sexta-feira, novembro 21, 2025

Desvendando a Nova Desigualdade do Soft Power: Uma Revolução Silenciosa nas Relações Internacionais


O Efeito da Retirada Americana na Influência Global: Uma Nova Era para a China?

Desde que iniciou seu segundo mandato, Donald Trump tem promovido mudanças drásticas nas estratégias tradicionais de poder suave dos Estados Unidos. A partir da desativação da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e das batalhas legais que cercam a Voice of America, até a redução drástica do pessoal do Departamento de Estado e a implementação de políticas de imigração mais restritivas, a imagem do país como um destino acessível e atrativo para visitantes internacionais tem sofrido. Essa mudança de postura já seria suficiente para despertar preocupações sobre a confiança global em Washington, um sentimento que foi resumido pelo ex-funcionário da OTAN, Jamie Shea, em uma declaração ao The New York Times, onde ele a chamou de “suicídio do poder suave” americano.

A Oportunidade da China

Muitos analistas têm observado que a perda de influência dos EUA pode muito bem ser uma oportunidade de ganho para a China. Joseph Nye, o acadêmico que introduziu o conceito de poder suave, alertou que a China “está pronta para preencher o vácuo que Trump está criando”. Yanzhong Huang, um estudioso do Conselho de Relações Exteriores, fez eco a essas preocupações, afirmando que as ações do governo Trump têm “potencializado a ofensiva charmosa da China”.

Entretanto, a competição por poder suave entre os EUA e a China não é uma busca de soma zero. Na verdade, os dois países adotam abordagens diferentes na construção de sua influência:

  • A China tende a atrair nações oferecendo benefícios pragmáticos.
  • Os Estados Unidos, por sua vez, historicamente fundamentaram seu apelo em ideais e valores universais.

Assim, países, especialmente aqueles do chamado Sul Global, têm percebido as ofertas de ambos como complementares, optando por aceitar o que cada um tem a oferecer em vez de se forçar a escolher entre um ou outro.

Achina em Ascensão?

Nos últimos três anos, especialmente desde a reeleição de Trump, a posição relativa da China tem melhorado. Enquanto os EUA se retraem, a China é vista como um parceiro mais acessível e confiável. No entanto, isso não a transforma automaticamente em uma líder global em termos de poder suave. Apesar de seu foco em ofertas pragmáticas, Pequim não ampliou sua ajuda internacional a países de baixa renda e não parece disposta a preencher a lacuna deixada pela USAID. Em vez disso, a China está mais cautelosa em suas promessas, inclusive reduzindo a ajuda em alguns casos.

O Paradoxo da Ajuda Chinesa

A ajuda chinesa, embora ainda presente, tem diminuído. Um bom exemplo disso foi a cúpula entre a China e a Comunidade de Estados da América Latina e das Caraíbas, onde Pequim prometeu $9,2 bilhões em crédito — significativamente menor do que o que ofereceu na mesma cúpula em 2015, quando o montante foi de $20 bilhões. Esse padrão se repetiu em outras reuniões, refletindo uma estratégia de “projetos pequenos e bonitos” que busca reduzir a sobrecarga de empréstimos a países já endividados.

Diferenças na Interpretação do Poder Suave

As interpretações chinesas de poder suave diferem da definição tradicional de Nye, que enfatiza cultura e valores. Na visão de Pequim, o poder cultural se entrelaça com o poder material, e seu modelo de desenvolvimento econômico se torna uma ferramenta de influência. Durante interações com países em desenvolvimento, os líderes chineses costumam enfatizar:

  • O benefício econômico mútuo.
  • Uma nova visão de direitos humanos, focando em bens materiais e bem-estar econômico em vez de liberdade política.

Por exemplo, a diplomacia chinesa muitas vezes é acompanhada de projetos de infraestrutura e programas educacionais, atraindo milhares de estudantes e profissionais para o país. Esse aspecto pragmático é difícil de ser igualado pelas abordagens mais ideológicas dos EUA, particularmente à medida que esses últimos estão se afastando de sua promoção de valores democráticos.

O Desafio Chinês de Proposta

Embora os Estados Unidos tenham diminuído sua promoção de valores democráticos, o que poderia abrir espaço para a China propagar uma alternativa ideológica, Pequim tem hesitado em se comprometer totalmente. Sua abordagem se concentra mais em críticas à hegemonia ocidental, sem fornecer um modelo claro ou inspirador de governança a ser “exportado”.

Ao falar com líderes africanos, por exemplo, os diplomatas chineses ressaltam a benevolência de sua política, contrastando-a com a intervenção dos EUA. Contudo, essa mensagem fica aquém do que muitos países esperam: um plano claro de como se beneficiar do modelo de governança chinês.

A Popularidade Cultural e Seus Limites

Apesar dos desafios, a China tem visto um aumento em sua influência cultural, com produtos como os bonecos Labubu e o filme animado Ne Zha 2 tornando-se populares em vários mercados internacionais. Essa presença cultural pode aumentar a simpatia global em relação aos valores e princípios de governança chineses.

Entretanto, é importante ressaltar que a popularidade econômica da China não se traduz necessariamente em confiança em sua liderança global. Uma pesquisa do Pew Research Center revelou que a maioria das pessoas continua a não confiar em líderes chineses em arena internacional.

Medindo o Poder Suave

Avaliar o poder suave é complicado, mas pesquisas de opinião têm mostrado que a China está vendo um leve aumento na percepção positiva desde a reeleição de Trump, embora essa imagem varie significativamente em diferentes regiões. Enquanto países na África e América Latina tendem a olhar favoravelmente para Pequim, o mesmo não pode ser dito para muitas nações da Ásia-Pacífico e Europa, onde as preocupações sobre segurança ainda prevalecem.

O Futuro do Poder Suave na Relação EUA-China

Apesar de Pequim ocupar um espaço mais visível na arena internacional em função da retração americana, não se pode afirmar que a China esteja explorando todo seu potencial na construção de um poder suave. A abordagem conservadora que adota pode ser estratégica, visando evitar sobrecargas financeiras e mantendo uma imagem de respeito entre nações em desenvolvimento.

Por fim, a competição pelo poder suave entre os Estados Unidos e a China será um tema central nas próximas décadas. A narrativa em torno dessa competição não apenas moldará a política global, mas também ajudará a definir os contornos do futuro na era da conectividade e dependência mútua. Refletir sobre essas dinâmicas pode nos ajudar a entender melhor os desafios e as oportunidades que surgirão neste novo cenário mundial.


Agora, mais do que nunca, é essencial que compartilhemos e discutamos essas questões, mirando um engajamento construtivo que nos ajudará a navegar por essas águas complexas. O que você pensa sobre a crescente influência da China? Deixe seus comentários e vamos continuar essa conversa!

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