
REUTERS/Adriano Machado
Com a COP30 oficialmente iniciada nesta segunda-feira (10) em Belém, a expectativa gira em torno das discussões fundamentais que envolvem mais de 190 países. As duas semanas da cúpula da ONU prometem debates acalorados, mas o que exatamente será abordado ainda permanece incerto.
Os Desafios à Vista
Um dos grandes pontos de dúvida é como as nações participantes irão enfrentar questões delicadas. A promessa de 2023 de eliminar fontes de energia poluentes e os pedidos urgentes por financiamento são tópicos sensíveis. Porém, a maior incerteza paira sobre a possibilidade de um consenso que leve a um acordo final. Este desafio se intensifica em um ano marcado por um cenário político global tumultuado, especialmente com as ações dos EUA que dificultam a transição para energias mais limpas.
Alguns países, notadamente o Brasil, têm sugerido que a cúpula se concentre em iniciativas menores que não necessitem de um consenso amplo. Após anos de promessas grandiosas em cúpulas anteriores, muitos se sentem céticos em relação à sua efetividade.
“Pessoalmente, prefiro não necessitar de uma decisão final na COP”, expressou o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, em uma entrevista à Reuters e a outros meios de comunicação. “Mas, se houver um desejo claro por uma decisão, certamente estaremos prontos para discutir.”
A Nova Dinâmica das Negociações
Corrêa do Lago também ressaltou a crescente importância da China nas conversações, especialmente neste contexto em que os Estados Unidos se preparam para deixar o Acordo de Paris em janeiro. A União Europeia, por sua vez, luta para manter suas metas ambiciosas enquanto enfrenta preocupações com a segurança energética.
“Os países emergentes, incluindo a China, estão assumindo um papel diferente nesta cúpula. A China está trazendo soluções inovadoras”, pontuou Corrêa do Lago, crucial na transição energética global com suas tecnologias verdes acessíveis.
“Há uma preocupação crescente de que a China esteja dinamizando a economia global, mas isso é positivo para o meio ambiente”, concluiu.
A Voz dos Povos Indígenas
Um ponto significativo nesta cúpula é a presença de líderes indígenas, que chegaram de barco após uma longa jornada de 3.000 km dos Andes até o Brasil. Eles reafirmam a necessidade de serem ouvidos nas decisões sobre a gestão de seus territórios, especialmente com a intensificação das mudanças climáticas e as práticas de exploração como mineração e extração de petróleo nas florestas.
“Queremos assegurar que não mais promessas vazias sejam feitas, mas sim ações concretas para proteger nossos territórios. Nós, como povos indígenas, somos os mais afetados pelas mudanças climáticas”, afirmou o líder indígena peruano Pablo Inuma Flores, que expressou sua preocupação com os impactos da mineração ilegal e vazamentos de petróleo.
Cientistas Soam o Alarme
Antes do início da cúpula, cientistas de várias partes do mundo, incluindo Japão, África do Sul e Reino Unido, manifestaram sua preocupação com o degelo acelerado das geleiras e outras áreas congeladas. Uma carta enviada à COP30 adverte:
- A criosfera está se deteriorando em um ritmo alarmante.
- Interesses geopolíticos não devem obscurecer a importância da mudança climática como um dos maiores desafios de segurança do nosso tempo.
O Que Esperar da Agenda da COP30
Um dos primeiros pontos a serem discutidos na COP30 será a votação da agenda. Corrêa do Lago revelou que os países têm debatido há meses sobre os tópicos a serem incluídos, um processo que ele descreveu como uma troca saudavelmente divergente de priorizações.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou sua esperança de que as nações considerem um plano para a desapropriação gradual dos combustíveis fósseis.
“Como poderemos alcançar isso? Haverá um consenso sobre esse processo? Essa é uma das grandes incógnitas da COP30,” analisou Corrêa do Lago.
Além disso, questões sobre como os países podem reduzir suas emissões de forma ainda mais eficaz devem ser tratadas, uma vez que os planos atuais estão aquém do necessário para evitar um aquecimento extremo. Até a manhã de segunda-feira, 106 governos haviam submetido novas propostas climáticas, e outros países, como Coreia do Sul e Índia, devem apresentar suas propostas ao longo da semana.
O Foco nas Emissões Agrícolas
Este ano, um tópico inédito que pode ganhar destaque é a preocupação com as emissões do setor agrícola. Historicamente negligenciado, este assunto é crucial, pois as práticas agrícolas e de pecuária são fundamentais para a segurança alimentar e a subsistência em muitos países.




