E agora?
Após um resultado que surpreendeu a muitos, Donald Trump reassumiu a presidência, derrotando a vice-presidente Kamala Harris em uma das eleições mais dispendiosas da história americana. “A América nos concedeu um mandato inédito e poderoso”, proclamou Trump para uma plateia eufórica em sua sede de campanha em Mar-a-Lago. Sua vitória — que abarcou a preferência dos principais grupos demográficos de eleitores e possibilitou a recuperação do Senado pelos republicanos — promete impactos significativos na economia dos EUA e no cenário corporativo, tanto a nível nacional quanto internacional.
As bolsas de valores e ativos como criptomoedas estão em alta, alimentados pela expectativa de um governo mais favorável ao setor empresarial. (Mais detalhes logo abaixo.) Contudo, o retorno de Trump também sugere uma nova dinâmica entre os vencedores do mundo corporativo, junto com mudanças que podem transformar a política fiscal e a regulamentação federal.
O que podemos esperar a seguir?
Menos carga regulatória para as empresas
Uma parte significativa da alta verificada em ações e criptomoedas se origina da crença de que uma nova administração Trump resultará em um relaxamento das regulamentações, especialmente em setores como energia, finanças e moedas digitais. Com o apoio de um Senado republicano, e possivelmente da Câmara, espera-se que Trump prorrogue os cortes de impostos de 2017 direcionados a empresas e aos mais ricos, que estão programados para expirar no próximo ano. Resta saber se ele implementará medidas mais amplas, como a eliminação de impostos sobre gorjetas e horas extras, ou um corte geral nos impostos de renda.
Desafios e incertezas
Entretanto, existem questões complexas à vista:
- Como lidará com o movimento antitruste? Muitos executivos esperavam que uma administração republicana revertesse os esforços da atual administração Biden para aumentar as normas de concorrência. Contudo, JD Vance, o vice de Trump, demonstrou apoio a Lina Khan, a presidente da F.T.C., reconhecendo seu trabalho no combate aos gigantes da tecnologia que têm sido criticados por conservadores. É incerto como a abordagem atual se refletirá em uma nova gestão.
- Trump dará poder político a Robert F. Kennedy Jr.? O presidente eleito indicou que Kennedy, um aliado importante com opiniões polêmicas sobre saúde pública e alimentação, poderá ter liberdade para agir na área da saúde. Trump já manifestou disposição em discutir alterações em políticas relacionadas ao flúor na água potável e destaca que grupos do agronegócio têm pressionado por mudanças nas regulamentações sobre pesticidas.
Uma atitude cautelosa das empresas
Embora Trump tenha se vangloriado de estabelecer diálogos com CEOs de grandes empresas como Sundar Pichai (Alphabet), Tim Cook (Apple) e Mark Zuckerberg (Meta), observa-se que muitos líderes corporativos mostram-se cautelosos. A resistência de ex-líderes a se opor publicamente à campanha de Trump contrasta com o silêncio dos CEOs atuais, incluindo figuras conhecidas, que temem possíveis retaliações.
O futuro do Fed é incerto
Trump frequentemente expressou que o presidente deveria ter um papel mais ativo nas decisões do Fed, especialmente em relação às taxas de juros. Não está claro se ele possui a autoridade para alterar a independência do banco central ou demitir Jay Powell, porém, seu retorno ao poder certamente poderá desviar a política do Fed.
Um ex-conselheiro econômico de Trump, Scott Bessent, chegou a sugerir a criação de uma presidência “sombra” que minaria a autoridade de Powell — uma ação que pode desestabilizar os mercados, segundo críticos.
Novas guerras comerciais a caminho?
Trump tem manifestado apoio a tarifas expansivas, apresentando-as como uma estratégia para incentivar a indústria nacional e penalizar aliados e concorrentes. A China e países europeus já estão se preparando para as repercussões que podem advir disso. Os mercados, por sua vez, parecem acreditar que a retórica da campanha não necessariamente se traduzirá em política efetiva.
Preocupações com a saúde fiscal
Especialistas alertam que a agenda de Trump pode levar a um aumento considerável na dívida federal, o que pode influenciar a dinâmica dos mercados de títulos e o que é possível alcançar economicamente em sua segunda administração. Larry Fink, da BlackRock, argumentou que os EUA precisam de um crescimento econômico anual de pelo menos 3% nos próximos cinco anos para manter a relação dívida/PIB estável.
O impulso pós-eleitoral
Os mercados globais estão sendo dominados pelo “comércio Trump”. As preocupações dos investidores quanto a uma eleição contestada foram superadas pela confiança de que o retorno de Trump à presidência resultará em menos regulamentação e redução de impostos corporativos, elevando, assim, os lucros.
Entretanto, os fluxos de capital estão evidenciando uma nova ordem mundial de vencedores e perdedores. As ações de bancos e empresas de energia estão em alta, enquanto as ligadas à transição energética enfrentam quedas. Setores de transporte já são afetados pelas incertezas de uma possível guerra comercial, e a venda de títulos do governo dos EUA está em ascensão.
