A Ascensão e Queda da Bench Accounting: Lições de uma Fintech que Tentou Revolucionar a Contabilidade

A Bench Accounting, conhecida por suas ambições inovadoras dentro do nocivo e, ao mesmo tempo, essencial setor financeiro, buscava transformar a contabilidade para pequenas empresas. Acumulando mais de 10 mil clientes em apenas uma década, a empresa parecia estar no caminho certo. Contudo, o ritmo de crescimento não foi suficiente para consolidá-la como uma das fintechs mais quentes do mercado, especialmente após garantir mais de US$ 100 milhões em investimentos de capital de risco.

A Virada com a Inteligência Artificial

Em um movimento ousado para reverter a fortuna da empresa, a Bench decidiu investir em tecnologias emergentes, particularmente na inteligência artificial (IA). Isso levou à demissão de funcionários e à implementação de novas ferramentas automatizadas, incluindo um bot denominado BenchGPT. A esperança era que essas inovações pudessem dar um fôlego à operação, mas o resultado foi inesperado.

O ano fiscal de 2023 se mostrou desastroso, com a empresa enfrentando dificuldades significativas, incluindo a necessidade de solicitar extensões para muitos clientes, como relataram ex-funcionários. Um ano depois, a situação se agravou ainda mais; a Bench informou seus clientes que não conseguiria cumprir suas obrigações financeiras. Em janeiro, a empresa entrou em falência, afetando investidores de peso como Contour Venture Partners e Bain Capital Ventures. A desilusão dos clientes era palpável, com alguns, como Sam Plester, CEO da Mission Brands Consulting, buscando rapidamente alternativas para gerenciar suas finanças.

Um Alerta para o Setor de Fintechs

A saga da Bench serve como um aviso para outras empresas do setor que se apressam em adotar IA como solução mágica. Este episódio marcou um ano repleto de dificuldades para muitas fintechs que, até então, estavam sob os holofotes do capital de risco. À medida que o processo de falência avançava em Vancouver, a KSV Restructuring, a empresa encarregada da administração, indicou que a maior parte dos investidores provavelmente perderia seus investimentos.

No entanto, nem tudo estava perdido. Jesse Tinsley, cofundador da Employer.com, viu a crise da Bench como uma oportunidade. No mesmo dia do anúncio de fechamento, entrou em contato com a equipe da Bench para oferecer uma proposta de aquisição que não apenas salvou os ativos da empresa, mas também prometeu restabelecer os contratos com os clientes através de uma abordagem mais tradicional e focada no núcleo do negócio.

Mergulhando nos Desafios da Bench

Até o final de 2021, a Bench estava gerando uma receita de US$ 35 milhões, crescendo 40% ao ano, mas ainda lutando para alcançar a lucratividade. Os gastos em automação e a alta rotatividade de clientes, comuns no segmento de pequenas empresas, complicavam ainda mais a situação. A meta de uma transformação radical, com uma visão de se tornar uma empresa de software de alto crescimento, parecia distante.

Durante esse período crítico, Ian Crosby, o cofundador e ex-CEO, estava em negociações para uma provável aquisição pela Brex, avaliada entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões. Ao invés de aceitar a proposta, Crosby propôs uma nova rodada de captação de recursos que culminou em US$ 60 milhões, permitindo uma expansão em serviços bancários. Essa decisão, no entanto, não foi bem aceita por todos os membros do conselho, que preferiam uma gestão focada na lucratividade e no controle de despesas, principalmente em relação aos contadores.

Conflitos Internos e Mudanças de Liderança

A divergência de visões levou a turbulências internas e, em dezembro de 2021, Crosby foi substituído como CEO. Sua saída precipitou uma nova fase de gestão sob Jean-Philippe Durrios, que foi promovido em agosto de 2022. Durrios trouxe um foco rigoroso em alcançar a lucratividade, o que resultou em várias rodadas de demissões, com o número de funcionários caindo de 613 para 413 em pouco tempo.

A Implementação Turbulenta da Inteligência Artificial

Em meados de 2023, Durrios iniciou uma estratégia que dividiu a equipe de contabilidade em grupos especializados e introduziu ferramentas de IA para impulsionar a eficiência. Apesar da intenção, os resultados foram aquém do esperado. A introdução do BenchGPT, uma ferramenta destinada a facilitar a comunicação interna, e um chatbot para clientes, enfrentou dificuldades de execução e não estavam prontos para a temporada de impostos de 2023.

Inevitavelmente, esses desafios culminaram em um período crítico em que a Bench não conseguiu cumprir os prazos de arquivamento de impostos, resultando em pedidos de extensão para muitos clientes. Além disso, a empresa se viu frequentemente em dificuldades financeiras, dependendo de novas rodadas de financiamento para continuar suas operações.

A Desfecho de uma Era

A situação chegou ao ponto em que em dezembro de 2023, a Bench anunciou que estava fechando as portas, recomendando que seus clientes buscassem alternativas. Em janeiro de 2024, a Bench e a 10Sheet Services entraram com um pedido de falência, com um déficit acumulado estimado em US$ 135 milhões. Os bancos credores emaranhados nessa trama, incluindo o Banco Nacional do Canadá, enfrentaram perdas significativas.

A história da Bench Accounting se entrelaça com a trajetória de várias startups que buscam inovação a todo custo. A ambição de transformar um setor tradicional com a promessa da tecnologia é, sem dúvida, sedutora. Contudo, a trajetória da Bench serve como um lembrete de que, na busca por crescimento e inovação, é crucial manter o foco na sustentabilidade e na lucratividade. Iniciativas de automação, embora sejam promissoras, devem ser implementadas com cautela e alinhadas com o core business da empresa.

Reflexões Finais

A saga da Bench é mais do que um relato de altos e baixos de uma startup; é um estudo de caso sobre as complexidades do setor financeiro e os riscos da rápida adoção de novas tecnologias sem um planejamento estratégico sólido. À medida que o setor avança e novas fintechs surgem, fica a lição: enquanto a inovação é vital, a prudência e a estratégia bem fundamentada são igualmente essenciais para garantir a sobrevivência e o sucesso a longo prazo.

Agora, queremos saber a sua opinião. Você acredita que a transformação digital é o caminho mais seguro para a sustentabilidade das fintechs? Quais lições você acha que podemos aprender com a história da Bench Accounting? Compartilhe seus pensamentos nos comentários abaixo!