Transformações no Oriente Médio: O Novo Cenário após a Guerra em Gaza
Em maio, o presidente dos EUA, Donald Trump, fez uma visita ao Oriente Médio repleta de surpresas que foram inesperadas até para os analistas mais atentos. Entre as decisões que chamaram a atenção, destacou-se o encontro inesperado com Ahmed al-Shara, novo líder da Síria, resultando na suspensão de sanções americanas ao país, mesmo com o passado conturbado de Shara em grupos islâmicos militantes. Outro momento marcante foi a escolha de Trump de não incluir Israel em sua agenda, desconsiderando os esforços contínuos da administração para resolver o conflito em Gaza. Essa viagem se deu após a assinatura, no início de maio, de um cessar-fogo bilateral com os Houthis no Iémen, sem consulta a Israel. Esses episódios, somados ao início das negociações diretas com o Irã — uma ação que traz insegurança a Israel, mas que é bem-vinda pelos líderes árabes do Golfo — evidenciam uma mudança significativa no equilíbrio de poder regional desde os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023.
Um Novo Cenário Geopolítico no Oriente Médio
A guerra em Gaza reconfigurou a paisagem geopolítica do Oriente Médio. Antes do ataque de outubro, países como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU) viam o Irã e suas milícias como as maiores ameaças da região. Eles foram aliados dos EUA na campanha de "máxima pressão" contra Teerã e começaram a normalizar relações com Israel. No entanto, a transformação atual é dramática: ao longo dos meses de guerra, as percepções mudaram e o Irã tornou-se um jogador menos ameaçador, enquanto Israel começou a se posicionar como uma potência regional.
Divergências sobre o Acordo Nuclear
Neste novo cenário, os aliados árabes dos EUA e Israel se veem em lados opostos em relação à perspectiva de um novo acordo nuclear com o Irã. Israel continua a considerar um acordo como um risco, defendendo ações militares para eliminar as instalações nucleares iranianas. Por outro lado, os países do Golfo oferecem uma visão contrária: em vez de um conflito, eles buscam uma solução diplomática, temendo que uma nova guerra se aproxime perigosamente de suas fronteiras.
A Falha na Estratégia de Pressão
Para entender essa nova dinâmica, é necessário voltar no tempo. A reação da Arábia Saudita e dos EAU ao primeiro acordo nuclear com o Irã, o JCPOA, em 2015, foi um sinal claro de rejeição. Com a assinatura do acordo, a percepção árabe e israelense foi de que o Irã ganharia um poder desmedido na região, exacerbando uma situação já tumultuada, marcada pela Primavera Árabe que desestabilizou muitos governos. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fez um alerta contundente sobre o crescimento do poder iraniano em várias capitais árabes. No mesmo período, a Arábia Saudita lançou uma intervenção militar no Iémen, preocupada com a crescente influência iraniana através dos Houthis.
Mesmo que a preocupação com a hegemonia do Irã tenha sido exagerada, a realidade é que o cenário de tensões na região favoreceu Teerã. O JCPOA não impediu que o Irã ampliasse seu poder na região, o que alimentou críticas de estados árabes que se uniram a Israel para contestar o acordo.
Estratégias de Conflito e Segurança
Sob a administração Trump, a abordagem mais dura em relação ao Irã resultou na saída dos EUA do JCPOA em 2018 e na imposição de severas sanções. A expectativa era que isso enfraquecesse o Irã e reforçasse um novo ordenamento regional centrado nos aliados árabes e em Israel, culminando nos Acordos de Abraão que normalizaram relações entre Israel e várias nações árabes. Contudo, a continuidade dessa política sob o governo Biden não redoçou os laços esperados; ao contrário, fomentou um ciclo de aumentos nas tensões.
A Ascensão e Resiliência do "Eixo de Resistência"
A reconfiguração do cenário começou a se desenhar com os ataques do Hamas, que resultaram em uma guerra devastadora em Gaza, interrompendo progressos nas normalizações entre Israel e as monarquias do Golfo. O "eixo de resistência", sustentado pelo Irã, mostrou-se pronto para confrontar Israel, levando a uma nova fase de conflitos armados. Antecipando uma escalada, os EUA tentaram promover uma aliança de segurança entre Israel e os Estados do Golfo, porém, estes relutaram em se envolver diretamente.
O Papel das Potências Regionais
Diante do novo panorama, as potências da região, incluindo Arábia Saudita, Emirados e até mesmo Turquia, necessitam de uma nova abordagem. Historicamente, nenhuma delas desejou permitir que um único ator se estabelecesse como a potência suprema do Oriente Médio. O fortalecimento do poder israelense levou os Estados árabes a buscarem sua própria posição de influência. Com o Irã buscando estabilizar suas relações e com a disposição dos EUA de mediar um novo acordo nuclear, a emergente parceria entre as monarquias do Golfo e Teerã pode ser o caminho a seguir.
Oportunidades para um Novo Acordo Nuclear
O apoio dos países do Golfo a um novo acordo nuclear com o Irã é um sinal positivo. Eles reconhecem que um acordo pode criar um ambiente de confiança e levar a um maior engajamento em áreas de cooperação, comércio e segurança. Essa aproximação de interesses entre Irã e os Estados árabes contrasta fortemente com a posição de Israel, que ainda busca a dominação militar na região.
- Benefícios de um Acordo Nuclear:
- Aumento da confiança entre os países do Golfo e Irã.
- Possibilidade de uma cooperação em segurança e comércio.
- Estabilização do ambiente econômico na região.
Um Caminho para a Estabilidade Regional
O recente encontro de Trump com os líderes do Golfo reflete essa nova realidade. O que antes era uma política focada em Israel agora está se moldando para incluir suavizações em relação ao Irã, ao mesmo tempo que Trump nota as preocupações em torno das crises humanitárias, como a de Gaza.
Para que essa nova configuração traga a paz tão almejada, o envolvimento dos EUA na busca por um acordo nuclear com o Irã precisa ser mais estratégico e considerar as preocupações da Arábia Saudita e dos Estados do Golfo. O avanço nos laços entre Israel e os países árabes também precisará estar acompanhado de esforços para resolver a questão palestina.
Com o Ocidente e as potências do Oriente Médio em um momento de reflexões, a possibilidade de um novo pacto nuclear pode não apenas redefinir as relações entre os atores da região, mas também oferecer uma chance de estabilidade, evitando um caminho de conflito militar que apenas reencontraria o passado tumultuado.
Por fim, a habilidade dos países do Golfo de ser mediadores nesta situação, evitando serem arrastados para um confronto militar, pode ser a chave para um futuro mais promissor no Oriente Médio, onde agora todos buscam um equilíbrio que promova a paz e a segurança. Que novos acordos e alianças venham a surgir, permitindo que o Oriente Médio encontre seu caminho em direção à estabilidade e ao desenvolvimento.
Agora, o que você acha desta nova dinâmica no Oriente Médio? Como você percebe o papel do Irã e dos países do Golfo nesse cenário? Compartilhe suas opiniões e vamos discutir juntos!