Um Novo Capítulo: O Retorno de Trump à Casa Branca
Quando Donald Trump reassume a presidência dos Estados Unidos, a expectativa é que seu segundo mandato seja bastante diferente do primeiro. Ao longo de sua primeira gestão, o ex-presidente demonstrou descontentamento com algumas de suas nomeações, que muitas vezes se distanciaram de suas ideias. Em um episódio do podcast de Joe Rogan, ele chegou a afirmar: "Escolhi algumas pessoas que não deveria ter escolhido. Pessoas desleais." Agora, Trump se mostra determinado a não repetir os mesmos erros.
Mudanças Imediatas e Lealdade
No primeiro dia de seu novo governo, Trump decidiu restaurar o Schedule F, uma categoria de emprego que remove as proteções de funcionários públicos, permitindo demissões a qualquer momento. Convencido de que uma suposta "deep state" sabotou seu primeiro mandato e que a eleição de 2020 foi roubada, ele se propõe a expelir essa estrutura, levando embora a experiência e os procedimentos que garantem uma administração eficiente. A lealdade, para Trump, não se resume a adesão a uma agenda de governo, mas sim a uma obediência inquestionável à sua liderança.
As Novas Regras do Jogo
Relatos do The New York Times indicam que a equipe de transição do novo governo tem solicitado aos candidatos a cargos públicos em diversas agências, incluindo serviços de inteligência e o Departamento de Defesa, que comentem sobre os eventos em 6 de janeiro, dia dos ataques ao Capitólio, e sobre a eleição de 2020. Aqueles que criticam os ataques ou defendem a vitória de Biden parecem improváveis de serem escolhidos.
A escolha de colaboradores leais não busca apenas assegurar apoio a uma agenda específica, mas garantir submissão total ao presidente. Esse movimento revela uma tendência alarmante, conhecida como "ungoverning" (desgoverno), que resulta na degradação da capacidade do Estado e na substituição da complexidade da governança pela vontade pessoal e incontrolável de uma única figura.
O Que é "Ungoverning"?
"Ungoverning" é um conceito pouco comum na história política. Embora existam exemplos de governos que foram sistematicamente desmantelados por líderes individuais ou grupos, essa não é uma característica frequente em democracias consolidadas. A situação se torna ainda mais complexa nos EUA, onde a erosão da capacidade administrativa é inédita. Históricos críticos de ambos os lados do espectro político já tentaram desburocratizar o governo, mas, de maneira geral, o Estado administrativo sempre foi reconhecido como vital para a satisfação das necessidades públicas.
Um Questionamento Fundamental
Surge agora a pergunta: até que ponto os assessores de Trump estarão dispostos a moderar sua busca por "ungoverning"? À medida que os especialistas são substituídos por bajuladores, a capacidade do governo de gerar resultados eficazes diminui. A falta de processos adequados torna-se a norma, corroendo a habilidade de coletar informações precisas e de formular políticas adequadas. Assim, o "desgoverno" pode acabar tornando um líder forte em alguém frágil.
A Importância da Administração
No coração da governança democrática está a administração competente. Essa estrutura, que pertence em grande parte à era do New Deal sob a liderança de Franklin Roosevelt, é crucial para a realização de políticas públicas. Mesmo na fundação do país, já se argumentava sobre a necessidade de um governo capaz de agir para o bem comum — uma tarefa que exige um trabalho meticuloso de planejamento e implementação.
Em um cenário ideal, um governo com capacidade administrativa deve:
- Coletar Informações Confiáveis: Avaliar a realidade atual de forma precisa.
- Visualizar um Futuro Melhor: Propor soluções que promovam prosperidade e segurança.
- Implementar Planos Eficazes: Colocar em prática programas que respondam às necessidades da população.
Com cerca de 4.000 nomeações políticas e três milhões de funcionários públicos, Trump herdou uma máquina governamental que já responde a emergências naturais e crises. No entanto, a crença de que o conhecimento especializado limita seu poder pode ser contraproducente, pois a eficácia de um governo depende da habilidade de seus membros.
O Perigo da Submissão
Trump parece acreditar que priorizar a lealdade o ajudará a implementar sua agenda. Contudo, essa estratégia pode minar a própria eficácia de sua administração. Ao exigir submissão pessoal — que John Bolton, ex-assessor de segurança nacional, caracterizou como "fé" — Trump corre o risco de criar um governo disfuncional.
Exemplos de Nomeações Controversas
Alguns dos novos integrantes de sua equipe são leais a uma agenda específica, como Tom Homan, novo coordenador da imigração, que tem experiência tanto sob Obama quanto sob Trump. Apesar de sua devoção às políticas do ex-presidente, ele busca moderar as expectativas em relação a deportações em massa, mostrando que algumas nomeações podem ter um foco mais prático.
No entanto, a insistência de Trump em uma submissão pessoal — e seu ceticismo em relação ao Estado administrativo — são aspectos que comprometem a governança efetiva. Figuras como Elon Musk, à frente do recém-criado "Department of Government Efficiency" (DOGE), prometem cortes orçamentários drásticos sem a experiência necessária para tal tarefa.
A Fragilidade de Uma Nova Governança
Trump não se limitará a supervisionar uma administração ineficaz. Ele orchestrará uma degradação total das instituições administrativas, dificultando a tomada de decisões eficazes e o uso de expertise. O resultado final será um governo que gira em torno da vontade pessoal do presidente, em vez de um organismo funcional e colaborativo.
Um Chamado à Reflexão
Governar não é sinônimo de dominação; é um processo que exige tempo, planejamento e acima de tudo, a colaboração de profissionais capazes e experientes. A administração Biden almejou esse ideal, encompridando projetos de infraestrutura que demandarão gerações para se completarem. Se Trump deseja deixar um legado positivo, sua nova administração precisará abordar os problemas sob a perspectiva da eficácia coletiva.
O Futuro Que Se Aproxima
Ao longo de sua trajetória, Trump e seus apoiadores passaram a deslegitimar instituições que sustentam a capacidade administrativa do governo. Essa desconfiança pode criar um ambiente propenso ao caos e à incerteza, gerando insegurança entre os cidadãos.
É fundamental que aqueles que se opõem às políticas de Trump se mantenham engajados na arena política pacífica, buscando sempre um diálogo construtivo. Entretanto, a realidade é que os apoiadores mais fervorosos do ex-presidente têm demonstrado que a violência pode ser uma resposta aceitável para eles.
Seja qual for o desfecho político, o legado de desgoverno deixa um impacto duradouro. A responsabilidade de reconstruir uma administração que funcione em prol do bem comum caberá, eventualmente, à população americana. A reflexão sobre a importância de um governo forte, baseado na cooperação e no conhecimento especializado, é um passo necessário para evitar os erros do passado.
Por fim, é crucial que os cidadãos não percam de vista a importância do engajamento cívico. O futuro do governo dos EUA depende não apenas de quem está no comando, mas também da capacidade do povo de exigir uma administração que sirva verdadeiramente aos interesses da nação.