domingo, julho 20, 2025

Fraude nas Americanas: Reflexões sobre Controles, Sistemas e Confiança

Recentemente, o mercado brasileiro foi surpreendido por um dos maiores escândalos corporativos de sua história: o caso das Americanas. O impacto foi tão significativo que o episódio já começa a ser comparado a grandes fraudes mundiais, como a de Bernie Madoff e o colapso da FTX no universo cripto. Mas a pergunta que muitos fazem é: o que é pior – a fraude da FTX ou a das Americanas?

Minha resposta rápida é que a fraude das Americanas é uma surpresa muito maior.

Por que a fraude das Americanas é tão impactante?

Enquanto o caso da FTX ocorreu em um mercado ainda desregulado, com poucas regras e supervisão, as Americanas operam em um dos mercados mais regulados do mundo. A empresa está sujeita a um robusto sistema de controles que inclui auditorias independentes, normas rígidas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e padrões de autorregulação, além da supervisão de bancos e intermediários financeiros.

O caso FTX, apesar de chocante, já era algo que o mercado cripto sabia ser possível, dado o ambiente “faroeste” que ainda predomina nesse setor. Por outro lado, o escândalo das Americanas é um duro golpe na confiança no mercado financeiro tradicional, que, em tese, deveria ser muito mais robusto contra fraudes desse tipo.

O padrão das fraudes: pequenos desvios que se tornam insustentáveis

Apesar das diferenças entre os casos de Madoff, FTX e Americanas, eles compartilham um mesmo roteiro. Tudo começa com um pequeno desvio, um “passo para o lado negro da força”, que parece inofensivo no início, mas que, com o tempo, cresce de forma incontrolável.

  • Madoff: começou com um erro pequeno, encobrindo perdas de US$ 30 mil, mas o esquema de pirâmide cresceu a proporções inimagináveis.
  • FTX: transferências iniciais para a Alameda Research foram apenas o início de uma cascata de desmandos financeiros.
  • Americanas: práticas contábeis heterodoxas, como omissão de dívidas bilionárias em balanços, ilustram como pequenos ajustes podem levar a um colapso.

Uma vez que esses desvios são aceitos e carimbados como “corretos”, eles ganham vida própria. O resultado inevitável é a explosão de uma crise.

A confiança no sistema de controles foi abalada

O caso das Americanas levanta sérias dúvidas sobre a eficácia do sistema de controles e supervisão. Como uma fraude bilionária conseguiu passar despercebida por auditores independentes, reguladores e intermediários financeiros?

Essa falha não é apenas técnica, mas também comportamental. Muitas vezes, há uma terceirização da análise para outros agentes – acreditando-se que alguém, em algum lugar, já fez o trabalho corretamente. Isso cria brechas para vieses perigosos, como:

  • Confiança excessiva no histórico da empresa: Afinal, as Americanas sempre foram vistas como uma gigante sólida do varejo brasileiro.
  • Empatia e influência dos donos: Grandes figuras empresariais podem inibir questionamentos mais incisivos.
  • Cegueira coletiva: Quando uma empresa cresce muito, pressupõe-se que os controles estão à altura.

Esses fatores levaram à negligência de processos que deveriam ser seguidos rigorosamente.

Regulação e tecnologia: aprendendo com o mercado cripto

Se o mercado tradicional falhou, o mercado cripto nos oferece lições valiosas – não pela ausência de regulação, mas pelas tecnologias emergentes que podem reforçar controles. O uso de blockchain, inteligência artificial e sistemas descentralizados tem o potencial de criar ambientes mais transparentes, auditáveis e menos sujeitos a fraudes.

Por outro lado, a ausência de regras claras no mercado cripto também é um alerta. Sem supervisão mínima, cria-se um ambiente de risco desnecessário, como foi o caso da FTX. A solução está no equilíbrio: avançar na regulação sem sufocar a inovação tecnológica.

Processos robustos como a base para evitar fraudes

Independentemente de ser no mercado tradicional ou no universo cripto, uma coisa é certa: fraudes são, em sua essência, falhas humanas e de processos. Sistemas robustos e definidos ajudam a mitigar vieses, garantindo maior rigor nas análises.

Como investidores, devemos adotar o mantra do mercado cripto: “DYOR” – Do Your Own Research. Ou seja, faça sempre sua própria pesquisa e siga um processo estruturado para evitar ser levado por narrativas ou emoções.

Conclusão

O caso das Americanas é um chamado para reflexão. Se, por um lado, evidenciou fragilidades no sistema de controles tradicional, por outro, reforçou a necessidade de buscar soluções que combinem tecnologia, regulação e supervisão.

Seja no mercado tradicional ou cripto, a confiança é um ativo precioso que leva anos para ser construído – e segundos para ser destruído. O caminho para um futuro financeiro mais seguro passa por aprender com essas lições e implementar melhorias contínuas. Sigamos atentos e comprometidos com a construção de sistemas mais sólidos e confiáveis.

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