços de saúde representam um desafio constante. Muitas clínicas foram alvo de saques e destruição, dificultando a assistência àquelas que mais precisam.
Disponibilização de Serviços de Apoio
Com a deterioração da situação, diversos serviços de saúde estão sendo interrompidos. No entanto, em locais que ainda mantêm atividade, o Unfpa vem realizando a distribuição de suprimentos, como contraceptivos e medicamentos para sobreviventes de violência sexual. Além disso, a criação de espaços seguros para mulheres e meninas em situação de vulnerabilidade é uma prioridade e um passo importante para garantir proteção e suporte.
A realidade das pessoas afetadas pela crise no leste da RD Congo é complexa e repleta de desafios, mas através de esforços humanitários e da mobilização internacional, há uma esperança de reconstrução e apoio. É fundamental que continuemos a nos importar e agir diante dessas questões, ajudando todos a refletir sobre a situação e a buscar formas de contribuir.
