sexta-feira, novembro 21, 2025

Como a IA Está Revolucionando a Guerra da Desinformação: O Que Você Precisa Saber


A Nova Era da Desinformação: Como a Inteligência Artificial Transforma a Guerra da Informação

Em junho, uma mensagem inesperada chegou, via Signal, ao celular de um ministro das Relações Exteriores europeu. O remetente se apresentou como Marco Rubio, Secretário de Estado dos EUA, e dizia ter um pedido urgente. Logo depois, outros políticos, incluindo dois ministros de outros países, um governador dos EUA e um membro do Congresso, também receberam a mesma comunicação, complementada por um sofisticado áudio que imitava a voz de Rubio. Embora parecesse oficial, era uma fraude habilidosamente criada com inteligência artificial, conhecida como deepfake. Se a farsa não tivesse sido desmascarada, as consequências poderiam ter sido alarmantes, comprometendo a diplomacia americana e expondo informações confidenciais.

A Nova Face da Manipulação

Esse evento é apenas um pequeno exemplo do potencial dos atacantes mal-intencionados, que agora utilizam a inteligência artificial (IA) para realizar operações de desinformação em uma escala sem precedentes. Em agosto, pesquisadores da Universidade de Vanderbilt revelaram que uma empresa chinesa, chamada GoLaxy, havia construído perfis de dados de pelo menos 117 legisladores americanos e mais de 2.000 figuras públicas. Esses perfis podem ser usados para criar personas falsas altamente convincentes, permitindo campanhas de mensagem direcionadas que atingem as nuances psicológicas dos seus seguidores. GoLaxy demonstrou essa técnica em campanhas paralelas em Hong Kong e Taiwan, com o intuito de disseminar milhões de mentiras personalizadas para um vasto público.

Discorrendo sobre o tema, a desinformação não é um problema novo; no entanto, a IA acelerou a capacidade de criação de narrativas convincentes e ataques brutalmente eficazes, permitindo que isso ocorra de forma econômica e em larga escala. A resposta dos EUA a essa nova era de desinformação tem sido, no mínimo, insuficiente. A administração Trump reduziu as defesas contra a manipulação de informações estrangeiras, deixando o país vulnerável a esse tipo de ataque. Sem um investimento renovado em instituições e expertise para combater essa nova forma de guerra da informação, a confiança pública nas instituições democráticas pode desmoronar lentamente.

A Revolução da Informação e Seus Desafios

Historicamente, muitos defensores da democracia viam a circulação de informações como uma força positiva. O ex-presidente dos EUA, Barack Obama, por exemplo, expressou essa crença em 2009, ao afirmar que a livre circulação de informações fortalece as sociedades e permite que os cidadãos responsabilizem seus governos. No entanto, as redes sociais revolucionaram a forma como informações são disseminadas, levando a uma maior polarização e à criação de “câmaras de eco” online que distorcem visões e intensificam divisões sociais.

Nos últimos anos, a linguagem sobre essas ameaças se intensificou. O presidente francês Emmanuel Macron declarou que a Europa foi “incrivelmente ingênua” ao confiar suas democracias a redes sociais controladas por grandes empresas americanas ou chinesas. O cientista político Francis Fukuyama citou o espaço público online como um sistema que premia o sensacionalismo, prejudicando as bases da democracia.

O Impacto da IA na Guerra da Informação

O avanço da inteligência artificial lançou novas luzes sobre essa batalha. Nos últimos anos, combater a influência maligna estrangeira se assemelhou a perseguir navios de guerra em um jogo de combate naval. Tempos atrás, potências como China e Rússia utilizavam grandes canais de mídia estaduais e perfis falsos em redes sociais para propulsionar narrativas desestabilizadoras. Hoje, no entanto, o cenário mudou, e a guerra da informação assemelha-se mais a um ataque com drones autônomos: a personalização de mensagens e a adaptabilidade se tornaram muito mais refinadas e baratas.

As operações de propaganda, outrora limitadas pela necessidade de recursos humanos, agora podem ser executadas por algoritmos alimentados por IA. A rapidez e sofisticação que a IA permite tornam os métodos de espionagem e influência acessíveis a qualquer ator, comprometendo a coesão social e a eficácia das decisões governamentais. A arena digital se tornou um verdadeiro campo de batalha onde indivíduos e governos podem ser atacados sem que o agressor precise deixar seu território.

