O Fim de Uma Era: A Importância do Escritório de Avaliação de Redes e Seu Legado
Na década de 1990, após a queda da União Soviética, a preocupação das autoridades norte-americanas estava longe de se voltar para a China como uma ameaça futura. Nesse período conhecido como "momento unipolar", a ideia predominante era de que a China se tornaria um participante responsável na comunidade global à medida que se integrasse completamente. Entretanto, dentro do Pentágono, uma equipe de analistas com a missão de avaliar o ambiente estratégico via a situação de forma diferente. Focados na liderança chinesa, esses especialistas previram que a China buscava desenvolver as capacidades necessárias para desafiar a ordem internacional liderada pelos Estados Unidos. Suas conclusões, que se mostraram proféticas, anteciparam décadas do retorno das competições entre potências e o crescente desafio militar da China aos EUA.
O Papel do Escritório de Avaliação de Redes
O Escritório de Avaliação de Redes (ONA) foi criado em 1973 a partir de um acordo entre o Secretário de Estado Henry Kissinger e o Secretário de Defesa James Schlesinger. Com uma equipe reduzida, composta por cerca de doze pessoas e um orçamento de pesquisa considerado modesto no jargão do Pentágono, o ONA desempenhou um papel crucial na formação da estratégia de defesa dos EUA ao fornecer análises independentes. O escritório era conhecido por sua abordagem desafiadora em relação ao pensamento convencional, sempre se esforçando para informar, e não simplesmente agradar. Esse espírito de ceticismo foi uma marca registrada de seu fundador, Andrew Marshall, que dirigiu o ONA por mais de 40 anos, até sua aposentadoria em 2015.
As Contribuições Pioneiras do ONA
A relevância do ONA se evidencia em diversas análises ao longo de sua história. Por exemplo, em um momento em que os formuladores de políticas de defesa dos EUA acreditavam que o tempo estava a favor da União Soviética, o ONA demonstrou que a corrida armamentista sobrecarregava significativamente a economia soviética. Em contrapartida, suas avaliações indicaram que a situação econômica dos EUA era mais saudável do que se pensava. Isso levou a uma revisão importante das estimativas da CIA sobre o peso que o militarismo soviético impunha ao seu PIB.
Destacando Achados Estratégicos
Além de suas previsões sobre a União Soviética, o ONA também teve uma influência crucial na avaliação das capacidades norte-americanas frente aos desafios globais. Aqui estão alguns pontos altos de suas análises:
B-1 Bomber: Após o cancelamento do programa do bombardeiro B-1 por Jimmy Carter, o ONA apresentou a ideia de que os soviéticos eram obcecados pela ameaça de ataques aéreos, o que justificava a necessidade do programa.
Revolução na Guerra: Antes da queda do Muro de Berlim, o ONA previu a importância de uma nova maneira de conduzir operações militares, que se concretizaria com a “tempestade no deserto”. As operações de ataque de precisão tornaram-se uma característica definidora das campanhas militares dos EUA.
- Desafios da China: O ONA esteve à frente ao destacar os desafios posedidos pela China. Em 1985, já previa que os EUA precisavam se focar na segurança no Pacífico e desenvolver estratégias para responder a potenciais agressões chinesas.
Uma Decisão Preocupante
Com a recente decisão do Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, de desativar o ONA e redistribuir seus funcionários, surge uma preocupação quanto ao futuro da análise estratégica nos EUA. Hegseth também solicitou um plano para uma nova configuração do ONA, seguindo suas prioridades. No entanto, muitos especialistas alertam que essa mudança poderia significar o fim da abordagem independente e crítica que sempre foi a essência do ONA.
É importante lembrar que o ONA foi frequentemente desafiador para as visões convencionais dentro do Pentágono, o que levou a resistências ao longo de sua história. Mesmo em momentos em que sua eficácia era questionada, diversos ex-secretários de defesa, de partidos políticos diferentes, se uniram para defender sua relevância. Agora, a urgência de reavaliar a importância do ONA é mais visível do que nunca.
O Caminho a Seguir
Um novo ONA, como sugerido por Hegseth, poderia perder o que o torna único. Seu valor está profundamente enraizado em sua metodologia de avaliação de redes, que foi aperfeiçoada ao longo das décadas. Em tempos em que as ameaças à segurança nacional são mais prementes do que nunca, é vital que os Estados Unidos mantenham uma estrutura que propicie análises críticas e informadas.
O legado do ONA, que inclui previsões de longo prazo sobre a dinâmica militar global e a preparação para um futuro incerto, deve ser preservado. Sem essa perspectiva, os Estados Unidos podem se encontrar despreparados para os desafios que estão por vir, especialmente em um panorama geopolítico que se transforma rapidamente.
Reflexão Final
Diante das mudanças rápidas na segurança e na tecnologia militar, é fundamental que as avaliações de ameaças emergentes sejam feitas com clareza e precisão. O fechamento do ONA significaria não apenas a perda de conhecimento acumulado, mas também um retrocesso na capacidade de inovação do Pentágono, crucial em um mundo cada vez mais desafiador.
Portanto, à medida que acompanhamos a evolução dos eventos e as decisões que moldam a defesa dos EUA, é importante refletir sobre o valor do conhecimento e da experiência. Que lições podemos aprender com o passado e aplicar no presente para garantir um futuro mais seguro? As opiniões de todos são bem-vindas. Compartilhe seus pensamentos e ajude a manter viva a discussão sobre o futuro da segurança nacional.