O Impacto do Acesso à China no Setor de Carnes dos EUA
Imagem: Reuters/Agustin Maria
Legendas: A perda do acesso ao mercado chinês seria um duro golpe para os exportadores de partes menos consumidas, como pés de frango e miúdos de porco.*
Uma Nova Virada nas Relações Comerciais
No cenário atual do comércio internacional, a relação entre os Estados Unidos e a China está novamente em xeque. Em um desdobramento preocupante, centenas de frigoríficos americanos, que conquistaram o direito de exportar para a China durante o acordo comercial da "Fase 1", firmado em 2020 com o então presidente Donald Trump, estão à beira de perder essa condição. Este episódio, que pode ocorrer já no próximo domingo (16), ameaça resultados aproximados de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 28,6 bilhões) em transações com o maior mercado de carnes do mundo, numa época marcada por intensas rivalidades comerciais.
A situação se torna ainda mais complicada quando levamos em consideração que a China impôs, recentemente, tarifas retaliatórias sobre produtos agrícolas dos EUA, totalizando cerca de US$ 21 bilhões (R$ 120,3 bilhões). Entre esses produtos, estão inclusas tarifas de 10% sobre a carne suína, bovina e produtos lácteos estadunidenses.
O Desafio dos Registros de Exportação
A complexidade das exportações para a China é intensificada por uma exigência específica: os exportadores de alimentos devem estar registrados na alfândega chinesa para realizarem vendas. Essa regra impacta cerca de 1.000 fábricas de carne bovina, suína e de aves, incluindo grandes nomes como Tyson Foods e Cargill Inc. Em uma situação que pode reviver traumas do passado, a expiração desses registros está programada para o próximo domingo. Isso representa quase dois terços do total atualmente registrado.
A Indecisão e a Resposta dos Exportadores
As empresas envolvidas, até o momento, têm se mantido em silêncio, sem comentar sobre a situação ou responder a questionamentos da imprensa. Contudo, o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) relatou que a China não atendeu às solicitações para a renovação dos registros das plantas. Esse fato poderia potencialmente violar os termos estabelecidos no acordo da Fase 1, levantando questões sobre a continuidade das relações comerciais entre as duas potências.
Lembre-se, a incerteza em torno das remessas das fábricas cuja documentação expirou levanta um alerta: por quanto tempo a China permitirá que os produtos das fábricas que já conquistaram a saída sejam liberados?
Riscos e Consequências
O porta-voz da Federação de Exportação de Carnes dos EUA, Joe Schuele, alertou sobre os altos riscos de enviar produtos com vencimento iminente. Para a indústria, a potencial perda dos registros representa uma situação alarmante, especialmente para plantas que têm na exportação sua principal fonte de renda.
Além disso, o porto de Xangai passou a impor inspeções mais rigorosas e documentação adicional para as cargas de carne provenientes dos Estados Unidos. Essa mudança tem resultado em um aumento no tempo de processamento, bem como em custos extras para os exportadores, complicando ainda mais a logística.
Um Olhar sobre o Futuro
Apesar das notícias desanimadoras, não se observa, por enquanto, uma proibição total das importações de carne dos EUA pela China. Algumas centenas de fábricas tiveram seus registros renovados até 2028 ou 2029, segundo informações de diplomatas baseados em Pequim. Essa realidade traz um pouco de alívio aos exportadores, que, em sua maioria, estão atentos às movimentações do governo chinês.
Historicamente, os Estados Unidos ocuparam a terceira posição como principais fornecedores de carne para a China, atrás de Brasil e Argentina. No ano passado, o país enviou cerca de 590.000 toneladas, o que representou 9% das importações totais da China. A restantes das indústrias que não conseguirem renovar seus registros terão um impacto severo sobre suas operações e finanças.
O Papel das Autoridades
O USDA e o Escritório do Representante Comercial dos EUA têm trabalhado arduamente para priorizar a renovação dos registros em sua agenda de negociações com Pequim. As reuniões até o momento não geraram resultados concretos, o que levanta preocupações sobre o futuro dessas relações comerciais vitais.
Importante lembrar que, emissões de relatórios de acompanhamento e pedidas de esclarecimentos não foram atendidas pelas autoridades chinesas até a data de publicação deste artigo. O Ministério das Relações Exteriores da China, por sua vez, redirecionou perguntas para outras agências sem fornecer respostas diretas.
Repercussões do Acordo da Fase 1
O acordo da "Fase 1", que selou os laços entre os EUA e a China em 2020, previa que Pequim aumentaria suas compras de bens e serviços, incluindo carne, de forma a expandir suas importações em até US$ 200 bilhões (aproximadamente R$ 1,146 trilhão) ao longo de dois anos. Porém, a meta não foi atingida. Este fracasso teve seu início coincide com o surgimento da pandemia, o que complicou ainda mais a situação.
Inicialmente, 1.124 plantas de processamento de carne e instalações logísticas foram registradas na alfândega chinesa para exportação, permitindo que os EUA pela primeira vez conquistassem acesso ao maior importador de carne do mundo. Hoje, o número subiu para 1.842, mas um número considerável dessas fábricas poderá perder a certificação em breve, caso os registros não sejam renovados.
De acordo com as diretrizes do acordo da Fase 1, a China é obrigada a revisar sua lista de instalações aprovadas em até 20 dias após a submissão de listas atualizadas pelo Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar do USDA. No entanto, os atrasos observados atualmente colocam em xeque se o compromisso está sendo cumprido.
Perspectivas Financeiras
As implicações financeiras da possível perda de licença podem resultar em perdas de até US$ 4,13 bilhões (aproximadamente R$ 23,6 bilhões) para a carne bovina e US$ 1,3 bilhão (cerca de R$ 7,45 bilhões) para a carne suína, segundo estimativas da Federação de Exportação de Carnes dos EUA.
A ocasião reforça os desafios que os exportadores enfrentam, especialmente com produtos que não têm grande aceitação no mercado interno, como pés de frango e miúdos de porco. A perda de acesso ao mercado chinês, repleto de oportunidades, seria um revés considerável para esses profissionais e suas operações.
Considerações Finais
À medida que aguardamos os desdobramentos dessa situação, é vital refletir sobre as ações que podem ser tomadas para mitigar os riscos e proteger os interesses dos exportadores. Enquanto a tensão entre EUA e China continua, a resiliência do setor de carnes americano será testada. Compartilhe sua opinião sobre o tema e vamos debater como essas mudanças podem impactar a economia global.
Você acredita que a negociação entre EUA e China pode ser revista? Como você vê o futuro do comércio de carnes entre essas duas potências?