A palavra do ano: Brain Rot e seus impactos na sociedade moderna
Todo ano, dicionários e instituições elegem termos que refletem o que mais repercutiu na sociedade. Para 2023, o Oxford Dictionary escolheu a expressão “brain rot”, que, em tradução livre, se refere a um “cérebro apodrecido”. Mas o que exatamente isso significa e por que essa escolha é tão relevante?
A origem do termo
Embora esteja em evidência atualmente, o conceito de “brain rot” não é recente. Ele apareceu pela primeira vez em 1854 na obra Walden, do autor americano Henry David Thoreau. Thoreau fez uma analogia entre a decadência intelectual e o apodrecimento de batatas na Inglaterra, refletindo sobre como a sociedade estava se empobrecendo mentalmente.
O impacto da tecnologia e das redes sociais
A escolha da palavra “brain rot” reflete uma preocupação crescente sobre os efeitos da tecnologia e das redes sociais na nossa capacidade de concentração e de aprendizado. Após a votação de aproximadamente 37 mil pessoas, o Oxford descreveu o termo como “a aparente deterioração do estado mental ou intelectual de um indivíduo, frequentemente associada ao consumo excessivo de conteúdo considerado trivial ou não desafiador”.
De acordo com Andrea Janer, fundadora e CEO da Oxygen, especialista em tendências comportamentais, essa designação funciona como um alerta em um momento onde o debate sobre o tempo de tela entre jovens e adolescentes está em alta.
O divisor de águas na discussão sobre saúde mental
O livro Geração Ansiosa, do autor Jonathan Haidt, lançado em julho deste ano, trouxe à tona uma nova perspectiva sobre o consumo de conteúdo digital. Andrea ressalta que estamos em um ponto de inflexão na forma como crianças e adolescentes interagem com as redes sociais, o que acarreta desafios para pais e educadores.
Os sinais de deterioração mental
Para Andrea, o “brain rot” serve como um chamado para que as pessoas façam uma reflexão sobre o impacto que o conteúdo superficial tem em sua saúde mental. “Estamos enfrentando dificuldades para nos engajar em uma leitura, um filme, ou até mesmo em analisar uma notícia. O acúmulo de conteúdo raso nos aprisiona em uma armadilha perigosa”, afirma.
Rafaela Oliveira, especialista em neurociência e consumo, complementa que essa deterioração cognitiva é resultado do excesso de informações rasas. “Estamos perdendo funcionalidades cognitivas como memória e atenção, devido ao modo que consumimos informação atualmente”, alerta.
A influência dos criadores de conteúdo
Outro ponto digno de nota é o efeito dos influenciadores digitais no comportamento da sociedade. A pesquisa da Sprout Social, intitulada The 2024 Influencer Marketing Report, revelou que mais de 50% dos internautas que navegam frequentemente são influenciados por conteúdos criados por influenciadores em suas decisões de compra, esboçando um impacto nos costumes e hábitos das pessoas.
A importância de uma relação saudável com o digital
“A escolha de ‘brain rot’ como palavra do ano é um convite para repensarmos o nosso envolvimento com o digital”, argumenta Christian Rôças, CEO da Flint, um selo voltado para a profissionalização na Creator Economy. Para ele, não basta criticar o excesso de conteúdo superficial; é necessário educar e mostrar alternativas.
- Educação e conscientização: Ensinar como utilizar as redes sociais de forma criativa e produtiva;
- Transformar a dispersão em criação: Incentivar o uso consciente da internet.
Este é um momento fundamental para que possamos moldar um ambiente digital melhor, e isso começa com entendimento, prática e propósito. A responsabilidade recai sobre todos nós—não apenas educadores e pais, mas também os próprios usuários da internet.
Reflexões para o futuro
Olhar para o conceito de “brain rot” nos provoca a questionar como estamos nos relacionando com o conteúdo digital no dia a dia. As dificuldades que enfrentamos em nos concentrar e aprender podem, de fato, estar ligadas à forma como consumimos informação. Será que é hora de reconsiderar nossas práticas e hábitos digitais?
Portanto, na próxima vez que você se pegar navegando por conteúdo sem significado, pergunte-se: isso realmente agrega valor à minha vida? Há algo que eu poderia aprender ou explorar de maneira mais profunda? Vamos juntos desbravar esse caminho e cultivar uma relação mais saudável com a tecnologia.