O Impacto das Eleições Americanas nas Democracias Globais: Refletindo sobre o Futuro
Desde o início deste notável "ano eleitoral" em todo o mundo, torna-se evidente que nenhuma eleição é tão crucial para moldar o futuro das democracias globais quanto a disputa presidencial nos Estados Unidos. Em diversos países, independentemente da orientação política, as pessoas que valorizam a liberdade, a democracia e o Estado de Direito, incluindo líderes governamentais, ativistas civis, empresários e cidadãos comuns, observam com crescente preocupação a polarização política nos EUA, enquanto Donald Trump se aproxima de uma possível reconquista da Casa Branca. A vitória de Trump nesta eleição não apenas levantou preocupações sobre o rumo da democracia americana, mas também deixou aliados e defensores da democracia em todo o mundo inquietos quanto ao futuro de seus próprios sistemas democráticos.
A Ameaça Autocrática e a Reação Global
Nas últimas décadas, o surgimento de regimes autocráticos pelo mundo colocou a democracia em alerta máximo. No último ano, algumas vitórias contra movimentos antidemocráticos acenderam esperanças de reversão dessa "recessão democrática". Entretanto, a vitória de Trump pode ter comprometido essas aspirações, gerando incertezas sobre o papel dos EUA no cenário político global.
Seus opositores se perguntam: um governo de Trump exigirá um maior compartilhamento de responsabilidades dos aliados, ou poderá abandoná-los por completo? Além disso, permanecerá os EUA como uma democracia liberal, ou as instituições do país estarão destinadas a uma erosão irreversível?
O Contexto das Eleições e suas Implicações
Análises preliminares dos resultados eleitorais indicam que a vitória de Trump se deveu, em parte, a questões como a economia e a imigração, e não necessariamente a um apoio explícito às suas tendências autocráticas. No entanto, sua campanha deixou claro que ele não se sentiria obrigado a respeitar normas democráticas globais. Assim como observamos em outras democracias que retrocederam na última década, a proteção das normas democráticas nos EUA dependerá crucialmente das ações de outros líderes e instituições, como o Congresso, as autoridades estaduais e locais, e o sistema judicial. O sucesso ou fracasso em defender a Constituição e o Estado de Direito determinará a trajetória da democracia global nos próximos anos.
A Dinâmica da Democracia Americana
Historicamente, o apoio à disseminação da liberdade e da democracia nos EUA não está atrelado a uma única orientação partidária. Desde os anos 1970, com o foco dos presidentes Jimmy Carter e George W. Bush em direitos humanos, até os avanços democráticos durante os mandatos de Ronald Reagan, George H. W. Bush e Bill Clinton, a proliferação de partidos e movimentos pró-democracia cresceu significativa e transversalmente, independentemente do partido no poder.
Contudo, ao final do segundo mandato de Bush, a trajetória democrática global enfrentou um retrocesso. A intervenção fracassada no Iraque, acompanhada pela crise financeira e a ascensão de rivais autoritários como China e Rússia, favoreceram o fortalecimento de tendências autocráticas. Desde 2006, segundo os indicadores anuais da Freedom House, a liberdade e a democracia vêm decaindo. Líderes populistas, uma vez eleitos, têm usado seu poder para desmantelar instituições democráticas, restringir a liberdade de imprensa e silenciar opositores em várias partes do mundo.
A ascensão de líderes autocráticos, no entanto, não chegou ao fim. Nos últimos dois anos, o cenário global apresentou algumas reviravoltas que reacenderam a esperança nas democracias.
Exemplos de Esperança nas Eleições Recentes
Vários eventos recentes indicam que o retrocesso democrático pode estar próximo de um ponto de virada.
- Brasil: O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou subverter instituições democráticas, mas sua tentativa de reeleição em 2022 foi frustrada.
- Turquia: A oposição quase superou o governo populista de Erdogan, apesar das dificuldades enfrentadas.
- Guatemala: A eleição de Bernardo Arévalo, um reformista anti-corrupção, em 2023, gerou novas possibilidades de mudança democrática.
- Polônia: A vitória da coalizão cívica contra o partido Lei e Justiça foi um sinal alentador em um cenário de autocracia ascendente.
Esses exemplos, embora não resolvam a recessão democrática em todo o mundo, mostram que a resistência ainda é possível.
A Retórica do Angustiado e as Implicações Futuras
À medida que as eleições se aproximavam, as preocupações com a direção que o Partido Republicano tomaria aumentaram. Faria Trump uma campanha fundamentada em valores de unidade e promoção de crescimento econômico, ou optaria por uma abordagem dominada pela intolerância e pela retórica bélica? Sua impressionante vitória nas primárias não impediu que muitos defensores da democracia anseiassem por um retorno a um Republicanismo mais tradicional, semelhante ao de Ronald Reagan.
É importante ressaltar que, apesar de Trump ter conquistado a primária com expressiva margem, sua expressiva votação correspondeu a apenas 10% do total de eleitores registrados. Um levantamento da AP indicou que muitos eleitores apoiaram Trump motivados por ansiedades econômicas, mesmo que internamente reconhecessem suas falhas morais.
O que isso significa para o futuro da democracia americana? Quando os eleitores seguem candidatos que prometem soluções para problemas materiais, frequentemente acabam recebendo uma carga de revanchismo e intimidação que vem acompanhada. A experiência de líderes autocráticos pelo mundo nos ensina que a vitória nas eleições, quando impulsionada por promessas duvidosas, pode resultar em medidas drásticas para silenciar críticos e reconfigurar instituições.
O Chamado à Responsabilidade
Com o cenário político americano sob forte pressão, o cumprimento de uma promessa constitucional por parte dos cidadãos em posições de poder se torna crucial. Para que a democracia liberal não seja esmagada, é necessário que todos, do setor civil ao militar, honrem seu compromisso de defender a Constituição dos EUA.
O que está em jogo não é apenas o futuro dos Estados Unidos, mas o destino das democracias ao redor do mundo. A resiliência da democracia americana será observada de perto e, se houver uma tentativa de subversão democrática sob um segundo mandato de Trump, o impacto pode ser profundo e duradouro.
O Futuro da Democracia Global
À medida que entramos em um novo capítulo, a dúvida sobre a capacidade da democracia americana de resistir a quatro anos de possíveis desafios a seus princípios fundamentais persiste. Como cidadãos e observadores do cenário global, devemos nos perguntar: o que faremos para defender e promover nossos próprios valores democráticos em casa e fora?
Resta saber como a história responderá a esta questão, mas a responsabilidade pela sobrevivência da democracia não pode ser apenas de um único indivíduo ou partido; é um chamado à ação de todos nós.