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Desafios e Potencial das Mulheres no Mundo das Startups
Apesar dos avanços em direção à igualdade de gênero nas últimas décadas, o cenário das startups e da tecnologia ainda revela desafios significativos. Um exemplo claro desse preconceito vindo à tona foi a pergunta dirigida a Ingrid Barth, CEO e cofundadora da Pilotin, que questionou: “Quem vai lavar a louça se você montar um banco?”. Esse tipo de machismo, embora menos comum do que antigamente, ainda acontece e reflete uma desigualdade estrutural que teima em persistir.
A Realidade das Startups Femininas
Os números não mentem: menos de 20% do investimento total em startups nos Estados Unidos em 2024 foi destinado a empresas com mulheres no comando, de acordo com o relatório “Todos nós em: Fundadores do Ecossistema de VC”, do Pitchbook. Além disso, o montante investido em mulheres empreendedoras caiu pelo terceiro ano consecutivo, atingindo o menor nível desde 2018. No Brasil, apenas 4,7% das startups têm uma mulher como sócia-fundadora, segundo um estudo da Distrito.
O Desafio de Ser uma Líder em Tecnologia
Gerir uma startup de tecnologia sendo mulher é um desafio e tanto. Falo com propriedade, pois essa é minha realidade. Como CEO em um setor predominantemente masculino, enfrento barreiras que vão além das competências técnicas e administrativas. Uma das maiores lutas é a dificuldade de acesso ao capital. O ecossistema de venture capital, que é fundamental para a inovação, ainda é dominado por homens. Dados da Carta das Mulheres na VC, iniciativa do Insper, revelam que apenas 8% dos tomadores de decisão em fundos de investimento no Brasil são mulheres. Essa desproporção não apenas afeta a distribuição dos investimentos, mas também o tipo de empresas que recebem apoio financeiro.
Os estigmas da maternidade
Outro aspecto importante a considerar é o estigma relacionado à maternidade. Muitas mulheres empreendedoras enfrentam indagações que seus colegas homens provavelmente nunca ouviriam: “Como você vai equilibrar a liderança de uma empresa e a maternidade?”. Esse preconceito implícito perpetua um sistema que limita as oportunidades e marginaliza talentos.
O Valor do Investimento em Mulheres
Um dado promissor mostra que investir em mulheres pode ser sinônimo de retorno positivo. Um estudo do BCG revela que, para cada dólar investido em startups com mulheres à frente, são gerados 78 centavos em receitas. Em contrapartida, aquelas fundadas só por homens retornam apenas 31 centavos. Apesar desses dados animadores, a disparidade nos investimentos ainda é alarmante, com o mercado de tecnologia continuando a sub-representar mulheres em todos os níveis.
A desproporção nas forças de trabalho
Globalmente, apenas 28% da força de trabalho em tecnologia é composta por mulheres, conforme relatório da UNESCO. No Brasil, uma pesquisa feita pela Revelo mostrou que menos de 20% das posições no setor de tecnologia são ocupadas por mulheres, e somente 10% dos cargos de liderança são direcionados a elas.
Superando Barreiras e Atravessando Desafios
Apesar de todos esses desafios, as mulheres estão presentes e fazendo a diferença. Estamos construindo empresas, liderando equipes e revolucionando mercados. Se há barreiras estruturais, também há uma força coletiva disposta a superá-las. Em vez de se perguntar “quem vai lavar a louça?”, devemos nos interrogar: por quanto tempo mais iremos ignorar o gigantesco potencial das mulheres no ecossistema de tecnologia e inovação?
Um apelo por ação real
Que este Dia Internacional da Mulher não seja apenas mais uma data rodeada de discursos vazios. É hora de reflexão e de um compromisso genuíno com a transformação do setor. Empreendedoras necessitam de oportunidades reais, acesso a investimentos e de um espaço verdadeiro para brilhar. Não precisamos de condescendência; precisamos de ação.
O Mercado Está Preparado
O mercado está pronto para acolher a força feminina. A grande questão é: ele vai nos dar espaço suficiente ou teremos que conquistá-lo por conta própria?
Uma Voz Inspiradora na Tecnologia
Iona Skurnik é fundadora e CEO da Education Journey, uma plataforma de educação corporativa que usa Inteligência Artificial para personalizar a experiência de aprendizagem. Com um mestrado em Educação e Tecnologia pela Universidade de Stanford, Iona contribuiu para a criação da primeira plataforma de educação online da instituição. Com uma trajetória de oito anos no setor de SaaS no Vale do Silício, Iona também é cofundadora da Brazil at Silicon Valley, fellow da Fundação Lemann e mentora de mulheres e investidora-anjo.
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