Destaques do dia
Os futuros do mercado estão disparando, e o S&P 500 pode abrir em novos patamares históricos. O Bitcoin alcançou novos recordes, enquanto a demanda por criptomoedas cresce com a expectativa de um governo Trump amigável. O dólar se aprecia frente a moedas internacionais, como o euro e o peso mexicano, que temem ser impactados por tarifas.
Os ventos a favor:
- A Tesla de Elon Musk viu suas ações subirem quase 12%, enquanto a Trump Media & Technology teve um aumento impressionante de 37% nas negociações pré-mercado.
- O índice Russell 2000, comumente favorável a investidores do comércio Trump, registrou um crescimento de mais de 5% nas negociações iniciais.
- O Bitcoin ultrapassou os US$ 75 mil, enquanto as ações da Coinbase, um importante doador corporativo nesta eleição, também dispararam, ao lado das da Argo Blockchain.
Alguns desafios:
- A Maersk, gigante do transporte marítimo, viu suas ações despencarem mais de 5%.
- Vestas Wind Systems e RWE, duas proeminentes companhias europeias de energia renovável, sofreram perdas acentuadas devido a incertezas sobre a futura política energética.
- Os rendimentos dos títulos do Tesouro subiram, aumentando os temores de que a agenda econômica de Trump possa acelerar a inflação e prejudicar o crescimento global.
Os olhos se voltam agora para os bancos centrais, especialmente com a reunião do Fed em andamento, onde se definirá a taxa de juros. Uma política mais protecionista pode alterar as dinâmicas em termos de câmbio, inflação e crescimento econômico.
O mercado de futuros desvalorizou ligeiramente as possibilidades de redução das taxas do Fed para o próximo ano, enquanto analistas preveem que o Banco Central Europeu acelere seus cortes.
Musk, czar do governo?
Um dos grandes vencedores do processo eleitoral, Elon Musk, investiu mais de 100 milhões de dólares e transformou suas postagens em um poderoso megafone para a campanha de Trump. Em seu discurso de vitória, Trump ressaltou a importância de Musk, chamando-o de “uma estrela que nasceu”.
Qual será o destino desse poder recém-adquirido? Trump tem reiterado que Musk terá amplo poder de influência caso ele ganhe, especialmente em relação ao orçamento federal. Musk brincou sobre a criação do que chamaria de “Departamento da Eficiência Governamental” — uma referência a memes populares.
Contudo, a DealBook levanta algumas questões sobre essa aliança:
- Qual será o papel de Musk nas políticas sobre veículos elétricos e inteligência artificial? Trump sinalizou que pode eliminar os subsídios para compra de veículos elétricos, o que prejudicaria a Tesla e outras montadoras que estão em processo de eletrificação.
- Como uma parceria entre Trump e Musk afetará a política comercial com a China? Trump é conhecido por sua postura agressiva em relação à China, exigindo tarifas elevadas, mas o crescimento da Tesla depende de uma relação favorável com o país.
- E o futuro do X? O Trump Media & Technology Group, responsável pela Truth Social, está valorizado com a expectativa de que a vitória de Trump trará estabilidade e fluxo de receita. Isso poderia, no entanto, impactar a situação de X, que já enfrenta dificuldades financeiras desde a aquisição de Musk.
“Parabéns, @realDonaldTrump. Você venceu de forma justa. Felicitações também a @elonmusk. #Godspeed” — Mark Cuban, empreendedor tecnológico e ex-apoiante da vice-presidente Kamala Harris.
Uma grande noite para os mercados de previsão
Os mercados de previsão, como Polymarket, Kalshi e PredictIt, ofereceram aos apostadores a oportunidade de prever os resultados das eleições, destacando-se por sua capacidade de refletir a realidade mais rapidamente que as pesquisas. Com a vitória clara de Trump, essas assertivas ganharam substância.
“Fizemos história hoje”, escreveu Shayne Coplan, CEO da Polymarket, ao afirmar que a sede da campanha de Trump percebeu a vitória pelas análises do Polymarket.
As odds dos mercados de previsão mostraram Trump com maior probabilidade de vencer do que uma moeda ao chegar ao Dia da Eleição, refletindo um consenso de expectativas que se concretizou quando as urnas fecharam.
Esses mercados começaram a captar as chances de vitória de Trump semanas antes da eleição, mesmo quando as pesquisas apresentavam a disputa como acirrada. O interesse por esses mercados está crescendo, com iniciativas de plataformas como Interactive Brokers e Robinhood para estabelecer suas próprias opções de apostas políticas.
A Polymarket está em busca de uma rodada de captação de 50 milhões de dólares que a avaliaria em 300 milhões. Portanto, todos aguardam ansiosamente como os tribunais decidirão sobre a legalidade das apostas em eleições nos EUA.
*c.2024 The New York Times Company*
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