Exemplos de Estratégias Maliciosas

O uso de inteligência artificial para coletar informações e alimentar desinformação está se espalhando pelo mundo. No El Salvador, por exemplo, o presidente Nayib Bukele combina seu aparato de propaganda estatal com ferramentas de IA, incluindo redes de bots. Isso não apenas promove o investimento estrangeiro, mas também ajuda a esconder críticas internacionais sobre o retrocesso democrático do país.

A inteligência artificial é usada também para aumentar a instabilidade. A OpenAI, responsável pelo ChatGPT, removeu contas ligadas a atores chineses que usavam IA para criar perfis falsos e postagens polarizadoras, com o objetivo de acirrar as divisões políticas nos EUA. A coleta de dados pessoais permitiu que esses atores aprimorassem suas táticas e se tornassem mais eficazes.

Na Índia, a desinformação gerada por IA resultou no aumento de tensões inter-religiosas, alimentando ameaças e violência contra minorias. Em Sudan, a clonagem de vozes em redes sociais como TikTok tem sido usada para disseminar informações enganosas sobre líderes políticos, piorando a já complicada situação de guerra civil no país.

Um dos exemplos mais evidentes do poder da IA para perturbar ocorreu na Romênia, onde as eleições presidenciais de 2024 foram ofuscadas por uma campanha de desinformação ligada à Rússia. Essa operação utilizou deepfakes e contas de bots para manipular a presença online de candidatos, colocando em xeque a legitimidade do processo eleitoral.

Um Tempo de Vulnerabilidade e a Necessidade de Mudanças

Mesmo com a crescente gravidade da situação, os Estados Unidos estão mais vulneráveis a guerras de informação do que nunca. Durante o final da administração Obama, o governo começou a fortalecer suas habilidades de identificação e combate a campanhas de desinformação, criando o Centro de Engajamento Global. Esse centro se dedicou a monitorar e lidar com manipulações estrangeiras, mas as dificuldades em acompanhar os avanços das táticas de desinformação continuam.

A administração Biden fez alguns progressos, como a criação de um programa voltado para expor e interromper campanhas russas na África e na América Latina. No entanto, a administração Trump reverteu muitos dos ganhos, desmantelando instituições essenciais que desempenhavam papéis cruciais no combate a influência maligna.

Essa desarticulação não é apenas imprudente, mas também perigosa, permitindo que adversários sigam suas campanhas sem resistência. Com novos projetos como o “Sovereign Media” surgindo, que prometem combater a censura, a falta de supervisão pode permitir que narrativas enganosas se espalhem descontroladamente, especialmente quando a IA torna mais difícil distinguir entre fatos e falsidades.

Rumo a uma Nova Estratégia

A situação é complexa, com adversários dos EUA investindo pesadamente em campanhas de desinformação e os avanços tecnológicos trazendo novos desafios. Uma defesa séria deve englobar inovação tecnológica e reestruturação institucional. É imperativo que os EUA se unam a aliados e implementem uma abordagem abrangente, revitalizando as iniciativas de monitoramento de desinformação.

Um decreto de segurança nacional poderia esclarecer que a influência maligna amplificada por IA é uma ameaça clara e presente. Essa ação mobilizaria a comunidade de inteligência a realizar avaliações exaustivas das capacidades de desinformação dos adversários, priorizando a coleta de informações sobre as ameaças mais críticas.

Uma colaboração robusta entre os setores público e privado é vital. A criação de canais formais com plataformas de redes sociais e laboratórios de pesquisa de IA ajudaria a compartilhar informações sobre ameaças específicas e desenvolver tecnologias para detectar conteúdo gerado por IA.

O Caminho a Seguir

É fundamental agir para proteger a conversação livre nos Estados Unidos, especialmente agora que as eleições de meio de mandato de 2026 se aproximam. Se as medidas necessárias não forem tomadas, as campanhas sutis de influência de adversários podem comprometer a democracia que tanto valorizamos.

As ações não apenas visam proteger a liberdade de expressão, mas também assegurar que a verdade não se perca em meio à tempestade de desinformação. O momento de agir é agora. É essencial encontrar caminhos que garantam um debate saudável, longe das distorções colocadas em nosso caminho por aqueles que se beneficiam da confusão. O futuro da democracia americana depende disso.

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